O MIRANTE dos Leitores | 22-10-2025 11:29

Crónicas de infância em Pernes

Vivi na Cidade e cresci no Campo, em casa da minha avó. Eram as minhas longas férias de Verão.

Vivi na Cidade e cresci no Campo, em casa da minha avó. Eram as minhas longas férias de Verão. O dia amanhecia com o som dos galos e mais tarde dos pregões de algum vendedor ambulante da feira. Às 10h00 da manhã estávamos a caminho do rio de bicicleta, as três amigas inseparáveis, passávamos pela ponte antiga sobre o rio Alviela e chegávamos ao Moinho. O moleiro trabalhava o trigo e centeio nas mós transformando-os em farinha, e nós escorregávamos pelos montes de sementes surfando, de seguida percorríamos as margens do rio assustando os patos selvagens até à fonte onde saciávamos a sede. Junto à ponte ainda se ouvia alguma lavadeira a lavar a roupa e, em frente o café “O Diabo”, já atendia alguns clientes, do outro lado do rio ouviam-se as máquinas de tornear madeiras.
A vida crescia à volta do rio e das suas cascatas sonoras ao longe. Um pescador tentava a sua sorte numa das margens e um afiador de facas passava pela ponte assobiando. O sapateiro abria a sua loja e as costureiras esperavam as suas clientes, às vezes eramos nós que aproveitávamos os “trapinhos” para os vestidos das bonecas, inventavam-se brincadeiras, tudo servia, berlindes, elásticos, bolas, penas, tronquinhos, tudo para sermos criativas. Às 12h00 tocava o sino da Igreja e era hora do almoço, não havia telemóveis. À tarde visitava os meus primos, o centro de convívio a caminho e a casa da musica. A hora do lanche era de convívio no mouchão, todos nos reuníamos na esplanada onde assistíamos às series de TV. Uma noite ficámos até quase de madrugada à espera de ver extraterrestes sob as montanhas vermelhas, outra juntamo-nos em casa para assistir a algum filme de terror. Houve uma manhã que fomos lavar tripas ao rio que alguém nos pediu, outra, apanhar caracoletas depois de uma chuvada, outra vez, ficámos nos “olhos de água” por perdemos o autocarro e fomos obrigadas a pedir boleia para casa. A infância é para recordar e os rios fazem parte dessa recordação.
Paula Montez

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