O MIRANTE | 17-11-2023 08:00

Limites entre o respeito pelo outro e a liberdade de expressão estão a ficar difusos e isso gera injustiças

Limites entre o respeito pelo outro e a liberdade de expressão estão a ficar difusos e isso gera injustiças
36 ANOS DE O MIRANTE
Purificação Pereira Reis, 59 anos, presidente da direcção da ACISO – Associação Empresarial de Ourém Fátima

Dos deveres, saliento o de pugnarmos pela paz e o da solidariedade recíproca. Mas também o dever de pagarmos impostos para que “sonhemos” ter acesso aos direitos consagrados.

É entusiasmante o contributo que a Inteligência Artificial pode ter para melhorar a vida humana. Mas também é assustador o papel que pode ter na limitação do nosso direito à privacidade e na destruição de muitos dos valores conquistados. Será que estamos num caminho em que seremos manipulados sem disso termos consciência? Como regular a sua utilização e desenvolvimento para garantir que ela beneficie a sociedade é a questão para a qual espero que seja encontrada resposta.

A evidência científica mostra que a actividade humana está a contribuir para o aumento das temperaturas e para mudanças no clima. É crucial adoptar práticas mais sustentáveis como a redução do uso de combustíveis fósseis, a conservação de recursos naturais e a promoção de energias renováveis. A nível pessoal adoptei novos comportamentos, ao nível da reciclagem, na reutilização de embalagens e outros produtos, na redução do consumo de carne, na redução e reutilização da água, na colocação de painéis solares, entre outros.

É pena que nos fiquem dúvidas sobre a pressão que o poder económico consegue ter nas decisões relativas ao clima. Quer nas adoptadas pelos governos, quer nas que deveriam ser adoptadas e não são. Não percebo, por exemplo, porque temos dois e três tipos de embalagem no mesmo produto no supermercado; porque não se passa directamente para investimento no hidrogénio verde e se está a investir numa rede de viaturas eléctricas; porque não se aposta em centrais de dessalinização num país banhado pelo mar, entre muitos outros aspectos.

Em 1974 eu tinha 10 anos e lembro-me do entusiasmo e do burburinho que a revolução criou sem eu perceber muito bem do que se tratava. Lembro-me dos movimentos estudantis e do impacto que tiveram na escola. A pouco e pouco fui percebendo o 25 de Abril como acontecimento histórico, crucial para Portugal, marcando o fim da ditadura e o estabelecimento da democracia. Um acontecimento que trouxe liberdades individuais e políticas que foram fundamentais para o desenvolvimento do país.

Num país não democrático a liberdade de expressão e os direitos individuais são frequentemente restringidos. Se vivesse essa situação sentir-me-ia limitada e incompleta no exercício da minha cidadania. Certo é, contudo, que estamos num caminho em que os limites entre o respeito pelo outro e a liberdade de expressão são difusos e geradores das maiores injustiças, principalmente no âmbito das redes sociais, onde extremismos e populismos crescem de forma exponencial.

Dos deveres inscritos na Constituição saliento o de pugnarmos pela paz e o dever de solidariedade recíproca. Mas também o dever de pagarmos impostos para que “sonhemos” ter acesso aos direitos consagrados.

As classificações generalistas dos políticos são perigosas. Há tendência a atribuir uma baixa classificação e nem todos os políticos aí se enquadram. Embora lamente a baixa qualidade da maioria dos políticos, situação que afasta, cada vez mais, as pessoas competentes da política, reconheço que existem alguns políticos muito bons que tentam fazer um grande trabalho.

A tendência de consumo de notícias através das redes sociais é uma realidade ditada pela comodidade e pelo acesso imediato. No entanto, é importante considerar a fonte e a veracidade das informações recebidas por meio das redes sociais uma vez que a desinformação também é divulgada por esse mesmo canal. O verdadeiro desafio que se coloca é aprender a verificar as fontes fidedignas.

A liberdade de imprensa é um valor fundamental em qualquer sociedade democrática. A confiança na qualidade e na veracidade da informação é fundamental sendo que essa garantia vem, em parte, pela regulamentação e pelas normas éticas da profissão. Equilibrar a regulamentação e a liberdade de imprensa é, certamente, um permanente desafio.

Não sou grande utilizadora das redes sociais mas, cada vez mais, pesquiso informação online sobre temas que me despertam interesse. A disponibilidade da informação gratuita e de acesso livre é, por princípio, benéfica para a sociedade. Informações gratuitas e de acesso livre são fundamentais para a difusão do conhecimento, para a educação e para fomentar a participação pública.

A mudança nos hábitos de leitura e a crise na indústria jornalística são preocupantes. O jornalismo desempenha um papel fundamental na democracia e a perda de fontes confiáveis ​​de informação pode enfraquecer a sociedade e a democracia, o que, logicamente, me preocupa. É importante encontrar modelos de negócios sustentáveis para o jornalismo, bem como educar o público sobre a importância do jornalismo de qualidade.

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