Cidadania e Governança: o conhecimento e as novas tecnologias

…se nos detivermos a olhar com atenção para o dia-a-dia das pessoas e da sua relação com as novas tecnologias, percebemos que existe um disfuncionamento na sociedade que arrastada pela euforia da novidade, sobretudo nas redes sociais, interagem com conteúdos carregados de vazio…
E se o acesso ao conhecimento fosse, de facto, para todos? Esta reflexão, interligada com as consequências da utilização da Internet, está cada mais presente no debate de governos e de instituições, um pouco por todo o mundo, desde os que defendem uma regulação bem apertada até aos que querem o acesso livre e gratuito para todos.
Recentemente, o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, salientou “a urgência de combater as desigualdades entre países e entre mulheres e homens, de enfrentar as mudanças disruptivas no mundo do trabalho, na economia e na educação e pôr o potencial das tecnologias ao serviço da realização dos direitos humanos”. Associando, assim, a problemática social com a capacitação das pessoas, sublinhando a importância do conhecimento para o desempenho da sociedade, ou seja, a necessidade de encontrar soluções que garantam o acesso de todos à Internet.
Neste contexto de acesso ao conhecimento ou da partilha de informação, deparamo-nos com constrangimentos de diversa ordem, nomeadamente de barreiras linguísticas ou de fronteiras de países. Percebe-se a necessidade de encontrar soluções que permitam corrigir esta necessidade básica, considerando que todos têm o direito de pesquisar, de trocar informações e opiniões e de difundi-las sem limitações de qualquer tipo. O que nos leva à segunda questão: e se a Internet permitisse aos utilizadores, independentemente da sua origem, comunicar através da língua nativa de cada um?
Por outro lado, se nos detivermos a olhar com atenção para o dia-a-dia das pessoas e da sua relação com as novas tecnologias, percebemos que existe um disfuncionamento na sociedade que arrastada pela euforia da novidade, sobretudo nas redes sociais, interagem com conteúdos carregados de vazio ou até com aqueles que procuram manipular as pessoas, nomeadamente os que promovem o racismo, o terrorismo e a xenofobia. Mas, também, estão sujeitos à incursão abusiva, de malware e/ou spyware, no seu software, computador, rede ou sítio na Internet. O que nos leva à terceira questão: e se todos tivessem direito à proteção das infraestruturas e das tecnologias?
Constatamos a importância do papel das novas tecnologias na sociedade. Percebemos a necessidade de uma sociedade mais informada, mais conhecedora e mais atuante. E, tudo isto implica, forçosamente, a formação generalizada dos cidadãos, desde a utilização de mecanismos digitais, até à cibersegurança. Entendemos que uma sociedade preocupada, uma democracia que promove a igualdade e defesa dos direitos das pessoas é, seguramente, uma sociedade mais sustentável.
É tempo de entender que a capacitação é um processo de transformação global e que ao semear a vontade coletiva de aprender, os resultados são em benefício de todos. Na nossa opinião, deverá ser concretizada a partir da escala local, com uma visão de alcance global. Aos Governos, nos seus diversos níveis, pede-se que assumam o compromisso de fomentar e potencializar o conhecimento. Sugere-se que comecem por identificar e caraterizar as necessidades sociais e, posteriormente, implementem medidas adequadas, através da inovação multidisciplinar (inclusão, coesão e participação publica), bem como, o reforço de medidas de proteção das infraestruturas e das tecnologias.
José Fidalgo Gonçalves
Investigador Católica-CESOP
Nov.2019