O MIRANTE | 02-03-2023 17:00

Apoios financeiros ao Vasco da Gama são para investimento nas instalações

Apoios financeiros ao Vasco da Gama são para investimento nas instalações
ESPECIAL PERSONALIDADES DO ANO
Associação Desportiva Recreativa e Cultural Vasco da Gama nasceu em 1981 com o intuito de unir as aldeias de Maxieira e Boleiros, ambas da freguesia de Fátima

A Associação Desportiva Recreativa e Cultural Vasco da Gama foi fundada em 1981 e nasceu com o intuito de unir as aldeias de Maxieira e Boleiros, ambas da freguesia de Fátima, concelho de Ourém. E o campo de futebol foi construído propositadamente num terreno que pertence às duas aldeias. Uma parte numa e outra noutra. O nome foi dado por dois emigrantes no Brasil, que eram adeptos do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Ana Reis é a presidente da direcção desde Julho do ano passado mas faz parte dos órgãos sociais desde 2015.

Como é ser dirigente mulher?

As mulheres, em geral, têm uma sensibilidade diferente da dos homens e por isso a gestão é feita de forma diferente. É só isso. Não escondo que por vezes tenho que contar até 10 para não responder quando não gosto de alguma coisa, ou não considero justo o que está a ser dito, mas tudo faz parte da gestão de uma associação como a nossa. Não respondo mal a ninguém nem sou indelicada mas falo assertivamente quando é preciso.

Como se define?

Sou uma pessoa com muita iniciativa. Se numa reunião definimos tarefas para o mês seguinte e se vejo que alguns deixam andar até à última, não estou à espera. As coisas têm que andar para a frente e não estou a ver quem fez ou não fez. Se tem que ser feito vai ser feito. Às vezes delego e não fazem e depois eu faço, mas não mando nada à cara de ninguém. O que quero é que o clube ande para a frente.

Como concilia o emprego com a gestão do clube? A família reclama?

A família perde um bocado, mas como trabalho por conta própria consigo gerir melhor o meu horário. Faço muita coisa para o clube durante o dia. À noite dedico--me mais ao meu trabalho e consigo estar com a minha família. É tudo uma questão de saber gerir o meu horário e a minha vida. Felizmente o meu marido entende este meu amor ao associativismo e a paixão que tenho pelo Vasco da Gama.

De onde vem essa paixão pelo associativismo?

Gosto muito de ajudar, desde sempre. Nasci em Angola e vim para Portugal com seis anos e ajudaram-nos imenso quando chegámos. Talvez essa ajuda que tivemos ficou incutida em mim porque gosto mesmo de ajudar sem receber nada em troca. Sabe-me bem trabalhar ou ajudar em tudo o que puder, neste caso, ajudar o clube a crescer.

Como é que se preparou para ser dirigente associativa?

Isto não tem preparação. Vamos aprendendo no dia-a-dia. Tenho espírito de liderança e sou uma pessoa muito organizada. Gosto de incentivar as pessoas a caminhar comigo em prol do sucesso do clube. Sou uma pessoa bem-disposta, brincalhona, estou sempre disponível e faço as coisas de boa vontade e isso também atrai as pessoas. Mas tenho um coração mole. Não dava para ser treinadora, por exemplo, porque por mim ou jogavam todos os atletas ou não jogava nenhum. Acho que não conseguiria colocar nenhum no banco. Além disso, sou muito defensora dos atletas e dos pais.

Os pais dos jogadores das camadas jovens são uma ajuda ou às vezes atrapalham?

Ajudam muito o clube. Os pais levam os filhos para os jogos e ajudam em tudo o que for preciso.

E mandam ‘bitaites’, como se costuma dizer?

Isso faz parte do desporto, mas não temos muitos pais assim. Conversamos com eles no início da época e alertamos para essa situação. É preciso aceitar as decisões dos treinadores mesmo quando o filho fica no banco.

Como faz para gerir as sensibilidades dos pais?

Este ano candidatamo-nos à Bandeira de Ética com a ideia “Calça a chuteira do outro” para colocarmos os pais a jogar e os filhos na bancada. O objectivo é que os pais oiçam o que os filhos não gostam de ouvir quando estão a jogar, para terem outra percepção do que é estar no campo a ouvir o que vem das bancadas.

Praticou desporto quando era nova?

A casa dos meus pais é aqui ao lado e quando era garota passava as tardes a jogar à bola. Ainda pertenci a uma equipa feminina. Jogava a avançada.

Tem frequentado acções de formação?

A Federação Distrital de Futebol e a Associação de Futebol de Santarém têm divulgado algumas formações nos processos de certificação. Estes processos de certificação só vêm qualificar os clubes e os dirigentes. Criam regras, organizam o trabalho. Independentemente de muitas coisas serem feitas em cima do joelho ajudam muito os clubes a nível de organização. Sem este tipo de formação teríamos mais dificuldade em crescer e evoluir.

Os clubes estão dependentes do poder político?

