O MIRANTE | 19-11-2020 20:00

“Em cada política que se pretende impor tem de haver um ajustamento à realidade dos destinatários”

“Em cada política que se pretende impor tem de haver um ajustamento à realidade dos destinatários”
ESPECIAL ANIVERSÁRIO
Ramiro Matos - Presidente do Conselho de Administração da Águas de Santarém

Ramiro Matos - Presidente do Conselho de Administração da Águas de Santarém.

Apesar de em Santarém continuarem a existir atentados ambientais, como as descargas poluentes nos rios, os problemas ambientais são transversais e de maior monta. Destaco apenas algumas questões que julgo serem, sem limitar, as mais importantes: A utilização ineficiente e irresponsável da água; as constantes ameaças à biodiversidade e os problemas decorrentes do aumento do número de pessoas nas cidades com a consequente ameaça da poluição e gestão dos resíduos.

A Águas de Santarém tem um papel principal na defesa do ambiente. Para além de fornecer água e prestar os serviços de tratamento de águas residuais, já por si ele próprio de forte pendor ambiental, tem ainda o dever de promover campanhas de sensibilização ambiental.

A Águas de Santarém tem já implementado um circuito de gestão documental que elimina quase totalmente a circulação de papel. Também tem realizado acções de sensibilização, como a recente campanha de lançamento da marca águas, com o objectivo de sensibilização para a eliminação do plástico.

Estamos a prever para 2021 outras acções com forte impacto ambiental. Entre elas conta-se a forte aposta e investimento em equipamentos para detecção de perdas de água, bem como a implementação de produção de energias limpas para alimentar, em larga proporção, os equipamentos de captação de água e as ETAR e iremos, gradualmente, substituir a nossa frota automóvel por veículos eléctricos.

A economia não é privilegiada em relação ao ambiente mas existe uma proporcionalidade que tem de imperar para se atingirem os desejados desenvolvimento e sustentabilidade. Em cada política que se pretende impor tem de haver um ajustamento à realidade dos destinatários, da região ou do país. É necessário haver avaliação do impacto subjectivo e objectivo. E esse ajustamento tem de ser equacionado por razões económicas, de conjuntura, de literacia, estado de desenvolvimento e até por razões ligadas às características endógenas do território.

O equilíbrio entre a economia e o meio ambiente deve ser obrigatório relativamente a cada actividade ou produto que possa poluir. Têm de existir campanhas de sensibilização contínua, com meios e até incentivos públicos, para consciencializar pessoas e empresas de que é necessário reduzir a poluição. Só após esta fase é que deve entrar a regulação, a obrigatoriedade e o sancionamento.

A taxa de gestão de resíduos que o Governo de prepara para aumentar em 100% em Janeiro é sinal de repressão sobre a não separação de lixos. E vai actuar sobre quem separa e sobre quem não separa. Não é uma medida compreensível, a meu ver, pelo menos antes de percorrer um caminho sério, intenso e focado na consciencialização da importância da redução da produção de lixo orgânico e não separado. Ao nível das empresas o princípio do poluidor-pagador continua a ser eficaz.

A redução em 50% do uso dos pesticidas na União Europeia é, por agora, apenas um plano e fundamenta-se no facto de ser necessário proteger a vida selvagem. Porém, em Portugal, onde a agricultura é um sector muito forte e competitivo, a aplicação cega e imediata pode trazer graves consequências, dado que vai afectar todos os sectores (e são muitos) que dependem directa ou indirectamente da agricultura. Vai também afectar o consumidor final, no preço, uma vez que a agricultura biológica tem, hoje, custos muito mais elevados.

Não se pode implementar uma medida como a redução dos pesticidas cegamente. Antes de proibir a venda destes produtos – e alguns já vão sendo proibidos e sujeitos a regras rigorosas de aplicação – há que agir em conjunto com os fabricantes para que possam investigar as alternativas de componentes com menos consequências, criar condições e apoiar as culturas biológicas, mas sem ser de forma abrupta, nem com os objectivos tão ambiciosos como aqueles que foram anunciados.

O verde é a cor da esperança, significa seguir em frente. Falar de verde é falar no Sporting, na natureza e, claro, em O MIRANTE. Não há causa nem política que se consiga apropriar de cores e de valores.

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