Opinião | 25-03-2020 07:00

A Eva de Almeirim e o renascer da procura de livros quando falta papel higiénico

A Eva de Almeirim e o renascer da procura de livros quando falta papel higiénico
OPINIÃO

Emails do Outro Mundo

Anti-virulento Serafim das Neves
Estou em casa, numa quarentena auto-imposta, com o frigorífico e a garrafeira cheios. Em vez de séries de crime e investigação, estou a ver os directos dos telejornais, que agora se prolongam por dias e dias, com jornalistas emboscados à porta de escolas vazias e urgências hospitalares cheias, a entrevistar os habituais cidadãos especialistas, sobre o coronavírus.

Ouvir parvoíces e disparates, seja da parte de entrevistadores, de entrevistados, ou de comentadores em estúdio, ajuda-me a vencer a tentação de sair à rua. Ajuda-me a perceber que, mesmo que o vírus não me infectasse, correria o risco de tropeçar num açambarcador compulsivo de caixas de paracetamol; de latas de atum, ou de rolos de papel higiénico. E eu sei que essa rapaziada tem muito menos graça ao vivo do que na televisão ou em histeria nas redes sociais.

De resto e tirando esse tal Covid-19 está tudo normal, no nosso querido Portugal. Há a caça ao diagnóstico errado, que já existia antes; a denúncia de médicos que não receitaram nada na urgência e nem sequer uma radiografia mandam fazer; os pais que desesperavam por as escolas ainda não terem fechado e que agora reclamam por as escolas estarem fechadas; amigos de primos de vizinhas que fazem a limpeza num laboratório, que juram que o que a directora-geral de saúde anda a dizer é tudo mentira e sindicalistas que defendem subsídios de risco iguais a três vezes o salário, horas extraordinárias a 500 por cento e reformas aos trinta anos, para quem tenha sentido o maléfico bafo do vírus, a menos de um quilómetro e meio.

Há quem garanta que, nos supermercados, a venda de livros aumenta assim que deixa de haver papel higiénico nas prateleiras. Não sei se é verdade mas se assim for, são boas notícias para os diversos autores da região que não se cansam de escrever e editar, apesar de haver cada vez menos pessoas a ler, a começar por eles próprios. Além disso fica assim provado que, no meio de tantos olhos míopes, há sempre um olho aberto para ver a produção de brilhantes homens e mulheres de letras, deste nosso lindo Ribatejo.

Não sei se te lembras de uma cantora de Almeirim chamada Cristina Branco. Pelo que li ela agora chama-se Eva. Ou chamam-lhe Eva. É ela própria que o diz numa entrevista ao Expresso. O vendedor da Nespresso chama-lhe menina Eva. O condutor do Uber chama-lhe, simplesmente Eva. Calculo que os taxistas de Almeirim, se a virem por lá um dia destes lhe chamem Cristina Eva, ou então Eva Cristina, que fica mais ao gosto do povo.

A mudança de nome e de personalidade, de Cristina Branco para Eva Haussman, começou com uma estadia de cinco dias (em linguagem sofisticada diz-se residência artística) , no Museu de Arte Moderna da Louisiana, na Dinamarca e deu origem a um disco que, não podia deixar de se chamar Eva.

Fico sempre fascinado com estas coisas mas nunca as consigo absorver. Já ouvi um das canções e vi o vídeo e aquilo é a Cristina Branco sem tirar nem pôr, o que confirma que sou um autêntico burgesso musical. Talvez com uma residência artística de cinco dias na Dinamarca e a mudança de nome de Manuel Serra d’Aire para Manuel Serra da Estrela ou a criação de um alter ego tipo Chico Lezíria, o meu cérebro se ilumine.
Saudações residenciais

Manuel Burgesso Serra D’Aire

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