Nacional | 25-07-2022 10:53

O sentimento de bem-estar é maior nas zonas com menos população  

FOTO ILUSTRATIVA – FOTO DR

Mais de metade da população vive em 30 dos 278 municípios e em 96% destes, há mais idosos do que crianças.

Portugal tem níveis de bem-estar muito assimétricos, com os territórios de baixa densidade a apresentarem maior satisfação com a sua qualidade de vida, enquanto os seis concelhos mais ricos são também os mais desiguais, revela hoje um estudo. 

O estudo “Territórios de Bem-Estar: Assimetrias nos municípios portugueses”, publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e coordenado por Rosário Mauritti, do ISCTE, identificou em que medida o conceito de bem-estar é influenciado por assimetrias nas condições de vida que caracterizam municípios de Portugal continental. 

À Lusa, Rosário Mauritti explicou que a equipa analisou “a realidade das pessoas e a forma como elas percepcionam e apreciam as suas experiências e sobre elas produzem algum sentimento de satisfação”, a partir de dados do Instituto Nacional de Estatística e casos de estudo. 

Até agora, Portugal tem sido considerado como um todo homogéneo, normalmente em comparação com os restantes países europeus, mas este estudo vem demonstrar que o território do continente português é muito diverso. 

O estudo organizou os municípios do continente em função de características semelhantes, como densidade, estrutura de distribuição das idades das populações, perfil educativo, socioprofissional e de rendimentos, e chegou a cinco grupos: territórios industriais em transição, territórios intermédios, territórios urbanos em rede, territórios inovadores e territórios de baixa densidade. 

A análise teve em conta dimensões associadas ao bem-estar, como os contactos sociais, o equilíbrio entre trabalho e a família, saúde, habitação, segurança, sociedade digital, participação cívica, educação e cultura, trabalho digno e qualidade ambiental. 

“O que nós confirmámos é que o bem-estar não significa o mesmo em todos os lugares, nem para todas as pessoas, mas é possível perceber que os territórios onde vivemos influenciam a forma como nós apreciamos o nosso bem-estar. E percebemos também que não é possível dizer que há territórios que são totalmente bons e territórios que são totalmente maus”, disse Rosário Mauritti. 

Por exemplo, Lisboa, Porto, Coimbra, Alcochete, Oeiras e Cascais são os municípios classificados como territórios inovadores, por serem mais favorecidos e terem níveis económicos próximos da média europeia, onde em geral “as pessoas têm trabalhos muito qualificados e acesso a recursos que compõe aquilo que é a oferta do Estado social”. 

“Nesses territórios há um segmento de população muito específico que vive muito bem e que vive de acordo com padrões que nós podemos considerar, de facto, padrões de uma modernidade muito avançada. Mas esses territórios também são precisamente os mais desiguais, onde há uma maior clivagem nos rendimentos, onde encontramos bacias muito significativas de pobreza associada à diversidade étnica, à diversidade de perfis qualificacionais e, portanto, associados a padrões de rendimentos que também são muito assimétricos”, afirmou, salientando que nestes seis concelhos “é muito difícil às populações conciliarem a sua vida profissional com a vida pessoal e familiar” e “existe maior precariedade”. 

No extremo oposto, estão os territórios de baixa densidade, dos quais fazem parte quase 40% dos municípios portugueses, com apenas 8% da população, caracterizados por níveis de despovoamento, envelhecimento e pelo empobrecimento estrutural. 

No entanto, é nestes territórios que há índices maiores de bem-estar: “As pessoas mais velhas que vivem sozinhas estão mais protegidas” e um indicador objectivo demonstra que a esperança média de vida “tende a ser prolongada”, porque “existem estruturas associativas que são dinamizadas pelas próprias comunidades e que asseguram um apoio de proximidade” que não se consegue obter nas cidades de média ou grande dimensão. 

Os autores acrescentam que os objectivos estratégicos que Portugal definiu para 20/30, se referem à média de Portugal mas que, por o país ser muito assimétrico e, portanto, é importantíssimo haver instrumentos para descer ao nível das pessoas, para construir políticas que tenham impacto e significado. 

O estudo revela ainda que a qualidade do ambiente “é um dos traços mais valorizados nas apreciações de bem-estar”, assim como o equilíbrio entre trabalho e vida familiar. 

Mais de metade da população vive em 30 dos 278 municípios no continente e em 96% destes há mais idosos do que crianças. 

Em 28% dos municípios do continente de Portugal, mais de metade das famílias são pobres e foram os municípios onde os rendimentos são mais baixos os que mais perderam população jovem. 

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