Os jovens, as redes sociais e as competências escolares e sociais

Nas escolas é necessário promover-se, cada vez mais, a identidade do jovem e o seu espírito crítico. É forçoso obrigar os alunos a pensar e a não se contentarem com o que obtêm. Há que ensiná-los de novo, uma vez mais, e tantas quantas as que forem necessárias.
No mundo em que vivemos, torna-se cada vez mais usual a imagem de um jovem curvado sobre um telemóvel que agarra com ambas as mãos, seja Iphone ou Android, a visualizar tudo o que é colocado no tik toc, no instagram, ou noutra qualquer rede social.
Até aqui nada de novo, nem nada a questionar, não fosse o facto deste jovem, e dos demais, estarem a desenvolver, além da dependência física e psicológica que esta engenhoca acarreta, a perda de duas das competências fundamentais que fazem de nós seres humanos: a capacidade de pensar e de sociabilizar com o próximo.
Com o aparecimento das redes sociais, ditas como vocacionadas para as camadas mais jovens, temos assistido a comportamentos disruptivos por parte das nossas crianças e jovens e, consequentemente, a um emergir de jovens adultos aos quais as competências essenciais foram furtadas logo desde muito cedo, na fase da construção da sua individualidade.
Como não recordar esse famigerado jogo, datado de 2016 e nascido na Rússia, e que aparentemente era apenas para criar brincadeiras entre os jovens? Esta diversão conduziu a inúmeras mutilações do próprio corpo e, em casos extremos, levou à própria morte.
O jogo apoderou-se das mentes dos nossos jovens e conduziu-os a praticarem ações que sabiam estar moral e socialmente erradas! E esta foi a primeira vez que constatei que, de facto, uma outra realidade estava a emergir – a realidade virtual.
Nove anos passados e a realidade virtual parece, mais do que coexistir com o mundo real no qual vivemos e nos movimentamos, dominar o palco da nossa existência: os influenciadores surgiram e ditam não só a moda, mas o modo de se pensar e agir, todos da mesma forma, como se de uma produção em série se tratasse; surgem podcasts e vídeos de quem diz ter a fórmula certa para se alcançar o sucesso escolar e passar nos exames, tentando-se assim relegar para um segundo plano, ou para um plano qualquer, os ensinamentos que só os professores “de carne e osso” e a socialização escolar podem garantir; aparecem os incontáveis trabalhos, todos eles realizados à luz do CHATGPT, quer em ambientes escolares, quer no seio dos jovens trabalhadores desta nova era digital, tão hábeis em fazer um “copy paste”, mas tão modestos no seu entendimento dos textos que apresentam.
É alarmante pensar que a nova geração está tão presa a um ecrã, às mensagens que por ele emergem e que através dele enviam, que deixaram de ter a capacidade de pensar por eles próprios, descarregando “likes” em tantas mensagens que veem, mas que não compreendem… é a mecanização do gesto, ligado ao emoji e, voilá! “Gosto!” Mas gosto do quê? Parece-me ser esta a questão que se impõe fazer aos nossos jovens. Gostas de quê? Das cores? Da mensagem que é passada? De quê? E perante as respostas, que serão certamente um encolher de ombros ou o célebre “sei lá!”, será hora de os puxarmos de novo até nós, e levá-los a exercer um dos seus direitos fundamentais, o do pensamento crítico, a máxima cartesiana “Penso, logo existo”.
Não digo que as redes sociais são nefastas, mas há, contudo, que saber utilizá-las em prol da humanidade, ao invés de termos a humanidade escravizada pelas mesmas.
É necessário haver diálogo, conversas, discussões de ideias, risos e gargalhadas! O Homem é um animal social e, assim sendo, necessita de um convívio salutar com os seus iguais.
Os jovens necessitam de estar juntos, na real conceção da palavra, precisam de brincar, tocarem as mãos uns dos outros, comerem maçãs e ingerirem bebidas refrescantes, enquanto têm conversas triviais sobre o tempo, a roupa que irão vestir, a cor de unhas que irão fazer, ou a equipa de futebol preferida!
Nas escolas é necessário promover-se, cada vez mais, a identidade do jovem e o seu espírito crítico. É forçoso obrigar os alunos a pensar e a não se contentarem com o que obtêm. Há que ensiná-los de novo, uma vez mais, e tantas quantas as que forem necessárias, a pensar por si-mesmos e a apropriarem-se dos avanços tecnológicos de forma analítica e como parte integrante do seu saber.
Nesta época, em que se assinalam 51 anos de Liberdade, é hora de relembrarmos grandes poetas e pensadores e entoarmos a “Pedra Filosofal”, de António Gedeão, reforçando a ideia de que “sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança”... Mas, para que tal aconteça, temos de reaprender a sonhar livremente, sem as limitações que nos são impostas pelas redes sociais.