Opinião | 04-08-2016 00:08

Certificações da treta

É cada vez mais frequente encontrar produtores que consideram a “não certificação” um fator de valorização e de qualidade distintiva. Compreende-os perfeitamente. À volta deste tema montaram-se autênticas teias de negócio que todos nós pagamos”

A saturação que assumo e escrevo resulta do que considero o ridículo “excesso de certificação”. É de tal forma que às vezes já dou por mim a desconfiar dos infinitos selos, isto é, das certificações e garantias de alguns produtos. A continuar assim um dia destes só terá valor o que não for certificado. Na verdade, Portugal, em particular a nossa região, tem um conjunto de características que lhe confere uma grande quantidade de patrimónios de valor. Penso em tudo o que agora se certifica e classifica (fado, cante, chocalhos…) e também no que respeita aos “produtos da terra”. É aqui, nas pequenas e genuínas produções locais – mais uma vez o valor do local – que o nosso país pode ganhar relevância. O número de qualificações, por exemplo, para vinhos, enchidos, queijos, mel etc, são tantas que não é para qualquer um. Não raras são as vezes que ali mesmo ao lado, só por estar ao lado de uma Região Demarcada, Denominação de Origem Demarcada, ou de uma Indicação Geográfica Protegida, etc, um produto bem melhor que o classificado não atinge essa distinção. Só mesmo o diabo saberá porquê? Curiosamente é cada vez mais frequente encontrar produtores que consideram a “não certificação” um fator de valorização e de qualidade distintiva. Compreende-os perfeitamente. À volta deste tema montaram-se autênticas teias de negócio que todos nós pagamos, falta saber se com retorno que o justifique?
Ao lado de tudo isto, na linha do que escrevi uma semana destas sobre a economia de proximidade, localmente surgiram experiências com sucesso muito interessantes. Muito para além das mercearias de bairro onde se compra o pão e dá dois dedos de conversa que vale sempre a pena, começam a ser comuns projetos de hortas orgânicas de venda local onde os tomates sabem a tomate e os morangos a morango. Noto igualmente a existência de redes informais de comercialização de bons produtos, designadamente ao nível de pequenos mercados ao fim de semana, lojas de usados, designadamente de roupa, etc. A propósito, na primeira oportunidade atrevam-se nessas lojas de roupa usada, arriscam-se a uma grande e positiva surpresa.
Ainda se lembram da história da VW, conceituada e credível marca global? A VW ostenta todas as certificações possíveis e imaginárias para o sector industrial e automóvel. Estamos entendidos?
Carlos A Cupeto
Universidade de Évora

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