O MIRANTE | 03-03-2022 19:00

Na CUF Santarém não atraímos médicos pelas retribuições mas pelo projecto que oferecemos

Joaquim Costa, director clínico; Filipa Soeiro, directora; Pedro Bastos, administrador; Helena Conduto, enfermeira directora; Ângela Sá, adjunta da direcção clínica; Mário Ribeiro, gestor

O Hospital CUF Santarém começou a funcionar no final de 2015 e desde então transformou-se num hospital generalista com praticamente todas as especialidades. A sua actividade não pára de crescer. As consultas passaram de cerca de 13 mil para 111 mil; as cirurgias de 450 para 3.800 e multiplicou por dez o número de meios complementares de diagnóstico realizados. Pedro Bastos, administrador da CUF Descobertas, que integra o Hospital CUF Santarém sublinha que o aumento da procura revela satisfação da população com o serviço prestado.

O que é que a CUF Santarém, na sua perspectiva, trouxe à cidade?
A CUF Santarém nasceu no final de 2015 quando o grupo adquiriu o edifício que já era um hospital construído por um conjunto de promotores. Fizemos um estudo de mercado e considerámos que esta região tinha um elevado potencial. A partir daí houve uma diferenciação muito significativa, do ponto de vista das várias especialidades clínicas, e isso foi evidente. Hoje a CUF Santarém é um hospital generalista com praticamente todas as especialidades.
Qual foi a grande vantagem para a população?
A enorme diversificação do ponto de vista da oferta de cuidados de saúde pois não havia nenhuma oferta estruturada privada em Santarém e a diferenciação veio representar uma enorme satisfação por parte da população.
Tinha potencial porque havia falta de capacidade de resposta perante os problemas de saúde na zona de Santarém.
A forma como identificamos as regiões é muito mais na lógica de zona populacional que tem seguros de saúde e que não está totalmente satisfeita com a prestação de cuidados de saúde na área privada. Portanto nós identificámos esta região devidamente como uma região com elevado potencial. O hospital tem vindo a ter um sucesso muito significativo e temos vindo a crescer do ponto de vista de instalações. Estamos a fazer obras de ampliação com algum significado para acomodar o crescimento que tivemos ao longo dos anos.
Em que é que se fez sentir mais esse crescimento?
Multiplicámos as consultas passando de cerca de 13 mil para 111 mil, registadas no ano passado. Em cirurgias passámos de 450 para 3.800. No que respeita aos meios complementares de diagnóstico aumentámos em 10 vezes aquilo que existia.
Isso quer dizer que há mais pessoas com problemas de saúde ou que deixaram de ir ao Serviço Nacional de Saúde?
Actualmente mais de 40% da população portuguesa tem seguros de saúde e há um reconhecimento por parte da população que o hospital funciona bem. Se funcionássemos mal, mesmo que fossemos os únicos no mercado, certamente que as pessoas iam procurar outras localizações.
Ao oferecerem serviços diferenciados acabam por libertar os serviços públicos para responderem a quem mais precisa?
Analisamos o mercado na lógica de se faz sentido ou não, do ponto de vista do potencial de actividade independentemente dos serviços públicos. Temos uma oferta própria sabendo que existe um hospital público, que funciona e tem vindo a funcionar bem e melhor do que funcionou no passado.
A que nível é que há uma complementaridade com o sector público?
Há uma complementaridade ao nível da redução das listas de espera, no âmbito do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC) mas, mais do que isso, como aconteceu no momento mais complicado da Covid-19. O Hospital CUF Santarém recebeu doentes sem Covid para aliviar a pressão dos hospitais, nomeadamente bastantes do Hospital de Vila Franca de Xira e também do Hospital de Santarém. Alguns outros hospitais da rede CUF receberam doentes infectados.
Recentemente o hospital passou a poder receber médicos estagiários na área da ortopedia. Foi reconhecido pela Ordem dos Médicos com capacidade formativa. É um passo para que possa ser um centro de formação?
Na rede CUF há um conjunto de hospitais que recebe médicos que querem fazer a sua especialização connosco, pelo menos desde 2011. A novidade em Santarém é que não tínhamos idoneidade formativa e neste caso numa área específica que é a do joelho. É o primeiro hospital da rede CUF de média dimensão com este reconhecimento. É bastante importante formar os nossos próprios médicos e temos condições formativas muito boas e em alguns casos tão boas ou melhores que em alguns hospitais do Estado.
Fala-se muito na falta de médicos. Sentem dificuldade em contratar médicos para trabalharem num hospital privado fora dos grandes centros?
Segundo as estatísticas da OCDE temos um rácio de médicos por população bastante elevado. Mas se compararmos médicos de medicina geral e familiar com médicos de outras especialidades pode haver algumas assimetrias. Quando se fala que a questão pode estar nas condições de retribuições financeiras é um engano porque vale muito mais para um médico um projecto clínico do que pormos só euros em cima da mesa. O que tentamos oferecer é um projecto clínico. Os médicos querem ter acesso a um conjunto de equipamentos ou a congressos, por exemplo, que, se calhar, doutra forma não têm acesso.
Quer dizer que não têm problemas na contratação de médicos…
Em alguns casos temos mais facilidade e em outros temos dificuldades. Uma especialidade em que normalmente é muito complicado contratar médicos é na dermatologia porque estão muito concentrados num conjunto de hospitais ou num conjunto de centros de dermatologia que eles próprios criam.
Está prevista mais alguma especialidade para este hospital?
O que está previsto é o hospital crescer com o que já tem mas vamos avançar com o hospital de dia oncológico que vai ser possível com a ampliação das instalações.
Com a pandemia o que é que mudou na gestão ou organização dos serviços?
Apesar de ser difícil falar de coisas boas com a Covid-19, ganhou-se o espírito de lutar pela mesma causa independentemente de sermos médicos, enfermeiros, auxiliares ou gestores, bem como o passo que foi dado na componente da digitalização da nossa oferta. As teleconsultas são um exemplo evidente que todo o mercado já andava a falar e que, de repente, foi usado por necessidade evitando-se que em algumas circunstâncias as pessoas tenham de se deslocar ao hospital.
Foi o período mais difícil que passou desde que está neste cargo?
A organização da rede CUF foi algo muito complexo e na realidade era de tal maneira a velocidade em que tínhamos que tomar decisões que aquilo que era verdade de manhã não era necessariamente verdade da parte da tarde. Foi muito violento fazer a gestão de todo o processo e verificou-se que as tomadas de decisões têm de ser muito mais ágeis em situações como estas.
Como é que um administrador lida com uma situação dessas em plena pandemia?
Não é fácil porque as situações evoluíam de tal maneira e a incerteza era de tal forma, nos primeiros três meses e depois também nos primeiros três meses de 2021, que a pressão foi muito forte. Tínhamos um gabinete de crise do grupo para tentar encontrar as melhores soluções para os nossos clientes e para a população em geral dada a interligação que estávamos a ter com o Ministério da Saúde.
Para além da ortopedia que áreas é que se têm destacado na CUF Santarém?
Cirurgia geral é uma área fortíssima. Toda a oferta de exames é cada vez melhor. A urologia é uma área com bastante diferenciação neste hospital, bem como a oftalmologia além de outras especialidades que funcionam extremamente bem. Actualmente assiste-se a uma sub-especialização dentro das especialidades. Por exemplo, dentro da ortopedia há as áreas específicas do joelho, da anca, do ombro, da mão… Estamos a fazer o caminho de centros de referência. Há muitas doenças que não são específicas de uma determinada especialidade e juntamos profissionais de várias especialidades que tratam uma determinada doença, que não é específica de uma determinada especialidade.
Isso deve-se à evolução das doenças ou a uma forma diferente de entender a medicina?
A questão já não está tanto na doença mas no doente e na necessidade de satisfazer os seus problemas no todo. O que tem vindo a acontecer é que especialidades como Medicina Geral e Familiar ou a Medicina Interna são hoje especialidades de entrada no hospital e que encaminham as pessoas para uma resposta integrada de várias especialidades.

