Inteligência Artificial tem potencialidades e benefícios desde que seja o Homem a controlar a “máquina”
O fecho de jornais limita a pluralidade de opiniões e de perspectivas e, consequentemente, retira ferramentas aos leitores para que possam saber mais, conhecer melhor, estar devidamente informados.
Na Constituição da República estão inscritos os direitos e os deveres dos cidadãos. É capaz de indicar dois ou três dos nossos deveres constitucionais?
São-me particularmente caros os deveres de respeito e solidariedade, bem como o dever de defender e promover a protecção da saúde.
Se tivesse que classificar a classe política que vai festejar os 50 anos do 25 de Abril na Assembleia da República que pontuação lhe dava de 1 a 10?
Dava-lhe um 9, porque há sempre espaço para melhorar, mas considero que os políticos pós-25 de Abril, sobretudo os autarcas, têm desenvolvido um trabalho de extrema importância e muito meritório, infelizmente nem sempre reconhecido quanto deveria ser.
O que foi para si o 25 de Abril de 1974?
Para mim, a Revolução dos Cravos foi um recomeçar para um país pleno de potencialidades e que se queria livre, evoluído, aberto e com base nos princípios da igualdade e equidade. Foi uma oportunidade ímpar para fazer tudo diferente, para criar novas bases de funcionamento tendo como pilares o acesso universal à educação, à saúde e à justiça, a uma vida digna. E, claro, uma das grandes conquistas de Abril foi, sem dúvida, um Poder Local mais alargado, mais próximo das populações e mais capacitado e empenhado para ir ao encontro das particularidades do seu território.
Consegue explicar, com um ou dois exemplos, como acha que seria a sua vida, a nível pessoal e profissional, num país não democrático?
Para esta questão não recorro à imaginação mas sim à memória pois vivi a minha infância e até ao início da minha vida adulta em regime ditatorial, com as inerentes limitações sobretudo ao nível da liberdade de expressão. Num país não democrático certamente não teria a possibilidade de exercer o cargo que exerço e muito menos com esta abertura e interacção com a comunidade. E seria claramente uma pessoa diferente por não ter tido a possibilidade de conhecer outras realidades, outras culturas e por viver com um acesso muito limitado à informação do país e do mundo.
A Inteligência Artificial está presente, cada vez mais, na nossa vida? Está confortável com o que se está a passar?
É inegável a presença da IA no nosso dia-a-dia e a sua correcta utilização é, claramente, um desafio imenso. Num primeiro impacto há muitas questões que se levantam e a perspectiva pode ser um pouco assustadora como recentemente assistimos com o ChatGPT. Mas creio que devemos olhar sobretudo para as suas potencialidades e benefícios. O grande desafio passa por garantir a sua utilização de forma correcta e em prol do bem comum. Que seja sempre o Homem a controlar a “máquina”…
Há liberdade de editar jornais mas os mesmos têm que estar registados e os seus responsáveis identificados. E têm que cumprir leis, nomeadamente a lei de imprensa. Deve continuar assim ou os jornais devem ter maior liberdade?
Creio que o enquadramento legal, se devidamente cumprido, é uma forma de equilíbrio pertinente. A liberdade de expressão e o direito à informação, clara e rigorosa são imperativos de que não podemos abdicar, mas é importante também que quem veicula a informação esteja devidamente identificado, por uma questão de responsabilização em caso de incumprimento dos valores da verdade, da ética, do respeito e dos direitos dos visados.
Qual é a percentagem da informação que recebe através das redes sociais? Será esse o futuro?
Faço um acompanhamento regular de alguma informação nas redes sociais, sobretudo ao nível da comunicação institucional, em particular a do município. Mas continuo a privilegiar a leitura regular de jornais em papel ou a visualização de alguns canais de televisão.
A informação devia ser toda gratuita e de acesso livre?
Se, por um lado, todas as pessoas devem ter direito à informação e o seu acesso deve ser agilizado de todas as formas possíveis, fazê-lo de forma gratuita só me parece possível se o custo fosse totalmente assumido pelo Estado. E isso levantaria muitas questões ao nível da veiculação da informação de forma totalmente livre, imparcial e com contraditório. Nesse sentido, creio que os meios de comunicação prestam um serviço e esse serviço deve ter um custo para os leitores, ainda que equilibrado e acessível, eventualmente compensado por apoio público equitativo e regulamentado.
Como vê as crescentes dificuldades dos jornais?
O fecho de jornais e as dificuldades que afectam muitos outros é algo que me preocupa, até porque tem sido uma realidade cada vez mais evidente a nível local e regional. Recentemente o concelho de Torres Novas ficou sem um jornal centenário. O que se passa limita a pluralidade de opiniões e de perspectivas, reduz a possibilidade de trabalhos de fundo, da tão importante investigação jornalística e, consequentemente, dá menos ferramentas aos leitores para que possam saber mais, conhecer melhor, estar devidamente informados.
As alterações climáticas são uma realidade ou há muito exagero no que é apresentado?
São, infelizmente, uma realidade cada vez mais óbvia, visível e com repercussões no nosso dia-a-dia. Não só vale a pena como é imperativo mudar comportamentos, a começar pelos do quotidiano. Pessoalmente evito ter luzes ligadas ou deixar correr a água na torneira por mais tempo que o necessário. Por exemplo, a nível do município temos vindo a implementar um conjunto de medidas de combate à crise energética em equipamentos municipais bem como nos espaços públicos. É um programa que se desenvolve em torno de cinco eixos principais: iluminação pública; energia nos edifícios públicos; eficiência hídrica nos espaços públicos; mobilidade; informação e sensibilização.
Qual foi o último texto que leu em O MIRANTE de que gostou?
Acompanho com regularidade as edições de O MIRANTE e com especial interesse os trabalhos referentes ao meu concelho. Destaco a recente cobertura da Feira Nacional dos Frutos Secos, bem como o texto que destacou o trabalho de uma jovem empreendedora local que tem vindo a conferir uma nova dinâmica ao sector do figo.