Opinião | 05-11-2018 10:20

Cidadania e Governança: Sociabilizar para capacitar

Estranhamente alguns autarcas persistem em modelos centrados no apoio a carenciados, numa atitude de caridade pura, em vez de apostar na dignificação humana. É urgente apostar na capacitação da comunidade, porque a capacitação estimula a adoção de condutas éticas que garantem um funcionamento corresponsável entre partes interessadas.

A problemática social deveria merecer uma atenção redobrada de todos nós, sobretudo numa perspetiva da capacitação das pessoas, pela importância que o conhecimento representa para o desempenho da sociedade. Hoje, somos confrontados com fenómenos ideológicos surpreendentes, com decisões de grande contraste. Se nos detivermos a olhar com atenção para as condições de vida e para as características de cada um desses grupos, percebemos que existe um disfuncionamento na sociedade que se manifesta através de lutas carregadas de vazio, arrastadas pela euforia do desejo de uma vida melhor.

Também as Autarquias deverão ter uma atenção mais objetiva, perante a complexidade dos problemas atuais, nomeadamente nesta vertente da capacitação social. É fundamental preparar os cidadãos para uma participação mais ativa na sociedade; afinal somos todos responsáveis pelo atual estado de coisas e, ainda mais, pela garantia às gerações vindouras de condições que lhes permitam organizar um futuro sustentável. Já não falamos só da necessidade de envolvimento e participação dos cidadãos, mas também, na de capacitar os atores locais para os corresponsabilizar.

As dinâmicas numa comunidade causam impactos que afetam positivamente ou negativamente, não apenas na sua comunidade, como afetam igualmente outros territórios. Assim, quanto maior for o conhecimento e envolvimento dos atores locais, mais positivo pode ser esse contributo. Por isso, requer-se aos municípios novas formas de colaboração com cidadãos e entidades coletivas do território que representam. Esta postura, que já acontece em alguns municípios, assenta no desenvolvimento de novas dinâmicas societais, em áreas como a valorização de recursos e competências locais, animação cultural e social que se adequem à realidade social e económica de cada concelho.

Os problemas sociais adensaram-se ao longo do tempo, por isso, exigem soluções inovadoras, mais colaborativas, auscultando as partes interessadas e com uma monitorização permanente do impacto provocado. Mas apesar desta turbulência profunda, com tendência para se agravar, estranhamente alguns autarcas persistem em modelos centrados no apoio a carenciados, numa atitude de caridade pura, em vez de apostar na dignificação humana. É urgente apostar na capacitação da comunidade, porque a capacitação estimula a adoção de condutas éticas que garantem um funcionamento corresponsável entre partes interessadas. Disso depende a qualidade das respostas sociais, logo da satisfação das necessidades dos cidadãos atuais e gerações futuras.

A capacitação dos atores locais resulta em cidadãos mais reivindicativos. Certo? Mas isso só pode representar uma crescente melhoria da qualidade de vida e do bem-estar da população, afinal o grande desígnio das autarquias. O apelo vai para a promoção da corresponsabilização e de um funcionamento democrático que envolva todas as partes interessadas. Uma comunidade, cujos atores estão habilitados e capazes de se adaptar às mudanças futuras, portanto mais resilientes, requer que as autarquias encontrem novos modelos colaborativos, onde a procura do conhecimento seja a ‘ferramenta’ para enfrentar a adversidade.

É tempo de rejuvenescer as autarquias, de professar preocupações sociais, ambientais e económicas; de entender que a capacitação é um processo de transformação global; que ao semear a vontade coletiva de aprender, os resultados são em benefício do bem comum, ou seja, de todos. Esta postura autárquica, com o futuro e com a comunidade, é fundamental para a implementação no terreno de medidas de transição para a sustentabilidade.

José Fidalgo Gonçalves

Investigador Católica-CESOP

novembro.2018

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