A ampliação e a nova tecnologia que faz uma primeira triagem online

O Hospital CUF Santarém tem marcado Santarém e a região com a sua aposta de qualidade na prestação de cuidados de saúde, com uma equipa de mais de 300 profissionais focados na resposta de qualidade às necessidades de saúde da população do Ribatejo. Em seis anos o hospital cresceu e neste momento está a ser ampliado para dar uma resposta maior aos utentes, sobretudo ao nível das consultas com um aumento de 30 por cento em gabinetes médicos. Desde 2015 o hospital recebeu cerca de 117 mil doentes e realizou meio milhão de consultas. O atendimento permanente (episódios de urgência) da CUF Santarém já realizou 92 atendimentos.
A ampliação do hospital fica pronta este Verão e depois todo o espaço actualmente de entrada e recepção vai ser reconfigurado. O administrador da CUF Descobertas, que integra o hospital de Santarém, numa rede com os de Torres Vedras, Mafra e Alvalade, explica que há “um conjunto de espaços que foram adaptados porque o hospital não estava feito para a dimensão de actividade que tem hoje em dia. Pedro Bastos acredita que com estas obras a CUF Santarém e os utentes ficarão mais bem servidos por vários anos. Ao nível da cirurgia, os actuais três blocos garantem a procura nesta área.
Além da prestação de cuidados, outra das vantagens da CUF Santarém é a aposta na formação. Recentemente passou a ter idoneidade formativa na área da ortopedia do joelho e alguns profissionais dão formação na CUF Academic Center, um centro que é uma referência nas áreas de formação, ensino e investigação em saúde. Pedro Bastos sublinha que nesta aposta na formação o que tem sido conseguido em Santarém é extraordinário porque não é normal para um hospital de média dimensão ter uma aposta tão grande na área.
A aposta nos serviços online intensificou-se com a pandemia e actualmente a CUF tem sistemas modernos e funcionais com maior proximidade às pessoas. A aplicação (app) foi sujeita a um desenvolvimento muito significativo, passando a dispor de mais serviços que em alguns casos evitam que a pessoa tenha de se deslocar ao hospital. Através deste acesso as pessoas podem fazer, por exemplo, o check-in e marcações automáticas.
Recentemente foi lançado o “Sympton Checker”, um serviço online em que as pessoas, com a resposta a um conjunto de perguntas, conseguem fazer uma triagem e identificar a doença que as pode estar a afectar. Segundo Pedro Bastos, o sistema, geralmente, dá um resultado conclusivo dando indicação ao utente para marcar uma consulta de determinada especialidade ou para ir à urgência.

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