O MIRANTE dos Leitores | 31-07-2023 10:00

O optimismo excessivo do vice-presidente da IP sobre as capacidades da Linha do Norte

Em O Mirante, on-line, de 19/07/2023, foi publicado o artigo sob o título “Linha do Norte em Santarém com capacidade excelente para servir novo aeroporto”.

Em O Mirante, on-line, de 19/07/2023, foi publicado o artigo sob o título “Linha do Norte em Santarém com capacidade excelente para servir novo aeroporto”. Como utente diário deste eixo ferroviário, entre Santarém e Lisboa, deixo aqui algumas considerações sobre o que afirmou o vice-presidente da Infraestruturas de Portugal (IP, SA): A Linha do Norte tem “condições excelentes para assegurar o serviço” e que “poderão ser feitas ligações de melhoria entre a estação de Santarém e o aeroporto”.
Em 2021, creio, foi apresentado o Programa Nacional de Investimentos/2030. A IP,SA, para demonstrar a necessidade da construção da nova linha de alta velocidade, tornou públicos dados significativos sobre o tráfego ferroviário na Linha do Norte, nomeadamente um gráfico ilustrativo com este título: “Eixo principal da RFN está no limite da capacidade”. O eixo principal é a Linha do Norte, usada (dados da IP,SA) por 44% de todos os comboios que utilizam a Rede Ferroviária Nacional e por 92% dos comboios de mercadorias.
A localização do aeroporto poderia ser entre S. Vicente do Paúl e Casével. A ligação da estrutura aeroportuária à Linha do Norte seria sempre a sul do Entroncamento. Segundo a IP,SA, sobre a capacidade de tráfego, verificamos que no troço Setil-Entroncamento, aquela está (ou estava à data do documento) em 64% do limite; Azambuja-Setil, 52%; Castanheira-Azambuja, 78%; Alverca-Castanheira, 112%; Lisboa-Oriente-Alverca, 62%; Braço de Prata-Lisboa-Oriente, 99%; e, Lisboa SA (Santa Apolónia) - Braço de Prata, 80%. Em média, entre Entroncamento e Lisboa SA, tem 78% da capacidade máxima utilizada.
A construção da Linha de Alta Velocidade retirará à Linha do Norte os pendulares e os Intercidades com destino ao Norte; manter-se-ão aqueles que se destinam à Linha da Beira Baixa e os interregionais, os regionais e os de mercadorias. E entre Lisboa e Azambuja os suburbanos.
A propósito, é de transcrever parte do artigo “Aeroporto em Santarém, um mito caro” da Revista Trainmaniac, de 24 de Setembro de 2022: “...a CP diariamente oferece cerca de 6.000 lugares nos seus comboios de longo curso entre Lisboa e o Porto e se considerarmos que o aeroporto será abastecido a partir da AML com 50% dos passageiros a chegarem de comboio, falamos de cerca de 16.500 passageiros ferroviários por dia – praticamente o triplo da oferta que hoje existe… não existe capacidade na linha do Norte para operar algo como 30 horários por dia e por sentido, para composições de 300 passageiros aptas a 200 km/h, [...] com concentração fundamentalmente entre as 07h00 e as 22h00 e com previsíveis picos de procura em franjas ainda mais pequenas”.
E esta Linha aguenta um acréscimo de comboios de passageiros provenientes do possível aeroporto e que terão como destino Lisboa SA ou Lisboa Oriente? E bastam apenas “ser feitas ligações de melhoria entre a estação de Santarém e o aeroporto”?
E onde fica a resposta à necessidade de aumentar a capacidade de transporte de passageiros entre Entroncamento e Lisboa, para diminuir a utilização dos transportes individuais e colectivos na rodovia? Ou esta necessidade fica sem resposta em nome de outros interesses?
José Rui Raposo - Membro da Comissão de Utentes dos Serviços Públicos

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