Fernando Paulo Ferreira: O autarca a 100 por cento que reposicionou Vila Franca de Xira na Área Metropolitana de Lisboa

Personalidade do Ano Política - Fernando Paulo Ferreira
Fernando Paulo Ferreira tem neste seu primeiro mandato apostado na aproximação do concelho de Vila Franca de Xira a Lisboa e quer captar profissionais qualificados e jovens para o concelho. Nessa estratégia já conseguiu investimentos na área tecnológica importantes para o território, que defende que deve ser pensado de forma alargada ao nível dos 18 autarcas da área metropolitana. A habitação e o arrendamento acessível é uma das suas grandes batalhas na luta que tem travado e que já conseguiu, finalmente, que se avance com o Tribunal de Comércio e está a estudar com Loures uma via para resolver o problema de circulação rodoviária na Nacional 10. Num município que é o único no país certificado no combate à corrupção, o autarca socialista diz que pensa mais no futuro do concelho do que no seu.
Neste momento, se não fosse autarca o que gostaria de estar a fazer?
Como sou autarca a 100 por cento, é só nisso que penso. A política é sempre passageira, pode é durar mais ou menos tempo. Neste momento estou focado nesta função para cumprir o programa com que me apresentei a este mandato. Estou ao serviço da população e há imensas coisas ainda para fazer e estou concentrado nisso. Penso mais no futuro do concelho do que no meu futuro pessoal. Ao estar nestas funções a projeção que se faz das suas acções e das políticas é sempre muito para além dos mandatos.
O que é que acha que já mudou no concelho?
Conseguimos algumas transformações importantes. Demos um salto importantíssimo no que diz respeito à adaptação às alterações climáticas. As empresas estão a fazer uma auto-produção de energia como nunca tinham feito e essa foi uma oportunidade que criámos. Conseguimos a aprovação do cais da Castanheira que vai permitir uma intermodalidade muito importante para a Área Metropolitana de Lisboa. E vão-se abrir oportunidades na transformação do que era uma plataforma logística numa zona de investimento empresarial diversificada, para onde já atraímos o Lisbon Campus, um projecto ligado às novas tecnologias, que é o maior investimento económico neste concelho na ordem dos mil milhões de euros. Conseguimos que o Governo lançasse o concurso para o Tribunal do Comércio, que é fundamental para a região e as empresas. Também resolvemos o arrastar do problema da requalificação da Escola EB 2/3 de Vialonga.
Portanto está contente com este Governo que está a avançar com obras que aguardam há muitos anos…
Não tenho razões de queixa do ponto de vista da relação institucional. Consegui com a ministra da Justiça o tribunal, com o ministro da Infra-estruturas a indicação para a NAVE fazer a alteração no sistema de descolagem dos aviões da Portela. Acho que o Governo tem sido sensível aos argumentos do presidente da Câmara de Vila Franca de Xira. Mas a função do autarca é lutar pela sua terra e luta seja qual for o governante que esteja em funções.
Um dos seus grandes objectivos para este mandato é uma maior ligação a Lisboa e captar profissionais qualificados para o concelho. Já tem algum resultado disso?
Conseguimos reposicionar o concelho na área metropolitana de forma marcante em várias áreas. Trouxemos os maiores investimentos. Noutra área em que se marcou a diferença foi na entrada em funcionamento da Carris Metropolitana que no caso de Vila Franca de Xira é das que tem maior adesão das pessoas. Lançámos novas iniciativas com um carácter metropolitano que atrai pessoas de várias zonas, como o Xira Sound Fest que é uma referência na região para os jovens. Reformulámos o Colete Encarnado. E há outros produtos muitos específicos que aproveitam as especificidades do território, como os sunsets na Quinta da Subserra, que têm sido um sucesso, e o lançamento do Xira Wine Fest que nos colocou num patamar elevado do enoturismo.
A constestação aos espectáculos tauromáquicos, a protecção dos animais, vão obrigar a repensar o Colete Encarnado?
