Santarém, anos cinquenta
Sem espírito saudosista, mas antes olhando para o passado como o tempo que não volta enquanto a vida nos permite, guardo o bom e o mau da minha, sustentado em dezenas de milhares de fotografias.
Sem espírito saudosista, mas antes olhando para o passado como o tempo que não volta enquanto a vida nos permite, guardo o bom e o mau da minha, sustentado em dezenas de milhares de fotografias.
Hoje, ainda em papel, encontrei uma tirada há anos no Campo Fora de Vila – o armazém do Veríssimo Serrão, e vem-me à memória a taberna anexa e uma cena presenciada e depois muitas vezes recordada. Apesar dos 15 anos que nos separavam, a companhia do momento era o falecido Camilo Teixeira (técnico protésico), também conhecido como o alemãozinho graças ao cabelo e envergadura. Um grupo numa mesa pediu queijo e a resposta foi a mais apropriada: “já comeram muito, agora comam m…, e para os outros?”
Enfim, eram as histórias de uma cidade provinciana, entediada e entediante, com muitos parasitas, um comércio em decadência e agricultores a esbanjar no Maxime e queixando-se das más safras, muito futebol, muitas colectividades e muitas tascas.
Mas tinha escolas e bons e dedicados professores. É com profundo respeito que recordo a professora Maria Luísa, o professor Agnelo e o Dr. Florindo. Mais do que conhecimento, ensinaram-me como é difícil converter um sonho em realidade, conseguiram-no. No inicio de 1959 fui às “sortes”, com uma cunha fiquei livre, incentivei os “ganchos” à minha selecionada clientela e comecei a juntar dinheiro para sair da casa dos meus pais, em Outubro fui trabalhar numa multinacional, andei pelo mundo, em 1989 rescindi, vendi o andar em Santarém.
De Santarém não tenho saudades, mas tenho de Rio Maior e tenho de pessoas, esse capítulo foi encerrado há muitos anos, diria que logo em 1959.
Rui Figueiredo Jacinto