LIBERDADE DO VENTO
Temos a liberdade do vento
sem a invenção de gastarmos palavras velhas
num poema novo descoberto
não o dissemos
a cidade de qualquer maneira ficaria cinzenta
com vizinhos envergonhados à janela
e o olho cúmplice no ralo da porta
nós sabemos que amanhã há horas vermelhas
e serão inúteis todos os mandados de captura
temos a liberdade do vento
diluíram-se e desapareceram
pelo buraco da banheira todas as palavras mastigadas
correremos à desfilada pelo abismo do tempo
ficaremos no cosmos
na nuvem mais alta da tempestade ensanguentada
à chuva na viagem anedótica do bar pretexto
sugaremos a vida no universo dos sentidos
antes do suicídio colectivo
durante a asfixia universal
depois do orgasmo apocalíptico
temos a liberdade do vento