“O maior sucesso da nossa região passou muito por nunca termos perdido a nossa identidade”

Os fundos comunitários são um acelerador de investimento, ou seja, seria inevitável fazer as intervenções que têm sido feitas, no entanto demoraríamos muito mais anos a atingir estes objectivos.
Qual foi a altura em que se sentiu mais optimista, quer a nível profissional quer pessoal?
Sou um optimista por natureza por isso não consigo identificar um momento em particular. Acredito muito no meu trabalho, no trabalho dos meus colegas do executivo e no trabalho dos trabalhadores do município. Nos princípios e valores que me foram transmitidos pela minha família e pela comunidade abrantina. O meu natural optimismo vem muito disso.
Qual foi o mais recente sucesso?
No âmbito da conversão da Central Termoeléctrica do Pego fomos chamados a contribuir para que Portugal atingisse os objectivos da descarbonização. Sofremos com isso graves prejuízos económicos e sociais, mas apesar das dificuldades, nunca desistimos de encontrar as soluções que a nossa comunidade desejava e merecia.
O que foi conseguido?
Neste momento temos um investimento em curso por parte da Endesa de cerca de 600 milhões de euros no concelho e na região. Estamos também a trabalhar no Fundo de Transição Justa onde, nesta primeira fase, já tivemos candidaturas que representam um investimento elegível em Abrantes de cerca de 50 milhões de euros. A nossa expectativa é que estes investimentos gerem centenas de postos de trabalho e uma valorização imensa da nossa economia local e do próprio concelho e região.
Quando se refere à nossa região a que se refere em concreto?
Refiro-me em concreto à região do Médio Tejo. No entanto, era muito importante que esta região se tornasse maior e mais robusta onde se inclua o Médio Tejo a Lezíria do Tejo e o Oeste. Estes três territórios possuem uma identidade própria e têm todas as condições para o desenvolvimento de uma boa estratégia comum, na construção de projectos estruturantes e simultaneamente potenciando uma nova visão de gestão do território. É fundamental que se avance para a criação de uma nova NUT II que agregue aquelas regiões.
Como encara a notícia do interesse de um grupo de investidores privados em fazer um aeroporto em Santarém?
Com grande optimismo e satisfação. Fiquei muito agradado com a proposta do novo aeroporto em Santarém, que tive a oportunidade de conhecer no âmbito de uma apresentação na Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo. Do que conheço de todos os potenciais destinos e dos seus projectos esta é uma excelente opção para o futuro do país. A ser concretizada permitirá transformar por completo toda a região trazendo emprego, manutenção e atracção de população para a região, mais turismo e desenvolvimento.
Quando se perspectiva o futuro costuma olhar-se para o passado. Neste caso do aeroporto vale a pena fazer esse exercício ou é melhor ignorar o que se passou?
A maior lição que podemos retirar destas cinco décadas de indecisão sobre a localização do aeroporto é a forma enviesada como o país tem crescido em favor do litoral. Portugal tem de se virar para o seu interior defendendo-o e potenciando o seu crescimento. Por isso reafirmo que a construção do mesmo em Santarém é uma oportunidade histórica para o país.
Quais considera terem sido os maiores sucessos da região nos últimos trinta e cinco anos?
Considero que o maior sucesso da nossa região passou muito por nunca termos perdido a nossa identidade. A nossa cultura, os nossos valores, a defesa do nosso património material e imaterial. Não tenho dúvida que é esta reafirmação constante da nossa essência que nos permitirá conquistar o futuro.
E os maiores fracassos?
Temos certamente fracassos próprios que poderemos atribuir ao poder local e às comunidades, mas continuo a achar que o maior fracasso foi o abandono a que a região foi sujeita por parte dos vários Governos que não soube defender a unidade do território.
Portugal é o país da União Europeia mais dependente dos fundos europeus. Já não conseguimos fazer nada sem os fundos comunitários?
Julgo que a questão não será tanto não conseguirmos fazer nada sem os fundos comunitários, mas sim não sermos suficientemente eficientes na sua utilização. De qualquer forma, parece-me evidente o crescimento e desenvolvimento do país após a nossa adesão à comunidade europeia.
Qual o impacto dos mesmos no seu concelho?
Temos uma utilização muito assertiva dos fundos europeus investindo-os em infra-estruturas fundamentais para o desenvolvimento e o futuro do concelho. O caso do novo Centro Escolar de Abrantes, que inaugurámos no início deste ano lectivo, permite aos nossos jovens terem as melhores condições para desenvolverem os seus percursos escolares com sucesso, é um bom exemplo. Os fundos comunitários são um acelerador de investimento, ou seja, seria inevitável fazer as intervenções que têm sido feitas, no entanto demoraríamos muito mais anos a atingir estes objectivos.
Uma significativa parte da população recebe informação seleccionada por algoritmos e difundida automaticamente pelas redes sociais. É o seu caso?
As redes sociais têm as suas desvantagens, mas também as suas vantagens. Na utilização que faço não procuro muito a informação, já que tenho por hábito ler as notícias disponíveis online e ainda gosto muito de folhear os jornais em papel. Nos últimos anos tenho utilizado mais as redes sociais como meio de trabalho, o que me permite ter um meio adicional de contacto directo com os abrantinos, mas não há rede social que substitua o contacto directo com as pessoas nas ruas.
O que gostaria de acrescentar?
Deixar uma mensagem de parabéns pelo 35º aniversário do O MIRANTE, de que sou leitor regular, reconhecendo o grande contributo que o jornal e os seus trabalhadores têm prestado à nossa comunidade e desejando que continuem a informar bem e por muitos e bons anos.