Um em cada três portugueses receia ser assaltado ou agredido

Sensação de insegurança é mais notória nas mulheres, nos mais velhos e nas classes mais baixas, revela estudo da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. No inquérito 9% disse ter sido vítima de crime nos últimos 12 meses, o valor mais alto desde 2012.
Um em cada três portugueses tem receio de ser assaltado ou agredido, o que representa um aumento de 10 pontos percentuais face a 2023, revelou o Barómetro da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), divulgado esta quarta-feira, 22 de Outubro.
O estudo relativo a 2025 apresenta a percepção de criminalidade e segurança, com base em dados recolhidos em Julho junto de uma amostra de 600 pessoas, através de entrevistas telefónicas.
Os dados do mais recente Barómetro da APAV indicam que 63% dos inquiridos se sente seguro no dia-a-dia e que 60% considera Portugal um país seguro ou muito seguro.
“Mas a estatística tem o dom de esconder as fissuras que atravessam o verniz do quotidiano”, observaram os autores do relatório, segundo os quais a sensação de segurança “tem andado a perder terreno, ainda que de forma silenciosa”.
A sensação de insegurança é mais notória nas mulheres, nos mais velhos e nas classes mais baixas. O país está também mais desconfiado desde a pandemia de Covid-19, com todas as áreas avaliadas a registarem saldos negativos na percepção de segurança, especialmente na Europa, em geral, e na Grande Lisboa.
“Quanto mais longe da nossa rua, mais perigoso parece o mundo. A freguesia e o município são os últimos redutos onde a segurança ainda resiste”, concluíram os autores do trabalho, apresentado na sede da APAV, em Lisboa. Apenas cerca de um em cada 10 considera a zona onde reside insegura ou perigosa.
Mais de metade das vítimas de crime não apresentou queixa
O inquérito demonstrou que 9% dos inquiridos disse ter sido vítima de crime nos últimos 12 meses, “o valor mais alto desde 2012”. Mas mais de metade das vítimas não apresentou queixa, um dado considerado inquietante, já que o principal motivo apontado foi “a falta de confiança na justiça”.
“Este défice de confiança é difícil de erradicar, mesmo entre aqueles que admitem queixas futuras”, lê-se no documento, em que o cibercrime surge como a segunda maior ameaça à segurança, a seguir à criminalidade violenta.
“Portugal é, no papel, um dos países mais seguros da Europa. Mas a perceção de insegurança é uma ferida mais social do que factual. E enquanto ela não cicatrizar, continuaremos a olhar por cima do ombro. Mesmo quando dizemos que está tudo bem”, assume-se no relatório.
O local onde as pessoas se sentem mais seguras é em casa, durante o dia (92%), por oposição aos transportes públicos durante a noite (6%) e aos estádios de futebol e zonas de diversão (11%).O estudo, da responsabilidade da Pitagórica, tem uma margem de erro estimada em cerca de 4%.