O apoio financeiro que a Câmara de Ourém dá ao Vasco da Gama não o gastamos nos gastos normais. Parte desse valor retemos para fazer investimentos no clube como melhoramentos, comprar balizas, construímos um ginásio junto das bancadas. Agora recebemos cerca de 30 mil euros por ano mas há três anos recebíamos 1.500 euros.

Porquê?

Agora recebemos pelo número de jogadores e por competições e por isso aumentou o valor.

Que outras fontes de rendimento têm?

Temos um bar, que é a entrada do clube, que exploramos. Esse dinheiro dá para pagar os gastos do clube com água, luz, gás, combustíveis das carrinhas. As compensações aos treinadores pelas deslocações também são pagas com as mensalidades dos jogadores.

Qual é o tempo ideal para se dirigir um clube e dar a vez a outro?

Quatro anos. O primeiro ano é para os dirigentes se adaptarem. O segundo ano é para realizar os objectivos que pretendem melhorar e os últimos dois anos é para executar aquilo a que se propuseram. Por isso já estou cá há tempo a mais. Menos que quatro anos é difícil para fazer aquilo que pretendem. Mas é muito difícil encontrar pessoas para o associativismo.

Qual o momento mais marcante do clube?

O primeiro torneio que organizámos. O Vasquinho Cup, em 2018. Nunca tínhamos feito nenhum torneio. Tivemos várias equipas de fora, 24 no total, e 240 atletas. Correu muito bem. Foi um orgulho. Para mim foi marcante por tudo o que envolveu apesar de ter dado muito trabalho. E a satisfação dos pais e dos atletas foi muito reconfortante. Actualmente, é o nosso evento de referência, que se realiza a 1 de Maio.

E o momento mais difícil?

Quando andámos a remodelar o campo sintético, em 2017. Foram meses complicados. Tínhamos 120 atletas, a obra atrasou-se, e quando começámos os treinos, em Setembro, não tínhamos campo para treinar. Solicitamos campos aos clubes aqui perto para treinar mas não havia disponibilidade. Fomos treinar para Monsanto, concelho de Alcanena. Foi uma logística enorme. Andamos a transportar 120 atletas durante dois meses para Monsanto. Quando começámos os campeonatos tivemos de jogar também em Monsanto. Foi um momento de muita união entre todos, mas muito difícil.

Qual a importância para o clube ser distinguido com o prémio Personalidade do Ano de O MIRANTE?

Apesar de ser muito activa e dinâmica no clube não gosto de aparecer. Gosto de ficar nos bastidores. A distinção não me envaidece, fico grata porque é bom para o clube e dá-lhe uma grande projecção. E acaba por ser um reconhecimento do tempo que passo aqui e do trabalho que tenho diariamente, assim como de todos os dirigentes da nossa associação.

Um pequeno clube repleto de crianças e jovens em formação

A Associação Desportiva Recreativa e Cultural Vasco da Gama nasceu em 1981 com o intuito de unir as aldeias de Maxieira e Boleiros, ambas da freguesia de Fátima, concelho de Ourém. O nome do clube foi inspirado pelo Vasco da Gama, do Rio de Janeiro (Brasil) por influência de emigrantes.

Actualmente o Vasco da Gama tem duzentos e cinquenta praticantes de futebol, masculinos e femininos, divididos por vários escalões. A principal aposta é na formação. As quatro equipas femininas são de sub13, sub17, sub19 e seniores. As equipas masculinas dividem-se em seniores; juniores; juvenis; duas equipas de iniciados; sub13 (que jogam futebol 9); sub11; sub10; duas equipas de petizes e duas equipas de ‘traquinas’. Todas as equipas jogam na primeira divisão distrital à excepção dos seniores que estão na segunda distrital.

A equipa de seniores surgiu durante a pandemia de Covid-19 porque os juniores não podiam participar em campeonatos mas os seniores sim. Para minimizar a frustração de atletas sem competir o clube inscreveu uma equipa sénior com os futebolistas juniores. Actualmente os 25 elementos, 19 vieram da formação e, segundo a direcção nenhum é remunerado. A actual presidente é uma mulher, Ana Reis, que assumiu o cargo em Julho de 2022, mas integra a direcção desde 2015. O clube organiza, desde 2018, um torneio denominado “Vasquinho Cup”.

Há cerca de três anos foi constituída uma equipa de Boccia, com reformados com mais de 65 anos. São 17 atletas que adoram a modalidade e angariam as verbas necessárias para pagar as deslocações para os torneios em que participam, um pouco por todo o país.

Com pouco mais de uma centena de associados o orçamento anual é de cerca de 100 mil euros e o Vasco da Gama tem um apoio anual de cerca de 30 mil euros da Câmara de Ourém.

Depois da requalificação dos balneários o Vasco da Gama gostava de requalificar a sede, nomeadamente o telhado e a sala polivalente onde são feitos almoços de convívios e onde os atletas estudam enquanto não começam os treinos.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1657
    27-03-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1657
    27-03-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo