Joana Salgado Emídio, directora executiva de O MIRANTE diz que não apostar em jornalismo de proximidade é uma falha do sistema democrático
Joana Salgado Emídio discursava na 20ª edição dos prémios Personalidade do Ano atribuídos por O MIRANTE
A directora executiva de O MIRANTE, Joana Salgado Emídio, considera que a falta de aposta e de apoio no jornalismo de proximidade é “há muitos anos uma falha do nosso sistema democrático”. Joana Salgado Emídio, que discursava no Convento de S. Francisco, em Santarém, nesta quinta-feira, 13 de Março, na abertura da cerimónia de entrega dos prémios Personalidade do Ano, iniciativa de O MIRANTE, que se realiza há 20 anos, salientou que “o jornalismo é um negócio em crise mas a culpa não é do jornalismo, é de quem tenta meter-se onde não deve e influenciar o que não é influenciável”.
Para Joana Salgado Emídio “alimentar televisões e jornais que escrutinam apenas o trabalho dos deputados e dos governantes é um erro, igual a fazer a gestão de um país apenas com militares da GNR e da PSP e autoridades tributárias e aduaneiras”. A directora executiva de O MIRANTE destacou que os 38 anos do jornal que “cumpre um serviço público sem que para isso alguém nos tenha mobilizado”.
A situação política do país também mereceu uma referência, com Joana Salgado Emídio a dizer que “o que está a acontecer em Portugal é um pouco a nossa vergonha que temos que atacar com os nossos melhores políticos, empresários e cidadãos que não se demitem da sua responsabilidade”. E acrescentou que “o jornalismo é um negócio em crise mas a culpa não é do jornalismo, é de quem tenta meter-se onde não deve e influenciar o que não é influenciável”.
Dando como exemplo a postura do jornal, salientou que “O MIRANTE pode considerar-se uma excepção porque somos literalmente um jornal fora da caixa, longe dos poderes da Capital, um pouco à margem do sistema, sem ignorarmos que ninguém vive numa bolha, e que também somos parte do sistema quer queiramos quer não”.
Joana Salgado Emídio, sobre a atribuição dos prémios Personalidade do Ano, disse que esta iniciativa é uma “ousadia” que “não é para cantarmos de galo”, mas “para assumirmos uma responsabilidade que sabemos não poder entregar a mais ninguém”.
“De ano para a ano, percebemos melhor o quanto os nossos prémios unem as pessoas ao nosso projeto, ao nosso território; fazem aumentar as nossas responsabilidades na relação com os leitores e anunciantes e acima de tudo responsabilizam-nos perante aqueles que não precisando do nosso trabalho, sabem que indiretamente beneficiam dos frutos que semeamos ao sermos a voz de uma região que, sempre que os seus políticos se distraem ou são menos competentes perde fundos, perde futuro, sai do mapa de Portugal e da Europa, ou seja, é desconsiderada por quem domina o poder e tem a faculdade de exercer a descriminação no pior sentido da palavra”, referiu Joana Salgado Emídio.
A directora executiva criticou ainda o facto de “os partidos políticos gastarem milhões de euros em publicidade selvagem nas rotundas e nas estradas, mas os partidos políticos estão proibidos de utilizarem a comunicação social para venderem as suas ideias, fazerem a promoção dos seus candidatos”. E questionou se “alguém compreende esta política indígena que favorece as grandes marcas que usam e abusam do espaço publico para além de serem em muitos casos um atentado á paisagem e fazerem lembrar países do terceiro mundo onde vale tudo e mais umas botas?”.