Se as pessoas não se envolverem a democracia corre o risco de cair em populismos perigosos para o nosso futuro
Em cada edição de O MIRANTE há textos de que gostamos e outros de que não gostamos e essa é uma das maravilhas da Democracia e da Liberdade. Eu, como agente político da comunidade, convivo bem com essa diversidade.
Na Constituição da República estão inscritos os direitos e os deveres dos cidadãos. É capaz de indicar dois ou três dos nossos deveres constitucionais?
Permitam-me concentrar num: o da tolerância. A consciência de que a liberdade de cada um se deve compatibilizar com a liberdade do outro para que todos possamos – em sã convivência – ir procurando realizar os nossos desejos pessoais, profissionais e familiares.
Se tivesse que classificar a classe política que vai festejar os 50 anos do 25 de Abril na Assembleia da República que pontuação lhe dava de 1 a 10?
A Assembleia da República é um espelho da sociedade e tem a diversidade que em cada momento as pessoas lhe dão. O trabalho parlamentar vai muito para além do que vemos e ouvimos nos média e o trabalho de auscultação permanente à sociedade é uma das mais-valias da Assembleia da República. Dou-lhes pelo menos um oito, sem grande resistência.
Consegue explicar, com um ou dois exemplos, como acha que seria a sua vida, a nível pessoal e profissional, num país não democrático?
Felizmente cresci já em liberdade (o 25 de Abril deu-se ainda não tinha feito o primeiro ano de idade). Basta olhar para as ditaduras que ainda existem, e para as guerras que decorrem no mundo, para perceber o horror que é (procurar) sobreviver sob o jugo autocrático e de partido ou religião únicos.
O que representa para si o 25 de Abril?
O Portugal moderno e europeu não tinha acontecido sem a Democracia. O nível de desenvolvimento colectivo e a diversidade e liberdade individuais não existiriam sem esse momento fundador.
Para exercerem a sua actividade os órgãos de comunicação social têm que estar registados e os seus responsáveis identificados. E têm que cumprir leis, nomeadamente a lei de imprensa. Deve continuar assim ou os jornais devem ter maior liberdade?
A liberdade de imprensa é um valor intrínseco à Democracia e assim deve continuar. A importância das (e dos) jornalistas – enquadrados pelo respectivo código deontológico – para uma informação completa e séria adquire nos dias de hoje uma grande premência, numa altura em que as “fake-news” e as redes sociais introduzem desafios claros à construção de uma opinião pública esclarecida.
Há cada vez mais pessoas que optam por ser informadas através do que lhes chega pelas redes sociais. É o seu caso?
É inevitável conviver e utilizar as redes sociais. Tal como é inevitável ler, ouvir e ver os média tradicionais.
A informação devia ser toda gratuita e de acesso livre? Como acha que isso poderia ser feito?
Boas perguntas, para respostas muito complexas, que caberá muito em particular às empresas de comunicação social reflectir e responder.
Como vê as dificuldades dos jornais e o desaparecimento de alguns?
Preocupa-me essa situação, tanto a nível nacional como regional. A qualidade e liberdade da informação depende muito das condições de trabalho e estabilidade financeira dos jornalistas.
Como convive com o crescente desenvolvimento da Inteligência Artificial?
Como em tantas evoluções tecnológicas nem sempre é fácil adaptarmo-nos. A IA tem imensas vantagens e potencialidades, mas também grandes riscos. A criatividade humana nunca poderá ser totalmente substituída por máquinas, mas elas podem libertar tempo às pessoas para se dedicarem a outras actividades.
As alterações climáticas são uma realidade ou há muito exagero no que é apresentado?
Basta olhar para o tempo que tem feito em Portugal para ser inegável que existem mesmo alterações climáticas. Para além do combate a essas alterações é preciso que a Humanidade se concentre na adaptação que todos temos de fazer para as enfrentar. E todos somos parte importante dessa adaptação e mudança, desde logo na forma como separamos os resíduos, poupamos água, entre tantos outros comportamentos individuais, que evidentemente adopto.
Qual foi o último texto que leu em O MIRANTE de que gostou?
Todas as semanas temos a oportunidade de ler textos de que gostamos (e outros que não gostamos) n’ O MIRANTE. É essa uma das maravilhas da Democracia e da Liberdade. E eu, como agente político da comunidade, tenho convivido bem com essa diversidade.
O que é que não lhe perguntamos que gostava de responder ?
Continua acreditar na Democracia? Sim. A Democracia, para funcionar, dá muito trabalho? Sim. Exige mesmo o envolvimento e participação dos cidadãos? Sim. Se as pessoas não se envolverem e não derem o seu contributo a Democracia corre sérios riscos de cair em populismos, muitíssimo perigosos para o nosso futuro comum.