O Ensino e a Inteligência Artificial

Se realmente se comprovarem teorias científicas que referem que o cérebro humano encolheu porque, ao contrário do que aconteceu com os povos pré-históricos, o Homem moderno já não necessitava de tanta massa cinzenta para realizar as suas atividades, o cérebro dos nossos jovens irá, certamente, atingir dimensões semelhantes à de uma ervilha.
Há muito que se utilizam os dicionários online, mais ou menos credíveis, para trabalhos escolares.
Há muito que os estudantes aprenderam a fazer pesquisas no Google sobre temáticas, mais ou menos modernas, desde a História Universal às Ciências Exatas, passando pelas Línguas Estrangeiras e pela Literatura Portuguesa, onde as Cantigas de Amor e de Amigo dão o mote a tantas aulas.
O mundo é composto de mudança e aquele “fio” invisível que une todos os cantos do mundo tem evoluído a um ritmo alucinante, atrevo-me, mesmo a dizer, à velocidade da luz.
O “Chatgpt” veio para ficar! A informação fornecida pelo “amigo Google”, e posterior seleção feita pelo estudante, são ultrapassados por uma inteligência muito superior à do ser humano: hoje em dia surgem textos belíssimos, cheios de conhecimento científico, todos eles elaborados por uma máquina, à qual o estudante apenas tem o trabalho de solicitar o que pretende. Até no número de palavras a Inteligência Artificial é rigorosa e, para muitos, não há margem para dúvida: a IA é a maior amiga que o aluno alguma vez já teve!
O cérebro humano foi-se desenvolvendo e mudou de tamanho desde a Pré-História. E este facto faz-me refletir: - Se realmente se comprovarem teorias científicas que referem que o cérebro humano encolheu porque, ao contrário do que aconteceu com os povos pré-históricos, o Homem moderno já não necessitava de tanta massa cinzenta para realizar as suas atividades, o cérebro dos nossos jovens irá, certamente, atingir dimensões semelhantes à de uma ervilha!
Parece que estou apenas a ironizar a situação, mas não! Os manuais digitais apareceram nas escolas portuguesas e, apesar do desagrado de muitos professores e pais, foi-lhes dada continuidade. Os exames de final de ciclo serão realizados em suporte digital, e até mesmo os alunos do 4.º ano de escolaridade vão realizar uma Prova Moda, recorrendo à utilização de um computador.
A partir daqui será apenas um passo para se ter de aceitar a utilização da IA nos trabalhos e nas avaliações dos alunos, ou colocar-se-á um travão a uma moda, que parece querer surgir, e que permeia o “copy paste” que o aluno executa, ao invés de elogiar e agraciar o seu espírito critico e a sua capacidade de pensar?
Assusta-me pensar que no Ensino tudo possa vir a ser realizado através da Inteligência Artificial… O Ensino e o seu Processo de Ensino-Aprendizagem, não se baseia apenas na passagem do conhecimento académico de professor para aluno. Se assim fosse, realmente, nunca teria havido a necessidade de existirem professores.
Ser professor é muito mais!
É saber ouvir o estudante e encaminhá-lo a pensar e a adquirir aprendizagens académicas, mas também dar-lhe apoio e incentivo, quando este lhe falta junto aos pares e, por vezes, em casa.
Ser professor é mostrar ao estudante que há sempre dois caminhos e que pode escolher um, ainda que tenha de voltar atrás e trilhar o que à partida tinha refutado.
Ser professor é partilhar humanidade, sentimentos que são nossos, próprios do ser humano, que connosco nascem e connosco morrem.
Ser professor é ensinar a sentir e a pensar criticamente um mundo que está em permanente evolução.
A Inteligência Artificial está a ganhar terreno, mas como ser pensante que sou, sei que esse é um terreno pantanoso, pois nem só do conhecimento vive o Homem. As emoções e o sentir, pilares basilares de todo o ser humano, nenhuma IA nos conseguirá ensinar!
Júlia Bernardino