Opinião | 03-04-2018 10:37

Cidadania e Governança: o que significa Sustentabilidade?

Há pouco mais de uma década, poucas pessoas estavam conscientes do que era a sustentabilidade. Todos estavam, e continuam a estar, mais preocupados com a economia e com a tensão política.

A realidade do nosso ambiente empobrecido proveniente de uma desigualdade social, de uma economia frágil e de um clima instável, levaram o termo ‘sustentabilidade’ ao centro do debate em quase todos os setores. A palavra ‘sustentabilidade’ é cada vez mais utilizada em praticamente todas as histórias de marketing, no discurso político e até na rotulagem de produtos, colocando a palavra em risco de perder o seu significado.

Há pouco mais de uma década, poucas pessoas estavam conscientes do que era a sustentabilidade. Todos estavam, e continuam a estar, mais preocupados com a economia e com a tensão política. Segundo Rodrigues (2010), dez anos após a definição original do relatório Brundtland (WCED, 1987), o conceito conhecia mais de 100 enunciados diferentes, todos eles corretamente formulados de acordo com os objetivos particulares dos respetivos promotores, em representação de um número correspondente de disciplinas técnicas ou áreas de atividade específicas. Foram já muitos os autores que, nos seus estudos sobre a sustentabilidade, concluíram estar perante um conceito que significa “coisas diferentes para pessoas diferentes, em contextos diferentes” (Bebbington, 2001).

Quando perguntamos às pessoas qual o significado de ‘sustentabilidade’, geralmente dizem ser duradouro e estável, outros referem que é a “ação de não poluir” ou “energia limpa”, outros interligam-na com “pessoas, planeta e lucro”. Parece existir falta de consenso sobre o que realmente significa sustentabilidade. Na maioria das vezes, como definição de senso comum, o testemunho de um pescador do Rio Tejo, como o de Ricardo Vermelho, ao jornal O MIRANTE, em 25 de janeiro último, quando afirmou que “a morte do Tejo a jusante de Vila Velha de Ródão, até Lisboa, lixou a vida a dezenas de pescadores, agricultores e criadores de gado que viviam do rio”, traz muito mais clareza do que muitas das teorias académicas existentes.

O que a história recente nos conta é que existe uma grande quantidade de medidas bem-intencionadas mas que acabam por se tornar piores do que se nada tivesse sido feito. Em nome da sustentabilidade existem regulamentações sobre economia de energia ou de água ou da reciclagem, que, na sua maioria, pesam no ‘bolso’ das pessoas e afetam a igualdade social. Por outro lado, aparecem muitas certificações, rótulos e políticas de ‘sustentabilidade’ que mais parecem estar a inventar a sua própria realidade. Para alterar este atual paradigma é necessário deixar de medir as ‘boas-intenções’ e passar a medir as ‘evidências’ concretas sobre as atividades desenvolvidas e implementadas no terreno.

Sustentabilidade é uma das palavras mais importantes das últimas décadas, central em muitos programas e iniciativas da sociedade e considerada como o desafio mais importante do nosso século. Segundo estudo da Católica-CESOP realizado no último trimestre de 2017, os autarcas acham que o conhecimento dos municípios sobre Sustentabilidade é bom ou muito bom, mas percebe-se que, embora organizem muitas ações de sensibilização e a integrem no seu discurso, não assumem a sustentabilidade de forma clara nas suas estratégias.

Pode-se considerar que sustentabilidade é um sistema dinâmico de atores, relações e ocorrências que interligam, de forma muito estreita, a qualidade de vida e bem-estar das pessoas com três grandes grupos de desafios interrelacionados: Recursos, Alterações Climáticas e Globalização. Neste contexto, para as autarquias, será importante promover um conjunto de dinâmicas societais, não só para a definição de políticas públicas mas, sobretudo, para implementar medidas de transição para a sustentabilidade no terreno, que resultem na melhoria da qualidade de vida e do bem-estar das pessoas.

José Fidalgo Gonçalves

Investigador Católica-CESOP, Lisboa

Abril.2018

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