Sou defensor da liberdade de expressão responsável e com pouca ou nenhuma burocracia
Basta enviarmos uns e-mails ou umas mensagens com conteúdos específicos para que, passado pouco tempo, comecemos a receber informação sobre esses conteúdos sem o pedirmos. É a inteligência artificial a funcionar.
O MIRANTE sai semanalmente em papel, desde Novembro de 1987 e edita notícias online a qualquer hora, desde Novembro de 2002, mas para o fazer tem que estar registado e os seus responsáveis identificados. E tem que cumprir leis, nomeadamente a lei de imprensa. Deve continuar assim ou os jornais devem ter maior liberdade?
Como sabemos estamos a falar de uma área muito sensível que tem a ver com a liberdade de expressão escrita, uma das principais conquistas de Abril. Sou defensor dessa Liberdade com responsabilidade. Mas também sei que a burocracia é um dos principais problemas do país que mina essa liberdade, devendo, por isso, ser rapidamente resolvido. Em suma, sou defensor da liberdade de expressão responsável e com pouca ou nenhuma burocracia.
Há cada vez mais pessoas que optam por ser informadas através do que lhes chega pelas redes sociais. É o seu caso? Qual é a percentagem da informação que recebe desse modo?
Continuo a dar mais importância aos órgãos de informação tradicionais (imprensa, rádio e televisão), embora não descure as redes sociais pois estas têm uma força incrível, quanto a mim, desmesurada tanto no sentido positivo como no negativo. Em termos de proporção diria que 60% da informação que recebo é pelas vias tradicionais mas sei que o futuro está mais com as redes sociais pois estamos num mundo que privilegia o ‘fast information’, o imediatismo arriscado em detrimento do consolidado.
A informação devia ser toda gratuita e de acesso livre? Como acha que isso poderia ser feito?
Ao que é gratuito atribui-se, tendencialmente, menos valor. Pelo que alguma informação diferenciada e muito importante, a bem da própria informação, não deva ser gratuita.
Os hábitos de leitura mudaram e há muitos jornais em dificuldades, alguns dos quais de âmbito nacional e outros que já deixaram de se editar, nomeadamente regionais? É algo que o preocupa?
Preocupa-me e muito pois quanto maior for a concentração dos média maior será a probabilidade da informação ser enviesada e manipulada. Sou apologista da existência de uma grande diversidade de jornais regionais e nacionais. No entanto, sei que o contexto de hoje está em contra-ciclo com o que defendo.
Consegue explicar, com um ou dois exemplos, como acha que seria a sua vida, a nível pessoal e profissional, num país não democrático?
Seria infernal. Não teria liberdade alguma. Não poderia dizer ou escrever a verdade. Sendo professor universitário teria certamente muitos problemas com a transmissão de conhecimento. Seria vigiado e perseguido certamente.
Portugal vai celebrar os 50 anos do 25 de Abril. Com base na sua experiência qual a importância da chamada Revolução dos Cravos para si e para o país?
Os factos mais importantes que aconteceram no nosso país no século XX, na minha perspectiva, foram o 25 de Abril de 1974 e a adesão de Portugal à União Europeia, na altura Comunidade Económica Europeia, em 1986. Para mim o 25 de Abril representa a conquista de um conjunto de direitos humanos que até então estavam coarctados, nomeadamente, a liberdade de imprensa e de expressão, o direito à greve, o direito à habitação, à saúde, à educação, à autonomia das mulheres, para citar só alguns.
A Inteligência Artificial está presente, cada vez mais, na nossa vida, sente isso? De que forma? Está confortável com o que se está a passar?
Todos os dias somos “tocados” pela inteligência artificial. Basta enviarmos uns e-mails ou umas mensagens com conteúdos específicos para que, passado pouco tempo, comecemos a receber informação sobre esses conteúdos sem o pedirmos. É a inteligência artificial a funcionar. Espero que a inteligência artificial não ultrapasse os limites da inteligência natural ou, se ultrapassar, que seja só por boas causas pois ela pode ser utilizada pela positiva e pela negativa. Estou expectante quanto a este assunto.
As alterações climáticas são uma realidade ou há muito exagero no que é apresentado? Vale a pena alterarmos alguns comportamentos?
As alterações climáticas são uma realidade, não são ficção. Se não agirmos rapidamente, se não mudarmos comportamentos teremos muitos mais fenómenos catastróficos. E isso repercutir-se-á nas nossas vidas, pessoais e profissionais. Mudei vários comportamentos, principalmente em relação a um recurso tão importante e cada vez mais escasso como a água.
Na Constituição da República estão inscritos os direitos e os deveres dos cidadãos. É capaz de indicar dois ou três dos nossos deveres constitucionais?
Relativamente a deveres constitucionais destacaria três: defender e promover a saúde, dever de assegurar a habitação e dever de defender a qualidade de vida.
Qual foi o último texto que leu em O MIRANTE de que gostou?
O último texto foi sobre as possíveis localizações do novo aeroporto. Também gosto muito de ler os textos relativamente às Personalidades do Ano.
Se tivesse que classificar a classe política que vai festejar os 50 anos do 25 de Abril na Assembleia da República que pontuação lhe dava de 1 a 10?
Daria 7.
O que é que não lhe perguntamos que gostava de responder?
Foram feitas perguntas pertinentes e importantes. Assim, não vejo necessidade de ser feita mais nenhuma em especial. Senão teria de apontar muitas mais tendo em conta a complexidade do mundo em que vivemos actualmente.