A Inteligência Artificial é uma conquista civilizacional extraordinária com um potencial inesgotável
O que nunca poderemos ouvir afirmar é que entre o antes e o depois de Abril há poucas ou nenhumas diferenças. Na minha opinião são afirmações que nem são verdadeiras nem são admissíveis. A bem do respeito pela nossa memória colectiva.
O que foi, para si, o 25 de Abril?
A revolução de Abril de 1974 deu-nos liberdade. Mas também nos trouxe mais e melhor educação, mais e melhor prestação de cuidados de saúde, mais e melhores condições de vida. E também colocou o ponto final num domínio colonialista que negava a auto-determinação dos povos africanos e numa guerra inadmissível que deixou marcas profundas na sociedade portuguesa. Quem não teve um familiar ou um vizinho morto ou afectado pela guerra colonial?
Faz sentido falar numa revolução incompleta?
Podemos e devemos questionar se Abril se encontra cumprido e que contributo pode, cada um de nós, dar para o fazer cumprir. O que nunca poderemos ouvir afirmar é que entre o antes e o depois de Abril há poucas ou nenhumas diferenças. Na minha opinião são afirmações que nem são verdadeiras nem são admissíveis. A bem do respeito pela nossa memória colectiva.
Consegue explicar, com um ou dois exemplos, como acha que seria a sua vida, a nível pessoal e profissional, num país não democrático?
Tinha nove anos no 25 de Abril. Os meus pais sempre foram de esquerda. Ainda tenho memória do que nos condicionava antes de vivermos em Democracia. Dois exemplos: não poder expressar livremente a minha opinião sem correr o risco de poder ser escutada por um bufo que me denunciasse à polícia política e poder ser detida, interrogada ou mesmo torturada por delito de opinião; não poder ler ou partilhar livros que os censores considerassem contra o regime (felizmente sempre houve muitos livros em casa dos meus pais, onde se lia muito, escondidos com grande criatividade).
Na Constituição da República estão inscritos os direitos e os deveres dos cidadãos. É capaz de indicar dois ou três dos nossos deveres constitucionais?
A Constituição da República Portuguesa (CRP), no seu artigo 12º, afirma o princípio da universalidade do gozo dos direitos e da observância dos deveres a que os cidadãos estão vinculados. Considero que todos os direitos e todos os deveres inscritos na CRP são importantes para honrar e respeitar a República e para fazer cumprir o nosso texto fundamental.
Se tivesse que classificar a classe política que vai festejar os 50 anos do 25 de Abril na Assembleia da República que pontuação lhe dava de 1 a 10?
A minha classificação situa-se nos 8 valores. Ressalvando aquelas excepções em que os detentores de cargos políticos, de todas as forças políticas, que representam todos os órgãos de soberania, não cumprem ou não cumpriram os direitos e os deveres que a Constituição da República Portuguesa lhes confere, desrespeitando os valores da República e o Estado de Direito, a minha apreciação é bastante positiva.
A Inteligência Artificial (IA) está presente, cada vez mais, na nossa vida? Está confortável com isso?
A IA está cada vez mais presente. Desde que nos levantamos e abrimos a torneira para lavar os dentes, manuseamos o telemóvel, conduzimos uma viatura, escrevemos um texto ou fazemos uma pesquisa em busca de informação, até que fechamos os olhos quando vamos descansar. Considero-a uma conquista civilizacional extraordinária com um potencial inesgotável no auxílio às nossas actividades pessoais, familiares e laborais. Veio para ficar e para nos continuar a surpreender. Exige atenção e muita responsabilidade na sua utilização e na sua interpretação.
As alterações climáticas são uma realidade ou há muito exagero no que é apresentado? Vale a pena alterarmos alguns comportamentos?
As alterações climáticas são uma realidade muito séria que nos deve a todos fazer reflectir sobre os nossos comportamentos e a mudar hábitos para que usemos os recursos com maior responsabilidade. Eles são finitos e temos de os preservar para não comprometer o seu uso pelas gerações futuras. Mudei os meus hábitos, nomeadamente, com o uso da água quer nos duches e na lavagem dos dentes, quer nas regas, mas também com a separação dos resíduos. Há muitos anos que faço separação selectiva dos lixos e os coloco nos pontos de recolha.
Os meios de comunicação social têm que estar registados e os seus responsáveis identificados. E têm que cumprir leis, nomeadamente a Lei de Imprensa. Deve continuar assim ou os jornais devem ter maior liberdade?
Vivemos num Estado de Direito. Como tal devemos cumprir e fazer cumprir todas as leis que ditam a nossa vida em sociedade. É minha opinião que esse cumprimento nos responsabiliza e nos concede direitos perante terceiros.
Há cada vez mais pessoas que optam por ser informadas através do que lhes chega pelas redes sociais. É o seu caso?
Consulto as redes sociais, mas não dispenso a consulta de múltiplas fontes nomeadamente a imprensa escrita para me sentir informada e livre para formar opinião sobre a multiplicidade dos assuntos.
A informação devia ser toda gratuita e de acesso livre? Como acha que isso poderia ser feito?
A informação deve poder ser acedida em diferentes níveis de complexidade. Gratuita para os primeiros patamares de acesso e paga no acesso a um conhecimento mais completo sobre a matéria em consulta. Deve existir, no entanto, um compromisso com a objectividade da informação no patamar de acesso universal para que não induza em leituras dúbias quem acede à notícia.
Há muitos jornais em dificuldades e há alguns que já deixaram de se editar, nomeadamente regionais? Como vê esta realidade?
Deixa-me preocupada, nomeadamente, sobre a eventualidade de poderem ficar capturados por interesses económicos ou ideológicos. A imprensa deve ser livre e responsável. Para tal há que desenvolver mecanismos financeiros e regulatórios que assegurem a sua sobrevivência, a sua isenção e a sua sustentabilidade.
Qual foi o último texto que leu em O MIRANTE de que gostou?
O destacável sobre as melhores empresas para trabalhar na região. Gostei de entender que o pilar social das estratégias ESG (ambientais, sociais e de governance) das empresas, independentemente da sua dimensão, é cada vez mais valorizado e efectivamente desenvolvido pelos seus responsáveis dando expressão a medidas de responsabilidade social interna que geram impactos muito positivos no bem-estar dos trabalhadores.
O que é que não lhe perguntamos que gostava de responder ?
Nada a acrescentar. Fico-vos grata pela oportunidade.