Gente feliz à beira de um ataque de nervos
Dizem que os vilafranquenses não são melhores nem piores, são diferentes.
Dizem que os vilafranquenses não são melhores nem piores, são diferentes. De facto são diferentes porque são felizes. E são felizes porque contentam-se com tudo o que não lhes fazem ou fazem o que não deviam. Sem ser saudosista do passado, a verdade é que quem olha hoje para Vila Franca vê que esta cidade já pouco mais é que um dormitório. Quem anda depois das 20h00 nas ruas da cidade sente que vagueia por uma urbe fantasma. Uma cidade que ainda tem pedaços de ruas, sabe-se lá porquê, com calçada que é fértil a provocar entorses e é um pesadelo para quem anda de sapatos de saltos altos.
Uma cidade cheia de prédios em ruínas, com pouco comércio, muito dele encerrado, e que paulatinamente vem perdendo dinamismo. Uma cidade que vem assistindo à perda de eficiência dos serviços públicos, nomeadamente dos serviços hospitalares e das finanças, e à degradação das instalações do tribunal. Uma cidade onde a maioria da população não tem médico de família e está envelhecida. Uma cidade que vê o seu icónico mercado municipal definhar por não se avançar com a tão prometida obra de revitalização, uma promessa com barbas maiores que as do Pai Natal. Uma cidade que desespera por ver o arranque do projecto de requalificação das antigas instalações da Marinha, outro projecto recheado de boas intenções e muitas promessas.
Uma cidade que ainda não viu concluídas as obras da requalificação financiadas com fundos europeus através do Programa 2020. Uma cidade que viu o seu clube desportivo ser penalizado com descida de divisão por antijogo praticado fora das quatro linhas. Uma cidade que pouco faz para preservar a sua identidade ribatejana, quando esta pode e deve ser uma mais-valia para a economia local. Uma cidade, sede de concelho, que não só vai perder, dolorosamente, uma parcela do Jardim Constantino Palha para a quadruplicação da via-férrea, como fica a ver os comboios de média e alta velocidade a passarem por ela. Uma cidade que qualquer dia vê Alverca reclamar o direito a ser sede de concelho pelo grande desenvolvimento que tem vindo a conhecer nas últimas décadas.
E como a campanha eleitoral já começou, com o Natal à porta, as ofertas este ano são muitas. A boa-nova contempla Alverca com uma “fantástica” Feira de Natal. Gente feliz, a de Vila Franca, que se contenta apenas com a luz natalícia. O último dos vilafranquenses não se esqueça de apagar a luz. A todos, um bom Natal.
Ana Duarte