Opinião | 27-04-2019 10:00

Gambozinos, guardas florestais e outras coisas mais

Gambozinos, guardas florestais e outras coisas mais
OPINÃO

Emails do outro mundo.

Retumbante Manuel Serra d’Aire

Estive a ler com redobrado interesse os critérios de selecção para a carreira de guarda florestal e constatei que são mais exigentes do que para se ingressar como astronauta na NASA ou para se entrar para um gabinete de ministro ou de secretário de Estado em Portugal. Isto só por si dá conta da consideração que quem determinou esses quesitos tem relativamente a uma actividade extinta há uns bons anos e entretanto ressuscitada.

E atenção, caro Manuel, que desta vez não estou a exagerar: pessoas carecas, gagos, desdentados, estrábicos, com hemorróidas volumosas (??), micoses, alterações anatómicas do pavilhão auricular (o velho Spock da série Star Treck ficaria automaticamente excluído), acne refratário ao tratamento e causando má aparência (é verdade, isto está mesmo lá escrito!) e outros defeitos de fabrico podem tirar o cavalinho da chuva que não têm hipótese de ser guarda florestal. Poderão ter uma carreira brilhante na banca, na advocacia, na engenharia nuclear ou na política, por exemplo, mas como guarda florestal népia!

Os critérios de selecção devem ter sido estabelecidos por algum fanático da eugenia que quer criar não um singelo corpo de guardas florestais mas sim um batalhão de super homens e de super mulheres para tomar conta da nossa floresta. O meu primo Ernesto, calvo precoce, ficou pior do que estragado com a notícia, pois já se via numa carreira profissional em contacto com a natureza. Tentei animá-lo dizendo-lhe para fazer como o José Cid e comprar uma peruca, pois pode ser que passe na entrevista.

No teu último email incumbiste-me de uma missão quixotesca: explicar-te o que é e como é um inclinómetro. Como nunca tinha ouvido falar de semelhante geringonça até saber que a Estrada Nacional 114 em Santarém não pode reabrir enquanto não instalarem os famigerados inclinómetros para avaliar a tremideira das encostas, não sei bem o que te dizer. Tentei investigar junto daquela malta que sabe tudo e que costuma parar pelas tascas mais afamadas do meu bairro e houve quem me afiançasse que são coisas ainda mais raras e esquivas que os gambozinos, daí a dificuldade em arranjá-los. E eu acreditei!

Um miúdo de 11 anos que joga futebol no Samora Correia tornou-se notícia na comunicação social regional e nacional porque, após ter sido expulso num jogo da bola, decidiu escrever uma carta ao árbitro a pedir-lhe desculpa pelo seu comportamento. Houve quem questionasse se o caso merecia tantas parangonas e quem dissesse que esse alarido todo é o reflexo do jornalismo que temos, que aproveita todas as migalhinhas que apelem à emoção e ao click. Para mim, o assunto também é notícia mas por razões um pouco diferentes: afinal ainda há jovens que se dão ao trabalho de escrever cartas (ainda por cima a um árbitro, essa classe mal amada) e, mais relevante, sem dar erros ortográficos, o que o coloca num patamar acima de muitos licenciados. Na volta, este puto até sabe o que é um inclinómetro...
Saudações revolucionárias do
Serafim das Neves

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