49 Anos depois, como está a Liberdade em Portugal?
Uma reflexão sobre o 25 de Abril e a liberdade conquistada, mas ainda por cumprir em todos os sectores da nossa sociedade.
Quase cinco décadas nos separam de uma censura implacável, de uma conversação entre sussurros, não fosse um singelo diálogo ser tido como um atentado à vontade de quem, na altura, comandava o destino da Nação.
Depois, vieram os cravos, e com eles a esperança num Portugal renovado, com novas ideias e ideais, onde a palavra de todos seria escutada e ouvida, do mais abastado ao menos afortunado, de entre todos os portugueses. Mas, será que o caminho sonhado foi o caminho trilhado?
Se fizermos um flashback no tempo veremos que o país e a forma de pensar e de agir, dos portugueses e das portuguesas, se modificou em alguns aspetos: era impensável, há 49 anos, uma mulher apresentar queixa por assédio, quer este fosse cometido no seu local de trabalho, quer ocorresse numa qualquer universidade de renome. E, mais inconcebível ainda, seria ter toda uma nação a seu lado, a clamar por justiça…
E, com as novas ideias vem a aceitação do ser, tal como ele é - independentemente da cor, do credo, do género, ou das escolhas de cada um.
Contudo, o sonho de um Portugal grandioso e unido, a meu ver, não se concretizou. Não se concretizou, nem irá vingar… Não, enquanto houver perdões de dívidas a altas personalidades; Não, enquanto o Parlamento português ouvir apenas quem lhe convém, e aqueles que lá se dirigem, e que exalam um grito de desespero, na esperança de serem ouvidos, forem quase escorraçados, como se com uma pestilência estivessem cobertos; Não, enquanto os sucessivos governos portugueses olharem para o cargo numa perspetiva de serem servidos, ao invés de praticarem aquilo que foi proclamado no dia da Liberdade, e se apresentarem a Todos os portugueses como um instrumento conducente ao progresso, à justiça e a condições de vida justas e humanas.
Vota-se! Dá-se uma maioria, ou não, a um partido… E, seguidamente, o que fazem os escolhidos? Governam. Tomam nas mãos o leme do navio, que é Portugal, mas sempre a seu contento, à margem daquilo que clamam as vozes portuguesas, essas vozes que nunca são ouvidas, e nem as ideias e opiniões tidas em consideração… E tem sido desta forma que ilustres pensadores, cientistas e operários têm feito crescer e avançar outros países que não o seu, que os souberam ouvir e que acolheram a sua sabedoria, em prol do progresso das suas nações… E, com muita tristeza o digo, é assim que se vai despindo Portugal…
49 Anos depois, este é o resultado da conquista da Liberdade, encetada pelos nossos pais visionários. Uma visão que era clara e límpida, e que se foi tornando escura como breu!
Esta é a Liberdade que temos…
Indago, contudo, se esta é a Liberdade que TODOS nós queremos?!
Júlia Bernardino