Opinião | 31-05-2016 15:03

Obama, Hiroshima e o Nuclear

Há quem julgue que a Era Nuclear começou com Hiroshima, mas a realidade é outra. Hiroshima “apenas” revelou ao mundo o enorme poder da energia nuclear, para o bem e para o mal.

Barak Obama visitou recentemente Hiroshima, a cidade japonesa onde foi lançada em 09 de Agoso de 1945 a primeira bomba “atómica”. Dado que a Segunda Guerra Mundial, iniciada em 01 de Setembro de 1939, acabou em 02 de Setembro de 1945, não custa a admitir que a bomba “atómica” tenha influencido decisivamente o fim de uma guerra devastadora em que morreram dezenas de milhões de pessoas.

Há quem julgue que a Era Nuclear começou com Hiroshima, mas a realidade é outra. Hiroshima “apenas” revelou ao mundo o enorme poder da energia nuclear, para o bem e para o mal. A Era Nuclear começou de facto entre finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX, em especial com a descoberta da radioactividade (1896), a que se seguiram outros avanços científicos como a descoberta do núcleo atómico (1911), do neutrão (1932), da cisão nuclear (1939) e, finalmente, com o funcionamento do primeiro reactor nuclear (1942).

Houve quem visse na visita de Obama uma oportunidade para os Estados Unidos pedirem desculpa ao Japão. Todavia, a relação entre países, sobretudo em contexto de guerra, não passa por pedidos de desculpa a posteriori. Se assim fôsse, ainda hoje andavam os países a pedir desculpa uns aos outros por malfeitorias passadas, as quais, não esqueçamos, terão ocorrido em certas circunstâncias. A própria Igreja Católica levou quase 400 anos a reconhecer que Galileu Galilei foi injustamente condenado pela Inquisição.

Como escreveu um dia o Professor António Manuel Baptista, “o problema da sobrevivência é aquele que determina poderosamente todas as prioridades”. Dito isto, há que reconhecer que a visita de Obama a Hiroshima teve um carácter simbólico, onde o não-dito fica implícito no gesto praticado e tem mais valor do que um discurso formal.

Há quem entenda que o “nuclear” é a “mãe de todas as desgraças” e que sem o “nuclear” (porventura sem os cientistas!) não haveria bomba “atómica”. A vida real não funciona segundo juízos deste tipo. Assim como não se pode parar o curso da História, também não se pode parar o curso do desenvolvimento da Ciência.

É verdade que os cientistas têm uma responsabilidade moral e ética perante a sociedade, mas também é verdade que têm o dever de alargar tanto quanto possível as fronteiras do conhecimento científico. Afinal, a Ciência não pode ser responsabilizada pela utilização que dela fazem os homens.

Daqui resultam por vezes contradições, como a que sentiu Einstein a certa altura: num primeiro tempo, apoiou a construção da bomba “atómica” perante a evolução dos acontecimentos durante a Segunda Guerra Mundial; num segundo momento, consciente da sua capacidade destruidora, tentou contrariar a corrida ao armamento nuclear. Em vão, porque os políticos têm razões que os cientistas desconhecem...

Eduardo Martinho

31.Maio.2016

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