É fácil defender a construção do novo aeroporto em Alverca quando se reside a muitos quilómetros de distância
Quando temos no bolso um telemóvel, nos registamos numa rede social, activamos o GPS ou fazemos compras online estamos a autorizar que a Inteligência Artificial entre nas nossas vidas, controle os nossos movimentos e identifique a nossa localização.
As alterações climáticas são uma realidade ou há muito exagero no que é apresentado?
As alterações climáticas são uma realidade incontornável e que todos devemos considerar nos nossos comportamentos diários. Não é compreensível como ainda persistem altas figuras em diversos Estados que são completamente negacionistas sobre este assunto. Separação de resíduos, poupança de água, redução do consumo de plásticos é o mínimo que qualquer cidadão responsável pode e deve fazer. Noutro nível a eficiência energética deverá também ser um objectivo, mas para o seu cumprimento os cidadãos deverão ter incentivos do próprio Governo como benefícios fiscais ou redução de preços.
A Inteligência Artificial está presente, cada vez mais, na nossa vida. O que pensa disso?
A partir do momento em que passamos a ter no bolso um telemóvel, que nos registamos numa rede social, que activamos o GPS no carro ou que fazemos compras online estamos a autorizar que a Inteligência Artificial entre nas nossas vidas, controle os nossos movimentos e identifique a nossa localização em permanência. Este facto não é necessariamente mau até ao momento em que os dados que voluntariamente disponibilizamos possam ser utilizados para fins menos lícitos. Para evitar que tal aconteça cabe aos governos e às agências internacionais criar defesas e mecanismos que nos protejam.
Se tivesse que classificar a classe política que vai festejar os 50 anos do 25 de Abril na Assembleia da República que pontuação lhe dava de 1 a 10?
Não tenho muita apetência para professor, embora seja casado com uma, pelo que não faço avaliações. Apenas digo que é necessária uma renovação na Assembleia da República porque se os presidente de junta de freguesia e os presidentes de câmara têm, e bem, uma limitação de mandatos, os deputados também deviam tê-la.
Há cada vez mais pessoas que optam por ser informadas através do que lhes chega pelas redes sociais. É o seu caso?
As redes sociais tal como as conhecemos têm benefícios e perversidades. As vantagens são sem dúvida a aproximação, a facilidade de comunicação e a rapidez na transmissão da informação. A perversidade prende-se com a falta de rigor, de escrutínio dos conteúdos que são publicados assim como a desresponsabilização daqueles que publicam falsidades e ofensas à integridade de pessoas e entidades.
A informação devia ser toda gratuita e de acesso livre?
O acesso deverá ser maioritariamente gratuito, embora também seja verdade que os cidadãos tendem a desvalorizar o que é gratuito por isso o ideal é encontrar um meio termo. Fornecer de forma generalizada informação credível deixando em aberto a possibilidade de quem pretender uma informação mais consolidada e desenvolvida a possa adquirir.
Consegue imaginar o que seria, a nível pessoal e profissional, viver num país não democrático?
Sendo a minha formação de base a comunicação teria muitas dificuldades em trabalhar num Estado autoritário, castrador da liberdade de pensamento e opinião. Pessoalmente sempre tive uma consciência política muito activa, mesmo em criança sempre me interessaram os telejornais, os debates políticos e achava muita piada às campanhas eleitorais. Por tudo isso custa-me presenciar a ascensão de movimentos e partidos políticos anti-democráticos e que defendem valores contrários àqueles pelos quais os nossos pais e avós lutaram.
O que foi para si o 25 de Abril de 1974?
Felizmente nasci já em democracia e nunca tive de enfrentar as agruras de uma ditadura, mas 50 anos na evolução de um país é uma migalha de tempo por isso é para mim incompreensível o crescimento dos ideais autoritários que referi anteriormente. Não podemos pôr em causa as conquistas que as Revoluções de Abril e de Novembro nos trouxeram. Nem podemos permitir retrocessos que nos voltem a limitar os direitos e deveres enquanto cidadãos livres e com vontade própria.
Na Constituição da República estão inscritos os direitos e os deveres dos cidadãos. É capaz de indicar dois ou três dos nossos deveres constitucionais?
Sendo um tema polémico, acho que o acto de votar, mais do que um direito é um dever. Só quem participa nas escolhas tem voz activa para exigir junto dos eleitos. Por isso sou favorável à implementação do voto obrigatório. Outro dos nossos deveres enquanto cidadãos é cumprir as regras básicas da vida em sociedade em todas as suas vertentes. Não nos podemos nunca esquecer que a nossa liberdade acaba onde começa a do outro.
O que é que não lhe perguntamos que gostava de responder?
Se gostava de ter o novo aeroporto de Lisboa em Alverca do Ribatejo? Não gostaria porque os alverquenses e os moradores das freguesias limítrofes não são menos cidadãos do que os lisboetas. Os ganhos propalados pelos promotores dessa solução não consideram os impactos nocivos e não consideram todos os problemas inerentes à instalação de uma infra-estrutura deste tipo. É muito fácil defender o projecto quando se reside a muitos quilómetros de distância, por isso ainda bem que a Comissão Técnica Independente já descartou essa possibilidade.