As palavras que ficaram das Personalidades do Ano

O MIRANTE recupera nesta edição algumas frases fortes das entrevistas das nossas Personalidades do Ano de 2024 que receberam a distinção no dia 13 de Março de 2025, no Convento de São Francisco, em Santarém. Não é intenção da redacção de O MIRANTE reduzir os discursos a três frases mas antes voltar a valorizar a intervenção de cada um dos premiados. As entrevistas publicadas na edição da semana da entrega do prémio são também representativas da importância de cada uma das Personalidades do Ano; certamente que ainda voltaremos a esses textos para voltarmos também a recordar aquilo que queremos que se mantenha na ordem do dia e faça jus ao prémio e aos premiados.

Personalidade do Ano Prestígio - Bernardo Duque Neves
Não sabemos para onde o futuro nos leva. Continuo com ligação a Tomar e tenho actividade clínica limitada que mantenho em Tomar e que gostava de explorar no futuro. Espero poder contribuir no futuro, directa ou indirectamente, para a melhoria dos cuidados de saúde na nossa região.
• Não querendo entrar muito em políticas, o que me interessa é se as coisas funcionam e se atingem os resultados propostos, como diminuir os tempos de espera e aumentar os números de consultas, por exemplo. Se quem gere é o privado ou o público, não quero saber. Quero é que o meu dinheiro, enquanto contribuinte, seja bem empregue e que a melhor solução possível seja encontrada para que as coisas funcionem.
• O processo de tomada de decisão do médico é complexo. Baseamo-nos na ciência, mas a psicologia mostra que, muitas vezes, a tomada de decisão do médico também é intuitiva. Algures por aí devemos entrar no campo da fé, intuição, experiência, feeling. Há uma coisa que acho importante referir: não estamos aqui apenas para pedir exames, dar diagnósticos e prescrever medicamentos. O contacto médico-doente tem um lado emocional e é muitas vezes terapêutico. O facto de conversarmos com as pessoas, de lhes explicarmos, de as acalmarmos, tem um efeito terapêutico que vai para além das coisas que depois pedimos para fazerem.

Personalidade do Ano Política - Inês Barroso
Toda a gente sabe e continua a saber que tenho uma paixão imensurável por este concelho e por esta cidade, mas quando o convite surgiu, e eu tinha dois ou três dias para decidir, pensei: antes quero arrepender-me de ter ido e depois voltar para trás do que passar o resto da minha vida arrependida por não ter experimentado o que é ser deputado.
• Permitam-me esta falta de humildade, mas acho que sou uma pessoa de consensos e que consigo ver o lado bom das coisas, mesmo que não sejam muito boas. Sou flexível em relação àquilo que acho que é racional e que não vai magoar ninguém. Agora, se me magoarem sou capaz de falar, não de ralhar nem de gritar.
• Os 50 foram uma festa, adorei fazer 50 anos. Fiz um jantar giríssimo com 150 amigos desde os tempos da escola primária até essa altura, das várias terras por onde andei, onde vivi e trabalhei. Os 60 estão-me a pesar.
• Nunca ambicionei cargos, nunca sonhei ser vereadora e nunca me passou pela cabeça ser deputada. As coisas foram acontecendo e quando me aparecem prefiro experimentar, ver se gosto e dar o meu contributo, do que me arrepender por não ter ido experimentar.

Personalidade do Ano Nacional - José Pedro Aguiar-Branco
Não me desanimo com facilidade, mas sinto injustiça por vezes quando as críticas não são verdadeiras, o que me obriga a ter uma capacidade de resistência maior. A única maneira de combater essas situações não é estar numa posição de queixume, é uma questão de reacção. Tenho mais tendência para reagir do que para deprimir. Mas é melhor dar direito a criticar mesmo a quem não tem razão, do que termos um regime em que a crítica não é possível.
• A justiça é um sector importante para o Estado de Direito e é preciso que ela evolua no sentido de ser cada vez mais célere. Não é só haver uma decisão justa, é que seja em tempo útil. É preciso também restaurar a credibilidade dos agentes da justiça perante a opinião pública e que os portugueses sintam que têm um acesso à justiça sem discriminação em relação à maior ou menor condição financeira. É preciso também que a justiça comunique muito melhor.

Personalidade do Ano - Carlos Beato
Para mim, o momento mais difícil, ou mais sensível, daquela madrugada libertadora, foi a viagem. Foram três horas na viatura com os meus militares. Eu ia ao lado do motorista, com a G3 entre as pernas. Nessas três horas, e depois do capitão Salgueiro Maia me ter dito “a gente sabe lá se volta”, passei a viagem toda a pensar nos meus militares. Era uma grande responsabilidade, pois não sabíamos bem com o que nos íamos confrontar.
• Foi junto à Câmara Municipal de Lisboa que o brigadeiro Junqueira dos Reis deu ordem de fogo contra nós. O militar José Alves Costa, de Vila Verde, que era o cabo apontador do carro de combate, nunca disse que não, nunca desobedeceu ao oficial general. Mas, como ele já relatou, pensou que não podia disparar, porque ia matar os camaradas todos. E começou a arranjar maneiras de se refugiar dentro do próprio carro de combate, foi descendo e quando pôde fechar a escotilha só de lá saiu às quatro da tarde. Este, para mim, foi o momento do 25 de Abril. Se ele tem disparado o carro de combate, nunca tínhamos chegado ao Largo do Carmo. Morríamos ali todos.

Personalidade do Ano Vida - José Veiga Maltez
Sou um excêntrico com limites, fujo muito da rotina e gosto muito das minhas excentricidades porque isso é que completa o dia-a-dia.
• Há uma fuga que tenho permanentemente, que é uma fuga de espírito. Apetece-me sempre fugir fisicamente, mas estou sempre refém do sítio onde vivo, onde fui criado, das minhas raízes, daquilo que me envolve. Por isso, se fugisse, seria sempre temporariamente.
• Adoro a província, mas detesto o espírito provinciano. Portanto, de provinciano não tenho nada, apenas prefiro estar fora dos centros cosmopolitas.
• Detesto a mediocridade, pugnei sempre pela excelência. Hoje a câmara e o concelho são muito exigíveis e não basta para ser presidente ser uma pessoa útil. Enquanto cá estive ensinei as pessoas da comunidade a serem exigentes, a pugnarem pela excelência e a fazerem diferente.
• Os portugueses vivem muito a glória do passado, mas o passado só tem interesse se for um estímulo para o presente e uma referência para o futuro. O que nós fizemos na câmara deveria ser mantido, melhorado e ampliado.
• Hoje a minha vida é tranquilíssima e não me sinto obrigado a fazer coisas, porque quando estamos em cargos de responsabilidade há coisas que temos de fazer mesmo não gostando de as fazer. Dependo de mim próprio e não me interessa nada a opinião dos outros sobre mim e sou uma pessoa livre.

Personalidade do Ano Excelência - Margarida Corceiro
Já me cruzei com pessoas com histórias incríveis. O primeiro nome que me vem à cabeça é o Diogo Infante. Já aprendi tanto com o Diogo Infante. Actualmente sou filha dele numa novela, mas já fui par romântico dele e isso foi um desafio gigante. É um privilégio aprender com quem anda nesta vida há muitos anos.
• Nunca me deslumbrei. Mas percebo a facilidade com que algumas pessoas se deslumbram neste meio. Não preciso de andar a dizer para mim mesma ‘Ok, Margarida, desce à Terra’. Não. Estou na Terra e não vou a lado nenhum.