Opinião | 25-02-2015 16:22
Contra o radão, arejar a casa!
Se o leitor tiver uma casa que corresponda à descrição feita aqui, há uma medida preventiva simples que se impõe tomar: areje a casa, areje a casa o mais possível para a “libertar” do radão.
Se o leitor tiver uma casa que corresponda à descrição feita aqui, há uma medida preventiva simples que se impõe tomar: areje a casa, areje a casa o mais possível para a “libertar” do radão.No final do artigo “Todos estamos expostos às radiações”, dissemos que “as casas com paredes de madeira, de tijolo, de betão ou de granito expõem os seus habitantes a diferentes doses de radiação”. A propósito desta afirmação, é oportuno evocar o que se segue.Um familiar fez-me chegar às mãos o recorte de um artigo publicado há já algum tempo no jornal Terras da Beira, intitulado “Alta concentração de rádio na Guarda”. Lido o artigo, pareceu-me adequado discorrer sobre o tema, basicamente com três finalidades: fazer uma correcção de carácter técnico, esclarecer algumas questões de carácter científico e propor uma recomendação de carácter prático. A correcção de carácter técnico diz respeito ao título: julgo que, onde se lê “rádio”, deveria ler-se RADÃO. “Alta concentração de radão na Guarda” seria, pois, o título correcto. O rádio e o radão são dois elementos químicos diferentes, com propriedades distintas. O equívoco pode ter resultado de o grafismo das palavras “radão” e “rádio” ser relativamente próximo, mas não deve confundir-se uma coisa com a outra. Sem exagerar nos detalhes científicos, poderá ser útil dar a conhecer a origem do radão, bem como as suas propriedades características, para o poder “combater” com melhor conhecimento de causa. 1. Nesta problemática do radão, um elemento químico de referência é o URÂNIO, porque é ele a origem primeira (o “pai”, digamos assim) de uma série de espécies atómicas radioactivas, onde se inclui a variedade de RADÃO que é objecto de estudo pelos especialistas em protecção contra radiações.2. O urânio existe na Natureza um pouco por todo o lado e, em particular, em zonas geológicas de tipo granítico. A variedade de urânio mais abundante é uma espécie atómica que se designa por urânio-238, a qual constitui mais de 99 por cento do urânio natural. O urânio-238 é radioactivo, o que significa que emite, natural e espontaneamente, um certo tipo de radiação.3. Em consequência da emissão de radiação, o urânio-238 (U-238) transforma-se noutra espécie atómica radioactiva, o tório-234 (Th-234). O tório-234, por sua vez, também é radioactivo e, portanto, também ele emite radiação e se transforma noutra espécie atómica radioactiva, etc. 4. Assim, o urânio-238 dá origem a uma família de espécies atómicas radioactivas, que começa no urânio-238 e acaba no chumbo-206 (Pb-206), que é estável. A família radioactiva compreende, sucessivamente, o urânio-238, o tório-234, o protactínio-234 (Pa-234), o urânio-234 (U-234), o tório-230 (Th-230), o rádio-226 (Ra-226), o RADÃO-222 (Rn-222), o polónio-218 (Po-288), etc. e, finalmente, o chumbo-206.5. Ora, o radão-222, descendente directo do rádio-226, é que é o “famoso” radão que constitui motivo de apreensão, nomeadamente para as gentes beirãs. Pode perguntar-se: porquê o radão-222, em especial, e não as outras espécies atómicas radioactivas que fazem parte da família do urânio-238? No essencial, a resposta é a seguinte: o radão-222 é a única espécie atómica que é um GÁS (os restantes são sólidos). Em consequência, o risco para a saúde das pessoas decorre do facto de o radão-222 (que é um gás radioactivo, insiste-se) poder ser inalado e alojar-se nos pulmões. Acresce que a radiação emitida pelo radão-222 é constituída por partículas alfa, que têm um efeito localizado gravoso. Dada esta explicação, podemos agora, sem perda de rigor, adoptar a palavra “radão” para significar, exactamente, a espécie atómica radioactiva designada por “radão-222”. Por outro lado, é de admitir que o leitor esteja, nesta altura, em condições de compreender sem dificuldade as seguintes afirmações: (A) O aparecimento de radão, num determinado local, está relacionado com a existência de urânio nesse local, o qual, por sua vez, aparece associado, em particular, a zonas geológicas de tipo granítico ou à utilização de materiais graníticos. (B) Se uma casa for construída numa zona granítica, ou se as suas fundações forem em granito, ou se as paredes forem em granito, ou se for utilizada areia granítica nas fundações ou sob a forma de argamassa, então é muito provável que o radão apareça no interior dessa casa em concentrações mais ou menos elevadas, sobretudo ao nível de caves ou do piso térreo. (C) O radão constitui um factor de risco para a saúde porque é um gás radioactivo, e porque, se existir em concentrações elevadas no ar que respiramos, pode ser nocivo para os pulmões.Finalmente, a recomendação de carácter prático. Se o leitor tiver uma casa que corresponda à descrição feita aqui, há uma medida preventiva simples que se impõe tomar: areje a casa, areje a casa o mais possível para a “libertar” do radão. Abra as janelas, faça circular o ar, deixe que o ar do exterior substitua o ar interior de sua casa. Com a simples renovação do ar, consegue-se normalmente fazer baixar a concentração de radão para níveis razoáveis. É claro que esta é uma medida preventiva de efeito imediato, mas ela não exclui, obviamente, o interesse de um aconselhamento específico junto de quem possa prestar apoio técnico-científico apropriado (consultar, por exemplo, o Laboratório Nuclear de Sacavém: http://www.itn.pt/sec/psr/pt_psr_ra.htm ).Eduardo Martinho25.Fevereiro.2015
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