Do que observo, há um número de pessoas que aderem a festas como o Colete Encarnado, que não pára de crescer, a juventude que aparece nas esperas de toiros tem crescido exponencialmente. Esta relação com a tradição continua a satisfazer as pessoas. Há sempre coisas a adaptar, mas esta é uma festa popular com espaço para todos os gostos. A questão da tauromaquia não tem sido um problema.
A circulação em Vila Franca de Xira é talvez a situação que mais afecta quem vive e quem vem ao concelho. Quando e como é que se consegue uma solução?
A mobilidade rodoviária tem-nos preocupado e a solução passa pela abertura de novas vias. Tivemos alguns contributos péssimos por parte da Infraestruturas de Portugal que causaram vários constrangimentos em várias zonas da estrada nacional. É preciso inovar, desde logo na abertura de mais nós de ligação à auto-estrada, e estamos a trabalhar com a Câmara de Loures na criação de uma nova via paralela à Nacional 10 entre a linha do comboio e o rio Tejo, como uma ligação directa de Alverca ao IC2.
Quais são as necessidades de habitação no concelho?
Não nos distinguimos do que é a problemática da habitação de todos os concelhos da área metropolitana. Precisamos de mais habitação de qualidade que sirva para requalificar zonas que precisam de requalificação, precisamos de mais habitação pública, mas os privados também devem ser trazidos para habitação a custos controlados ou para rendas acessíveis. Se isto é possível nos países da Europa também tem de ser possível em Portugal.
O que é que o município está a fazer nesse sentido?
Neste mandato resolvemos o problema da antiga Promocasa que estava falida e garantimos que as habitações passassem a ser públicas de modo a que as pessoas não fossem despejadas. Muito simbólico foi também virem para a posse da câmara as antigas casas da OGMA em Alverca para onde estamos a desenvolver um projecto para habitação jovem. Estamos a desenvolver iniciativas com privados, como na Póvoa da Santa Iria, com projectos para arrendamento para jovens qualificados e nómadas digitais e promovemos em novas zonas habitacionais exista arrendamento acessível através dos próprios promotores do loteamento, como está previsto para a zona da Tertir em Alverca.
Município é o único certificado no combate à corrupção
Os municípios precisam de mais mecanismos para combaterem a corrupção?
O município de Vila Franca de Xira é o único no país que está certificado nesta área do combate à corrupção. É muito importante que as questões da prevenção da corrupção integrem o dia-a-dia de todos os agentes públicos, sejam eleitos ou trabalhadores, sejam das autarquias ou do Governo. Porque só assim é possível termos um caminho de maior confiança. Cada um faz a sua parte e nós temos feito a nossa com seriedade. Acho que o problema da corrupção não está nas autarquias, nem em dimensão, nem em valores. As autarquias são muito escrutinadas e ainda bem.
É defensor de uma maior fiscalização aos municípios?
Sem pôr em causa a autonomia dos municípios, não aceitamos a tutela política, a perspectiva da inspecção aos procedimentos tem vantagens para todos. Temos um plano anti-corrupção anual.
Qual é uma das áreas que sente que provoca instabilidade nas autarquias?
A instabilidade legislativa em áreas nevrálgicas da vida das autarquias, como o ordenamento do território. Quanto menos se estabilizar a legislação mais difícil se torna o seu cumprimento e a sua compreensão pelos serviços municipais e pelos munícipes. A quantidade de entidades que condicionam a estratégia de desenvolvimento territorial dos municípios é tão grande, que efectivamente os municípios têm menos capacidade para desenhar o seu território do que as pessoas pensam. O ordenamento do território tem de ser pensado ao nível metropolitano ou das comunidades intermunicipais. Não podemos ter pensamentos individuais como se o território ao lado não existisse.
Está a defender uma maior intervenção e autonomia da área metropolitana?
