Recordar Carlos Matos Gomes (re)lendo o romance que conta uma expropriação de terrenos para a A23
Permitam-me recordar o escritor e ‘Capitão de Abril’, Carlos Matos Gomes, natural de Vila Nova da Barquinha, que faleceu a 13 de Abril deste ano, com 78 anos de idade.
Permitam-me recordar o escritor e ‘Capitão de Abril’, Carlos Matos Gomes, natural de Vila Nova da Barquinha, que faleceu a 13 de Abril deste ano, com 78 anos de idade. Tendo escrito sob o pseudónimo de Carlos Vaz Ferraz, diversos romances, sendo os mais conhecidos os que se referem à Guerra Colonial (Nó Cego, de 1982 e Os Lobos não Usam Coleira, de 1995, por exemplo), tem outros que vale a pena ler ou reler.
É isso que estou a fazer com “Estrada dos Silêncios (2015), cuja acção o autor situa numa Quinta de Monte Cimeiro, no Sardoal, onde, um velho proprietário resiste a tiro à expropriação de parte dos seus terrenos, tendo a juíza Joana Secalha, colocada em Abrantes, nas suas mãos, a decisão de confirmar a expropriação e mandar avançar as máquinas.
Em pano de fundo, Carlos Vaz Ferraz, conta-nos a parte da História das invasões napoleónicas que cruzou a zona centro, o Ribatejo. Generais, soldados, sargentos, cabos, franceses e ingleses e milicianos portugueses.
O autor mete-nos toda aquela gente toda à nossa frente ou mete-nos a nós nos locais onde ela está. Vila de Rei, Penedo Furado, Abrantes, Cartaxo, Vale Paraíso... Pessoas contraditórias como são as pessoas. Com interesses, segredos, silêncios.
Há Gaspar Pina, dono da estalagem do Sardoal que se diz descendente de Gil Vicente e que acalenta o sonho de abrir uma casa de alterne; Duarte Novo, funcionário judicial; Carlos Matias, o engenheiro que acredita no progresso mas que a certa altura se amedronta com maldições.
O personagem Francisco Afonso diz a certa altura: “A justiça democrática e constitucional (…), funciona como as modernas máquinas de regar: molha tudo à sua volta, ervas e árvores, homens distraídos e cães com sede...”.
Fernando de Carvalho