“A nossa excessiva centralidade não permite atribuir verbas para investimentos fora dos fundos comunitários”

Cinquenta anos de indecisão e de indiferença já custaram muito caro a Portugal. O aeroporto e o TGV são projectos de mobilidade fundamentais para todos nós. Não são um custo, são um investimento.
Qual foi a altura em que se sentiu mais optimista, quer a nível profissional, quer pessoal?
Quem me conhece sabe que o optimismo não é o meu ponto forte em quase nada.
Quando se refere à nossa região, a que se refere em concreto?
Refiro-me a uma região que é, maioritariamente da província, mas que está próxima de Lisboa, ou seja uma região que tem o bom da qualidade de vida às portas da capital do país.
Que alterações defende para dar mais consistência à nossa região e que entraves existem para as concretizar?
Sou, desde sempre, um defensor das Regiões e da Regionalização. Esta é a única forma de no futuro mudarmos e garantirmos que esta região tem futuro. No entanto estamos à espera que a proposta do Governo de criação de uma nova NUTII seja aprovada por Bruxelas. Este passo ajudará no futuro a reforçar a identidade.
Como imagina o futuro da região?
Imagino uma região com mais qualidade de vida e com mais oportunidades, com mais emprego qualificado e melhor remunerado.
Como encara a notícia do interesse de um grupo de investidores privados em fazer um aeroporto em Santarém?
Encaro bem. É importante que a questão do aeroporto se resolva finalmente. A região e o pPaís precisam de uma solução. Cinquenta anos de indecisão e de indiferença já custaram muito caro a Portugal. O aeroporto e o TGV são projectos de mobilidade fundamentais para todos nós. Não são um custo, são um investimento. Se dúvidas houvesse basta ver os resultados da ANA e o facto de haver privados interessados em fazer um aeroporto que será pago com as taxas aeroportuárias.
Quais considera terem sido os maiores sucessos da região nos últimos trinta e cinco anos?
A melhoria das infra-estruturas, da mobilidade, da oferta na área da educação, desporto e cultura. Numa palavra: a nossa qualidade de vida colectiva.
E os maiores fracassos?
O crescimento e a falta de influência política em Lisboa. Houve tempos que com Jorge Lacão e Miguel Relvas essa influência existiu, mas foi “sol de pouca dura” como se diz.
Portugal é o país da União Europeia mais dependente dos fundos europeus. Será que já não conseguimos fazer nada sem os fundos comunitários?
Enquanto a política global do país for esta, não. Portugal tem nas autarquias aqueles que mais investem e os que menos recebem do Orçamento de Estado. A nossa excessiva centralidade não permite atribuir as verbas necessárias para investimentos fora dos Fundos Comunitários. Por isso digo e repito: sem regiões nada disto muda.
Uma significativa parte da população recebe informação seleccionada por algoritmos e difundida automaticamente pelas redes sociais. Como selecciona a informação que lhe pode ser útil?
Eu uso o que o algoritmo me mostra, mas ao mesmo tempo procuro a minha informação. Muitas vezes sigo pessoas e grupos que são a antítese do meu pensamento porque quero perceber o que dizem e os seus argumentos, sendo que as notícias regionais e locais têm para mim uma enorme importância.
Considera que a informação mais relevante relativa ao seu trabalho e à sua organização está a chegar aos destinatários?
Penso que sim, mas sem certezas, aliás, nestas matérias de comunicação poucas são as certezas. A melhor forma, às vezes, é a antiga, do “boca a boca” ou “porta a porta”. Apesar de toda a tecnologia, ainda acho que em certos conteúdos é a mais eficaz.