Não teríamos conseguido lançar o passe metropolitano, nem a Carris Metropolitana, nem a autoridade metropolitana de transportes se não houvesse a colaboração integrada dos 18 municípios que fazem parte da Área Metropolitana de Lisboa. As pessoas já perceberam que com 18 pensamentos vamos mais longe do que com um pensamento só. Este é um caminho inevitável. Dentro de algum tempo quase 90 % das pessoas na Europa vai viver em cidades, portanto temos de pensar as cidades de uma maneira completamente diferente.
Como é que vê as alterações ao panorama político com o surgimento de novos partidos com outros interesses e a subida do Chega?
Assusta-me a impreparação dos protagonistas políticos dos partidos de extremos. O desconhecimento que têm da gestão da coisa pública é relevante, mas o pior é o desinteresse que manifestam em relação a essa matéria. Outra situação que me preocupa, também enquanto cidadão, é o facto destes novos movimentos não terem alguma consistência que permita alguma leitura ideológica. Partidos de extrema-direita disparam em todas as direcções e acertam sempre em qualquer coisa. Mas o seu compromisso com a construção de alguma coisa é nulo. Penso muito como é que vai ser possível no futuro discutir os assuntos de uma forma racional. O desafio dos futuros autarcas vai ser muito grande.
Um amante da leitura que relativiza os problemas e que admira a irreverência e criatividade
Fernando Paulo Ferreira, nascido em Maio de 1973, é presidente da Câmara de Vila Franca de Xira desde 2021 e tem mostrado trabalho a tornar o concelho mais atractivo em termos de condições de vida e em termos tecnológicos. Uma das grandes vitórias foi a instalação de um dos maiores centros de dados da Península Ibérica. O autarca também é um entusiasta do desenvolvimento de um sector inovador da criação de microalgas, importante na resolução do problema das emissões poluentes.
A sua agenda é alucinante porque está sempre a procurar novas oportunidades e a promover as potencialidades do concelho, querendo afirmar Vila Franca de Xira na área Metropolitana de Lisboa como um bom local para investir e para viver. Melhorar as condições de circulação e mobilidade para Lisboa, a habitação para jovens e famílias da classe média e a captação de bons quadros profissionais através da implementação de urbanizações de qualidade, são algumas apostas do autarca socialista.
Fernando Paulo Ferreira nasceu em Moçambique e está em Portugal desde os três anos e meio de idade. É uma pessoa calma que não se mete em grandes aventuras. Gosta da cor azul e é ecléctico nas escolhas musicais e literárias, mas tem mais tendência para a música alternativa, o indie pop e rock.
Jurista de profissão, tendo exercido advocacia, licenciou-se em Direito porque achou que era a área que o permitiria preparar-se para lutar melhor pelo que acha que é correcto. Quando estava no ensino superior já trabalhava na câmara como assessor do vereador Carlos Silva, quando a autarquia começou a candidatar-se aos fundos europeus e preparava candidaturas. Um dos projectos pelo qual tem carinho é o da reabilitação urbana de Vialonga.
Quando era jovem destacava-se dos restantes rapazes da sua idade por andar sempre com livros atrás dele, tendo criado com um grupo de amigos o grupo literário Lusitânia, que promovia encontros literários, encontros com poetas e declamação de poesia ao vivo. Fez teatro nos anos 90 na companhia Inestética. Como pessoa que gosta de desafios aceitou entrar na longa-
-metragem luso-francesa, “Encontro”, que retrata a viagem hipnótica de um homem guiado pelos sonhos. Detesta a preguiça e não costuma projectar o seu trajecto a longa distância.
Foi ginasta, fez natação, kickboxing e muay thai e o seu primeiro carro foi uma Renault 4L, pela qual se apaixonou. O que mais admira nas pessoas é a criatividade e a irreverência, bem como o empenho que colocam nas coisas. Considera-se uma pessoa tranquila que procura relativizar os problemas. É um homem de fé, que às vezes vai à missa e que se confessava quando era miúdo. Gosta de jantar com os amigos e agora que a vida autárquica lhe ocupa muito tempo valoriza muito mais o tempo que consegue estar com os amigos.