O MIRANTE | 05-03-2022 16:00

As pessoas são o maior património do Centro Popular de Cultura e Desporto da Póvoa

Joaquim Perdigoto Ramos é o presidente da direcção do Centro Popular de Cultura e Desporto da Póvoa de Santa Iria

O Centro Popular de Cultura e Desporto da Póvoa de Santa Iria é um clube de bairro e a actual direcção, liderada por Joaquim Perdigoto Ramos, quer que assim continue. O principal objectivo da colectividade é proporcionar às pessoas da sua área de influência boas condições para a prática desportiva. Se com o seu trabalho gera bons atletas e campeões isso aumenta a auto-estima mas não serve para o desviar do seu propósito.

Apesar da pandemia o CPCD manteve-se em actividade?
As coisas estiveram fracas mas já estão a arrebitar. Chegámos a ter modalidades com apenas dois ou três atletas mas nunca desistimos. O CPCD é uma mais valia para a freguesia da Póvoa de Santa Iria e tem actividades desportivas para todas as idades e todos são bem vindos, qualquer paragem é muito prejudicial. O nosso objectivo é tirar as pessoas, nomeadamente os jovens, de casa e fazê-los praticar desporto.
Qual é a actual situação?
Estamos hoje com uma grande variedade de actividades. Já fomos muito fortes no futsal, onde estivemos na segunda divisão nacional e na natação também, com uma campeã nacional e recordista de 800 metros sob a direcção da Rute Cesário. Em actividades colectivas e individuais somos fornecedores de talento para grandes clubes como o Sporting e o Benfica. Mas tudo isto requer muito trabalho.
Para além da pandemia já passaram, nos últimos anos, por momentos difíceis?
Todos os clubes têm altos e baixos. Há uns anos uma pessoa assumiu a presidência e apresentou-se cheio de ideias inovadoras, mas é preciso ter muito cuidado. Na altura apostaram nos séniores do futsal em que as exigências e os encargos eram maiores. Por isso em seis anos o clube criou numa dívida de 40 mil euros. Quando se entra numa tesouraria desgovernada cai-se a pique de imediato. Deixámos de ter crédito em todo o lado. Teve de ser o Manuel Alfaiate, a quem esta casa deve muito, a passar cheques pré-datados da conta dele para conseguir endireitar o clube.
Na altura chegou a ser anunciado o fecho do clube.
Sim, em 2016, quando ninguém apareceu com listas candidatas. O Manuel Alfaiate ameaçou entregar as chaves na junta de freguesia, no final da época desportiva, porque estava cansado e já cá andava há muitos anos. Foi nesse momento que decidimos juntar-nos e endireitar o clube. Muita gente me ajudou. Pela minha parte, todos os dias venho ao clube. Saio do meu trabalho e venho para aqui.
Concorda com direcções remuneradas?
Não. Isso tem vários perigos. É verdade que se perde muitas horas nisto e o clube está a crescer a olhos vistos. Mas antes de dar honorários aos directores deve criar-se emprego e pagar a pessoas para estarem aqui. É preferível criar mais um posto ou dois de trabalho para tratar dos papéis, responder aos e-mails, atender as pessoas sob a nossa orientação. Pagando a directores corremos o risco de faltarem listas na mesma e o clube acabar por se transformar numa espécie de sociedade anónima desportiva de amigos feitos à última hora. Somos um clube de bairro com um coração muito grande. Os fundadores lutaram muito por isto. Mas os tempos mudaram, o clube cresceu e vai continuar a crescer mas tem de o fazer com os pés bem assentes na terra.
Há quem lamente que o CPCD não se assuma de vez nos séniores de algumas modalidades…
É muito fácil dizermos que vamos ser um Sporting ou Benfica mas aí deixamos de ser a colectividade que dá apoio ao bairro. Temos que servir toda a gente, desde quem vem jogar às cartas, tomar um café ou meter os filhos a praticar desporto. Vamos, quando a pandemia o permitir, fazer mais actividades para os mais velhos e prestar um serviço à comunidade. O associativismo tem futuro.
O clube está também apostado na vertente social?
Vamos oferecer as mensalidades a cinco alunos do agrupamento de escolas da Póvoa de Santa Iria que tenham comprovadas carências financeiras. Não queremos que ninguém fique excluído de praticar desporto. Gostava de fazer uma confederação do associativismo de Vila Franca de Xira, que faz imensa falta. As associações prestam um serviço comunitário e social e por isso não faz sentido existirem quintinhas em que cada um puxa por si. Unidos somos mais fortes e poderemos reivindicar mais para todos.
Como encara o futuro do CPCD?
Com muito optimismo. Estou orgulhoso de toda a gente que se envolve com o clube, não apenas com os que são campeões mas também com todos os outros que os apoiam e vestem a camisola. Uma colectividade que serve a comunidade não é feita só dos que são vencedores, mas de todos. Somos uma grande equipa. O crescimento do clube faz-se de todos, dos sócios aos atletas. São o nosso maior património. Temos tudo para crescer e seguir em frente. Temos as contas saldadas e ainda conseguimos ter algum dinheiro no banco para investir. Agora vamos fechar o ringue.
O Estado reconhece suficientemente o vosso papel?
A Póvoa e o Forte da Casa são dormitórios mas o CPCD com toda esta diversidade de modalidades começou a ser conhecido e apetecível. Para os políticos é muito fácil ir para os jornais elogiar o associativismo mas isso é só da boca para fora. A maior parte dos governantes não sabe o que é preciso e quanto custa manter estas casas a funcionar todos os dias e, sim, muitas vezes esquecem-se de nós. E as associações fazem, a nível local, um trabalho que as autarquias e o Governo não conseguem fazer.
Qual é o vosso maior valor?
O que nos move é este grande sentimento de vizinhança, são as nossas pessoas que nos fazem respirar e viver. Eu apenas dirijo, não sou mais que os outros. O maior património do CPCD são as pessoas, os sócios e os atletas. Acredito que temos de aproveitar as oportunidades. Vivo na Póvoa de Santa Iria há 34 anos, tenho 50 anos e estou muito grato pelas experiências que a cidade e o clube me têm proporcionado.

