Opinião | 05-09-2019 07:41

A sopa da pedra não engana

Uma viagem com turistas brasileiros pela região ribatejana para confirmarmos que somos muito maus a receber turistas e a promover a nossa terra.

Esta semana desviei para Santarém, Almeirim, Chamusca, Tomar e Constância turistas brasileiros que me pediram para lhes mostrar a região. Não tenho boas notícias. Nem tenho a certeza que a esta altura não esteja a ser amaldiçoado por os ter apressado na visita a Óbidos e desviado de Mafra e Batalha. Só não consegui convencê-los a trocarem a visita às praias fluviais da região pelo banho de mar e de gente na Nazaré.

Senti que só os convenci em Almeirim na hora de comerem a sopa da pedra. No resto vi um brilho nos olhos que me pareceu de espanto por termos encontrado os museus fechados à hora do almoço, por algumas igrejas estarem fechadas e sem visitas, e por as lojinhas abertas em Óbidos serem mais atractivas que o número de todas as outras que fomos encontrando na viagem pelo Ribatejo.

Considero a Igreja da Graça em Santarém, e o túmulo do Pedro Álvares Cabral, o melhor cartão de visita do distrito logo a seguir ao Convento de Cristo em Tomar. Mas os horários de abertura são insuficientes para motivar esperas. Coração que não vê não sente. Apesar do entusiasmo, e da admiração dos brasileiros pelos portugueses aventureiros que se fizeram ao mar para descobrirem o mundo, quem está de férias quer é fazer caminho e diversificar as actividades.

Tenho números que provam que a região ribatejana perdeu turistas nestes últimos anos. A iniciativa da Região de Turismo do Ribatejo e Alentejo em nomear embaixadores é meritória mas não chega nem parece uma solução que produza grandes efeitos. Está na cara que a solução é uma campanha de promoção da região nos aeroportos e junto dos agentes de turismo. Ninguém apanha moscas com vinagre para citar um ditado popular.
A Chamusca tem uma capela no Outeiro da Senhora do Pranto que é única na região devido aos azulejos muito antigos. A chave está na Santa Casa da Misericórdia mas podia estar na casa de um vizinho da igreja que aceitasse o trabalho voluntário e bairrista de mostrar a capela aos turistas mais bem informados que a procuram. A Chamusca é uma terra de gente boa sempre disponível para se voluntariar em nome do seu bairrismo.
A capela do Senhor do Bonfim, que também é única na região, está fechada e imagino que sem condições de ser visitada. Estivemos por lá a comer figos diretamente da árvore e foi o maior consolo que pudemos levar para a viagem até ao Almourol, que agora tem entrada paga mas que continua a ser um monumento mal aproveitado tendo em conta as exigências do turismo actual.

Estou a tentar enfrentar a página em branco onde escrevo esta crónica sem ter a certeza que vale a pena bater no ceguinho. Metade da crónica da viagem fica no computador porque também sinto pena de mim próprio. Tudo indica que, apesar de andar sempre a mudar de lentes, o maior cego da região sou eu. JAE

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