O MIRANTE | 19-11-2022 10:00

“A melhoria na qualidade de vida não se reflectiu da mesma forma em todo o território”

“A melhoria na qualidade de vida não se reflectiu da mesma forma em todo o território”
ESPECIAL 35 ANOS DE O MIRANTE
Pedro Machado Presidente do Turismo Centro de Portugal

Receio que só quando a torneira dos fundos europeus reduzir o seu caudal é que o país desperta para a necessidade de arregaçar as mangas e de fazer mais em prol do seu próprio desenvolvimento.

A altura em que me senti mais optimista é precisamente esta. Por um lado, porque vejo sinais de que os próximos anos, apesar de todas as dificuldades, vão ser muito positivos para a actividade turística na região – e, com isso, vão ganhar os habitantes, em especial nas zonas menos favorecidas, onde o turismo é a principal fonte de receitas. Por outro, porque estou a alguns meses de encerrar a minha passagem pela presidência da Turismo Centro de Portugal e encaro com grande entusiasmo os próximos desafios.

Todos nós, em todas as actividades, precisamos de indicadores e de dados fiáveis sobre o futuro. Sem isso, torna-se difícil desenhar estratégias a médio e longo prazo. Mas a verdade é que, nos últimos anos, a realidade tratou de trocar as voltas a todas as previsões. Quem esperaria que houvesse uma pandemia no séc. XXI?

E que logo a seguir a guerra regressasse à Europa. Por isso, tentar prever o futuro é uma tarefa inglória. Ainda assim, prevejo um futuro próspero para a região. É uma previsão que tem como base o melhor dos indicadores: as pessoas.

Sou há muito defensor de uma solução aeroportuária que sirva os interesses da região Centro de Portugal, não apenas para o turismo como para a indústria e outras actividades económicas. Uma região com esta importância justifica a criação de um aeroporto, que lhe permita deixar de ficar dependente dos aeroportos de Lisboa e Porto. Santarém pode reunir essas características, assim como outras localizações possíveis no território.

A região Centro de Portugal mudou muitíssimo nestes últimos 35 anos como O MIRANTE teve oportunidade de acompanhar, desde a sua fundação. Em 1987 era uma região por fazer a todos os níveis e quase parada no tempo. A nível económico era iminentemente rural, aqui e ali com alguma indústria. No sector do turismo os focos de atracção eram Fátima, Serra da Estrela e pouco mais. As vias de comunicação eram antigas; ir de carro para outras regiões constituía um desafio.

Esta região, que é a segunda maior região do país, é composta por 100 municípios e por oito sub-regiões, entre as quais o Médio Tejo. As outras são Aveiro, Coimbra, Leiria, Oeste, Viseu Dão-Lafões, Beira Baixa, Beiras e Serra da Estrela e Médio Tejo. É, sem dúvida, a mais diversificada região do país, com um território que concilia a tradição rural, das aldeias e vilas, com a modernidade das cidades; que tem uma costa marítima de excepção, mas também as melhores praias fluviais; que tem locais Património da Humanidade e um destino de peregrinação conhecido em todo o mundo. E que tem a serra mais alta de Portugal continental.

Pese embora os muitos erros cometidos ao longo destes anos é evidente a enorme evolução. Hoje, as cidades e vilas da região são modernas, com infra-estruturas adequadas ao serviço das populações. A nível do turismo a criação da marca de Turismo Centro de Portugal foi também um grande sucesso, comprovada pelo número crescente de visitantes ao território – que já não visitam apenas os destinos tradicionais, mas se deslocam por toda a região e durante todo o ano.

Não considero que seja um fracasso, mas penso que não estamos a conseguir um desenvolvimento homogéneo. A evidente melhoria na qualidade de vida não se reflectiu da mesma forma em todo o território. Há fatias importantes que estão desertificadas e que não conseguem atrair habitantes pela escassa oferta de serviços essenciais e de empregos. Se não se inverter este rumo é a sustentabilidade futura da região que fica em causa.

A União Europeia tem sido generosa com os países periféricos nas últimas décadas mas em muitos casos isso criou o hábito pernicioso da dependência. Há bons exemplos que contrariam essa evidência, de investimentos públicos e privados que não dependem de financiamento europeu, mas são menos do que seria desejável. Receio que só quando a torneira dos fundos europeus reduzir o seu caudal é que o país desperta para a necessidade de arregaçar as mangas e de fazer mais em prol do seu próprio desenvolvimento, sem estar tão dependente de terceiros.

Confiar apenas no que as redes sociais nos mostram no nosso perfil é um erro. Tenho o cuidado de procurar diversificar as fontes de informação. Como passo muitas horas na estrada estou particularmente atento ao meio rádio. Em casa ou no escritório procuro pôr a leitura em dia, através de jornais nacionais e locais, seja em papel seja online, e também através de meios de comunicação especializados em turismo. Subscrevo também newsletters que me interessam.

É com grande satisfação que vejo O MIRANTE, referência na imprensa regional, comemorar os 35 anos. São muitas edições impressas que demonstram a vitalidade e criatividade de uma equipa que, dia após dia, se esforça para oferecer aos seus leitores um produto informativo de qualidade. Nunca é demais louvar a importância que a imprensa regional assume para os territórios mais afastados dos centros de decisão. Uma imprensa regional forte, livre, independente, frontal, de qualidade, é fundamental. Saúdo o jornal, na figura do seu director geral, Joaquim António Emídio, a redacção e toda a restante equipa por estes frutuosos 35 anos. Que continuem o bom trabalho! .

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