O MIRANTE | 17-11-2023 15:00

Dificuldades dos jornais são reflexo de um empobrecimento da democracia e da cidadania

Dificuldades dos jornais são reflexo de um empobrecimento da democracia e da cidadania
36 ANOS DE O MIRANTE
Domingos Martinho, 69 anos, director do ISLA Santarém

O país é o reflexo daquilo que fomos capazes de construir. Não adianta acharmos que a culpa é dos outros, somos todos responsáveis pelo “estado a que isto chegou” como diria Salgueiro Maia.

O que foi para si o 25 de Abril de 1974?

Tinha 19 anos em 25 de Abril de 1974 e lembro-me muito bem da alegria que senti nesse dia e que, apesar de todos os altos e baixos por que o país tem passado, nunca esquecerei. Considero que o saldo entre o “deve” e o “haver” continua a ser positivo. Para mim o 25 de Abril e a Revolução dos Cravos foi, é, o reencontro de Portugal com os portugueses. O país é o reflexo daquilo que fomos capazes de construir. Não adianta acharmos que a culpa é dos outros. Somos todos responsáveis pelo “estado a que isto chegou” como diria Salgueiro Maia.

Consegue explicar, com um ou dois exemplos, como acha que seria a sua vida, a nível pessoal e profissional, num país não democrático?

Se vivêssemos num país não democrático, dito de outro modo, se não tivesse existido o 25 de Abril, nunca teria tido possibilidade de exercer a profissão e as funções que actualmente desempenho. Foi a liberdade de escolher e as oportunidades que a vida num país democrático me proporcionaram que possibilitaram que isso acontecesse.

Numa escala de 1 a 10, que classificação dava à classe política que vai festejar os 50 anos do 25 de Abril na Assembleia da República?

Dava-lhe 4.

Na Constituição da República estão inscritos os direitos e os deveres dos cidadãos. É capaz de indicar dois ou três dos nossos deveres constitucionais?

Liberdade de aprender e ensinar; Direito à liberdade e à segurança; Direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento bem como o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações.

Os órgãos de comunicação social têm que estar registados e os seus responsáveis identificados. E tem que cumprir leis, nomeadamente a Lei de Imprensa. Deve continuar assim ou os jornais devem ter maior liberdade?

Num Estado de Direito democrático ninguém deve estar acima da lei. Outra coisa diferente é considerarmos que determinada lei, neste caso a lei de imprensa, é adequada ou pode e deve ser alterada.

Há cada vez mais pessoas que optam por ser informadas através do que lhes chega pelas redes sociais. É o seu caso?

Acredito que o papel mediador da comunicação social é essencial numa sociedade democrática, mas não sou imune às “notícias” que me chegam através de outros meios nomeadamente através das redes sociais. Cerca de 80 ou 90% da informação que consumo é através da comunicação social, mas não tenho dúvidas que as redes sociais estão a ganhar terreno e se o Estado não conseguir qualquer forma de regulação ficaremos todos mais pobres. A comunicação social tem que se adaptar aos novos tempos e continuar, eventualmente por outros meios, a desempenhar um papel fundamental na sociedade.

A informação devia ser toda gratuita e de acesso livre?

Não, de maneira nenhuma. A informação deve ser paga e regulada. Só assim poderemos ser exigentes com essa mesma informação.

Há muitos jornais em dificuldades e alguns já deixaram de se editar, nomeadamente regionais? Como vê essa situação?

Preocupa-me, porque essas dificuldades são reflexo de um empobrecimento da democracia e da cidadania.

Como encara o avanço da Inteligência Artificial?

Inteligência Artificial (IA) está impactando diversos aspectos da sociedade, desde a forma como consumimos informações até a maneira como realizamos tarefas quotidianas. Nada adianta criticar, ficar contra ou outra atitude idêntica pois, tal como aconteceu no passado com outras tecnologias. Devemos conhecê-la e aprender como tirar o melhor partido da mesma. Ela já está a impactar de forma positiva uma parte substancial da nossa vida. Ficam alguns exemplos: Assistentes Virtuais, Recomendações Personalizadas, Saúde e Medicina, Carros Autónomos, Análise de dados financeiros, sistemas de aprendizagem personalizados, atendimento a consultas de clientes, automatização de processos nas empresas.

Está confortável com isso?

Alguns vêem a IA como uma ferramenta poderosa que pode melhorar a qualidade de vida, aumentar a eficiência e resolver problemas complexos. Outros têm preocupações sobre questões éticas, privacidade e segurança relacionadas ao uso da IA. É importante que a sociedade continue a debater e regulamentar o uso da IA para garantir que seus benefícios sejam maximizados e seus riscos minimizados. Portanto, estar confortável ou não com a presença crescente da IA na vida quotidiana é uma questão pessoal e depende de como cada indivíduo percebe e avalia esses avanços.

Nota: As respostas a este tema da IA foram construídas com recurso à IA (ChatGPT).

As alterações climáticas são uma realidade ou há muito exagero no que é apresentado? Vale a pena alterarmos alguns comportamentos?

Se não fizermos nada das duas uma: ou não acreditamos que o problema existe ou então perdemos todo o respeito pela nossa vida e daqueles que nos vão continuar nomeadamente dos nossos filhos e netos. Temos o dever de mudar comportamentos, quer individuais quer influenciando a mudança de comportamentos colectivos. Tenho vindo a alterar comportamentos individuais, nomeadamente no que se refere à gestão de resíduos e à mobilidade (utilização de viatura eléctrica).

Qual foi o último texto que leu em O MIRANTE de que gostou?

Entidade Regional de Turismo quer afirmar o Ribatejo como destino turístico para os portugueses.

O que é que não lhe perguntamos que gostava de responder?

Que contributo cada um de nós dá, ou está disposto a dar, para que a Revolução dos Cravos possa ser cumprida (mesmo sabendo que não existe uma visão única sobre este tema)?

Parabéns a O MIRANTE pela iniciativa e por nos colocar a reflectir sobre estes temas.

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