Um clube de bairro que já é uma marca da cidade

O CPCD – Centro Popular de Cultura e Desporto – da Póvoa de Santa Iria é uma colectividade sem fins lucrativos do concelho de Vila Franca de Xira e um dos maiores clubes do concelho. Foi fundado a 1 de Novembro de 1976 por vontade de um grupo de moradores dos bairros da Vidreira e da Bolonha que diariamente se encontravam para jogar às cartas.
Desde a sua fundação o clube cresceu rapidamente dinamizando diversos eventos e actividades destinadas à comunidade local. Em 1978, como reconhecimento pelo seu desempenho junto da população, a Câmara de Vila Franca de Xira cedeu-lhe as primeiras instalações que cedo se revelaram insuficientes para acolher todas as actividades que ali eram realizadas. Em 1997 foi inaugurada a sede onde hoje se encontra, na Avenida Póvoa de Dom Martinho.
Desde que foi criado que o CPCD tentou responder às necessidades dos seus associados e da população da cidade promovendo actividades nas áreas do desporto e cultura, nomeadamente futsal, atletismo, ginástica de manutenção, ténis de mesa, futsal feminino, secção de campismo e caravanismo, natação, karaté, aikido, tiro com arco, marchas populares, grupo de música popular portuguesa, ginástica e hip hop.
Uma das vezes que o clube tentou ser mais que uma colectividade de bairro assumindo uma equipa sénior de futsal acumulou dívidas a rondar os 40 mil euros e em 2016 esteve para fechar portas por não existirem listas concorrentes aos órgãos sociais. Foi nessa altura que Joaquim Ramos e outros sócios se uniram para lhe dar continuidade, o que foi conseguido.
O CPCD adaptou-se às novas realidades e tem hoje mais de 550 atletas, distribuídos pelas modalidades de cycling, karaté, kenpo filipino, krav maga, sevilhanas, música popular portuguesa, zumba, hip hop, um grupo musical dos anos 60 e as duas modalidades que mais títulos têm alcançado para a bandeira do clube povoense: a natação e o futsal.
O clube também disponibiliza consultas de nutricionismo, mental coaching e apoio ao estudo para os alunos das escolas. Através de um protocolo com o Agrupamento de Escolas da Póvoa de Santa Iria suporta na totalidade as mensalidades de cinco alunos com dificuldades económicas que frequentam modalidades no CPCD.
Foi também com os actuais dirigentes que o clube conseguiu ganhar novo protagonismo, organizar as suas contas e estar mais presente na vida quotidiana da cidade. O ringue desportivo do CPCD está a receber obras financiadas pelo município que visam criar uma cobertura e deverão estar concluídas nos próximos meses. O clube decidiu, entretanto, que irá concluir as obras para tornar o recinto num pavilhão fechado para os seus atletas.

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