Não podemos confundir a defesa da sustentabilidade com a pantomina ideológico-ambiental com que nos massacram
O 25 de Abril é o marco da nossa Liberdade e da nossa Democracia. Felizmente, nos anos seguintes, conseguimos fazer vencer a Liberdade contra os que nos quiseram impor um Estado totalitário.
O MIRANTE e os órgãos de comunicação social têm que estar registados e os seus responsáveis identificados. E têm que cumprir leis, nomeadamente a lei de imprensa. Deve continuar assim ou os jornais devem ter maior liberdade?
Não é O MIRANTE e a comunicação social em geral serem regulados e sujeitos a registo que está errado. O que está errado é haver hoje outros meios alternativos de informação totalmente desregulados e, portanto, mais difíceis de controlar do ponto de vista das suas responsabilidades. A regulação por autoridades administrativas é positiva e necessária em muitas áreas e no caso da Comunicação Social é tão importante que tem dignidade Constitucional.
Há cada vez mais pessoas que optam por ser informadas através do que lhes chega pelas redes sociais. É o seu caso?
Pessoalmente, uso as redes sociais essencialmente de forma lúdica ou para interacção social. Naturalmente, chega-me também informação por essa via e, muitas vezes, é até a única via para essa mesma informação. Por exemplo com eventos, exposições e lançamentos de livros. Mas não dispenso nunca os órgãos de comunicação social tradicionais, ainda que frequentemente, nas suas edições online.
A informação devia ser toda gratuita e de acesso livre?
Não acho que isso possa ser feito, nem vejo vantagem nisso. Pelo contrário, seria uma ameaça à liberdade de imprensa e de opinião. Produzir informação de qualidade, como qualquer outro produto ou serviço, tem um custo económico. O qual deve ser suportado por quem nele tem interesse. A comunicação social deve ser privada, regulada e suportada pelos seus clientes sendo necessário estimular que as pessoas sintam necessidade de informação livre e diversa.
Há muitos jornais em dificuldades e há alguns que já deixaram de se editar. É algo que o preocupe?
Preocupa-me porque acontece demasiadas vezes e esse espaço vem sendo ocupado e alargado por meios alternativos e digitais, onde tudo é permitido e onde ninguém é responsabilizado por nada: nem pelas mentiras, nem pela desinformação, nem pela violação dos direitos autorais, nem por nada. Temos de proteger-nos dessa desinformação e do abuso a que assistimos todos os dias.
Consegue explicar, com um ou dois exemplos, como acha que seria a sua vida num país não democrático?
Seria certamente uma vida marcada pelo medo e por um muito menor acesso ao conhecimento e à informação. Lembro-me
bem da minha infância e adolescência antes do 25 de Abril e tendo tido o privilégio de na minha família se falar de política nessa altura. Recordo bem as recomendações da minha mãe para não falar na rua e na escola, de certos temas. Lembro-me dos meus pais não poderem votar: a minha mãe porque era mulher e o meu pai porque tinha participado em algumas actividades políticas. Lembro-me da última e violenta carga policial no 1º de Maio no Mercado de Vila Franca de Xira. Lembro-me de termos em casa livros proibidos. Sei, pois, muito bem o que quero: quero um país com liberdade e democracia.
O que foi para si o 25 de Abril de 1974?
Foi uma experiência de libertação e foi uma explosão de espontânea alegria! Houve problemas, desvios, tentativas de golpes, houve injustiças, violência, caos e saneamentos naquele período revolucionário até 1976/77. Mas não devemos confundir os problemas e os desvarios revolucionários com o essencial: o 25 de Abril é o marco da nossa liberdade e da nossa democracia. Felizmente, conseguimos, como povo, fazer vencer a liberdade nos anos seguintes, contra todos aqueles que, nessa altura, nos quiseram impor um Estado socialista totalitário.
A Inteligência Artificial está presente, cada vez mais, na nossa vida? Está confortável com o que se está a passar?
A combinação da Inteligência Artificial com a Computação Quântica no nosso
dia-a-dia, fará com que as máquinas aprendam, a uma velocidade incomensurável, atingindo patamares totalmente inacessíveis à inteligência humana. Estou preocupado porque esse progresso é por um lado inevitável e absolutamente necessário para a nossa evolução - e até para a sobrevivência da espécie humana - mas coloca-nos desafios ciclópicos e filosóficos. Como será vivermos, muitos de nós, sem trabalharmos? Como poderemos continuar a ser livres se não trabalharmos? É um tema urgente, que nos coloca um desafio civilizacional e apaixonante.
As alterações climáticas são uma realidade ou há muito exagero no que é apresentado?
O planeta Terra é um ser vivo. Pulsa permanentemente e modifica-se todos os dias. A alteração climática permanente faz parte dessa mudança. Que a temperatura média está a subir parece ser um facto. Mas os cientistas estão divididos sobre se estamos ainda a sair ou a reentrar numa nova Idade do Gelo. Não se podem confundir as políticas públicas de ambiente, que prosseguem a sustentabilidade, a baixa agressividade para o meio que nos envolve, a redução de consumos desnecessários ou a recuperação e reciclagem com o pantomina ideológico ambiental com que as televisões nos massacram. Mas temos de continuar a alterar os nossos comportamentos para reduzirmos os impactos negativos.
Na Constituição da República estão inscritos os direitos e os deveres dos cidadãos. É capaz de indicar dois ou três dos nossos deveres constitucionais?
Sou jurista, conheço os direitos constitucionais em Portugal, mas vou ser muito conciso: vou destacar três direitos que quero enfatizar em homenagem à liberdade de que hoje desfrutamos no nosso país. O direito à vida e à integridade física e moral de todos os cidadãos, incluindo a proibição da pena de morte e da tortura; o direito à liberdade de expressão e informação, bem como à liberdade de imprensa; e o direito à educação, à cultura e de acesso ao ensino.
Qual foi o último texto que leu em O MIRANTE de que gostou?
No momento em que respondo a estas questões, gostei, entre outros assuntos, da excelente entrevista a David Pato Ferreira, vereador da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, na edição de 26 de Outubro. É uma entrevista bem conduzida e muito bem aproveitada pelo entrevistado para, de forma desempoeirada e directa, falar de temas essenciais para o município, revelando análise, um pensamento elaborado, mesmo estratégico, e apontando o essencial do que tem de ser feito.
Se tivesse que classificar a classe política que vai festejar os 50 anos do 25 de Abril na Assembleia da República que pontuação lhe dava de 1 a 10?
Três coisas são certas para mim. A primeira é que não é possível classificar a “classe política”. Há políticos bons, há políticos medíocres e há políticos inenarráveis; a segunda é que a nenhum entregaria uma classificação de excelência, portanto, não haveria nenhum 10 ou 9 e a terceira é que uma boa parte do grupo “chumbaria”, por incompetência, por impreparação, por falta de estudo. Dito isto, é essencial reconhecer que a política é uma arte nobre, ou devia ser, e que existem bons políticos em Portugal. Precisamos de melhorar o recrutamento de políticos.
O que gostaria de acrescentar?
Gostaria de felicitar O MIRANTE pelo seu extraordinário percurso de 36 anos e de dar os parabéns ao seu fundador, Joaquim António Emídio, aos seus jornalistas, à sua administração e a toda a equipa. Parabéns pelo aniversário, pelo percurso, pela qualidade, pela independência e pelo sucesso destes 36 anos! E que venham muitos mais!