Linguagem despropositada no debate político demonstra como o nível cultural tem vindo a baixar
Quando deixamos de ler, de ir ao cinema, ao teatro, a um concerto, ao futebol e outras coisas mais, deixamos de pensar pela nossa cabeça e passamos a acreditar em tudo o que nos querem impingir e isso é um dos maiores perigos para a democracia.
Os hábitos de leitura mudaram e há muitos jornais em dificuldades, alguns dos quais de âmbito nacional. E há outros que já deixaram de se editar, nomeadamente regionais. Como vê essa situação?
Por vezes só sentimos falta das coisas quando elas desaparecem de nós e não devemos permitir que assim seja. Quando deixamos de ler, quando deixamos de ir ao cinema, ao teatro a um concerto, ao futebol e outras coisas mais, deixamos de pensar pela nossa cabeça, “enferrujamos” o nosso raciocínio e passamos a acreditar e a dar como certo tudo o que ouvimos, tudo o que nos querem impingir e considero que isso é um dos maiores perigos para a democracia.
Os órgãos de comunicação social têm que estar registados e os seus responsáveis identificados. E têm que cumprir leis, nomeadamente a lei de imprensa. Deve continuar assim ou os jornais devem ter maior liberdade?
Entendo que a lei de imprensa deve existir. Não se pode confundir nem a própria Lei pode levar a que a sua existência condicione a liberdade de expressão e o livre exercício da comunicação social. Vivemos numa sociedade regulada por leis, feitas por homens, com diferentes qualidades e fragilidades.
Há cada vez mais pessoas que optam por ser informadas através do que lhes chega pelas redes sociais. É o seu caso?
Continuo a privilegiar o papel, o que não quer dizer que tenho as portas fechadas às redes sociais. Recebo muita informação das redes sociais, mas há que ter em consideração a fonte e a sua credibilidade, o que nem sempre é fácil nas redes sociais.
A informação devia ser toda gratuita e de acesso livre? Como acha que isso poderia ser feito?
Não tenho nada contra que a informação seja gratuita e de acesso livre se isso não colocar em causa a sustentabilidade dos órgãos de comunicação social e a qualidade de vida dos profissionais da informação.
Qual foi o último texto que leu em O MIRANTE de que gostou?
Divirto-me bastante com o Cavaleiro Andante quando me faz alguma referência, como aconteceu numa das últimas edições. Embora de forma indirecta, e em resposta a essa possível referência, fiquem sabendo que consigo abotoar os meus casacos por uma simples razão, porque os compro bastante largos. Nem todos entenderão, mas eu diverti-me.
Consegue imaginar como seria a sua vida, a nível pessoal e profissional, num país não democrático?
O mais certo era estar preso vendo a minha vida pessoal e profissional condicionada. Devemos enorme respeito, enorme admiração por todos os que se viram privados da liberdade por terem lutado pelas suas convicções, pelos seus ideais.
O que foi para si o 25 de Abril de 1974?
Lembro-me perfeitamente desse dia. O meu avô não me deixou ir à escola, andava na chamada 3ª classe. O dia 25 de Abril de 1974 foi o primeiro dia do resto das nossa vidas. Apesar de muito jovem vivi esses tempos de uma forma muito presente. Não me esqueço que o meu pai esteve na guerra, sim uma guerra estúpida que tirou a vida a muitos jovens e condicionou a vida de muitos e das suas famílias. Hoje posso chamar estúpida a esta guerra estúpida, antes não seria possível. E muito, muito, muito mais…
Se tivesse que classificar a classe política que vai festejar os 50 anos do 25 de Abril na Assembleia da República que pontuação lhe dava de 1 a 10?
Como em todas as profissões há gente boa, muito boa, má e muito má. Classificaria com 0 (zero) alguns elementos da classe política e outros com 11 (onze). Nunca poderemos generalizar. Tenho tido a sorte de, ao longo destes anos, me ter cruzado com gente, na sua esmagadora maioria, muito boa e continuo a acreditar que assim vai ser, de todos os quadrantes políticos. Só um pequeno lamento: considero que o nível cultural tem vindo a baixar como se pode verificar com a utilização de linguagem completamente despropositada no debate político.
Na Constituição da República estão inscritos os direitos e os deveres dos cidadãos. É capaz de indicar dois ou três dos nossos deveres constitucionais?
É fácil, tenho na minha secretária de trabalho a Constituição da República portanto é só ler sendo certo que o maior dever é respeitar os direitos.
A Inteligência Artificial está presente, cada vez mais, na nossa vida. Como se sente com isso?
Vivemos num mundo em que as coisas estão a acontecer muito rapidamente e, com a velocidade do nosso dia-a-dia, nem sempre temos o tempo que devíamos ter para pensar sobre tudo isto mas temos de pensar, acompanhar, e contribuir para que tudo o que nos está a acontecer contribua para que sejamos cada vez mais felizes.
As alterações climáticas são uma realidade ou há muito exagero no que é apresentado?
Saltam aos nossos olhos os riscos das alterações climáticas e a necessidade de agir. No meu dia-a-dia, por exemplo, a minha relação com a água tem mudado. Se hoje a falta de água já é o que é conseguimos imaginar, se nada for feito, o que será daqui a umas décadas. Preocupante.
O que é que não lhe perguntamos que gostava de responder?
Onde é que eu vou estar no dia 25 de Abril de 2049, nas comemorações dos 75 anos do 25 de Abril de 1974? Pois bem, gostaria de estar a responder a um questionário do jornal O MIRANTE.