Opinião | 14-05-2020 07:00

Rui Rio podia ser personagem de romance de João Ubaldo Ribeiro

O presidente do PSD, Rui Rio, não é muito diferente de André Ventura. Ambos carregam no verbo para compensarem a falta de ideias.

Rui Rio, presidente do PSD, afirmou que as empresas de comunicação social deviam ter do Estado o mesmo apoio que as empresas de calçado. Rui Rio alinha com André Ventura em muitas questões da vida política à portuguesa. A diferença entre eles é de comportamento. Rui Rio é mais ao jeito dos forcados, que João Ubaldo Ribeiro descreve de forma satírica no seu livro “A Casa dos Budas Ditosos”, e André Ventura é todo ele toureiro, sem capa e espada, como aqueles que frequentam as picarias mas não gostam de corridas de toiros.


O Governo diz que vai dar, em 2020, por causa da pandemia, 15 milhões de euros em publicidade institucional às empresas de comunicação social que fazem o mesmo trabalho de serviço público que a rádio e a televisão do Estado, que levam todos os anos cerca de 300 milhões de euros. Estes 15 milhões, que poderão chegar em tempo de pandemia a cerca de 500 empresas de comunicação social, entre imprensa e rádio, são uma esmola comparado com aquilo que o Estado gasta com o serviço público de televisão, rádio e agência pública de notícias. E, pior que isso, foi preciso uma pandemia para que o Estado finalmente cumpra aquilo que está publicado em Diário da República há muitos anos, que é a obrigatoriedade de publicar publicidade institucional nos jornais, entre eles os regionais e locais, que é aquilo que muito raramente acontece. Ou seja; o Estado está obrigado por lei a publicar publicidade institucional nos jornais e rádios, só que não o faz, e ninguém vai atrás do prejuízo porque dá muito trabalho e muitas inimizades. Quem conhece a minha opinião sobre as associações de muitos sectores, agricultura incluída, fica agora a conhecer também a minha opinião sobre as associações de imprensa: são quase todas prestadoras de serviço, que vivem dos negócios com o Estado, à custa dos que trabalham nos vários sectores da vida empresarial.

Rui Rio, responsável pelo maior partido da oposição, podia aproveitar o estado calamitoso em que vivemos e ganhar estatuto, lutar por um lugar na frente para um dia chegar a primeiro ministro. Ao contrário, fala do que não sabe, tem uma língua de trapos e a sua ousadia em matéria política só pode ser gozada, ao jeito de João Ubaldo Ribeiro, quando brinca com as touradas e os forcados em “A Casa dos Budas Ditosos”, ou quando cita Nelson Rodrigues para dizer que tinha razão ao afirmar que “se todo o mundo soubesse da vida sexual de todo o mundo ninguém se dava com ninguém”.


Não vem nos livros, nem é matéria dos noticiários das televisões, os dramas das populações que vivem no interior e estão entregues à bicharada. Os preços das casas em algumas vilas e aldeias da região caíram a pique e ninguém as quer comprar. Entretanto a Câmara de Lisboa está a preparar-se para comprar casas, prontas a habitar, para arrendar, e assim aumentar o seu património habitacional. As autarquias do interior, que perdem população e vêem definhar o comércio tradicional e são obrigadas a fechar escolas, não têm qualquer política social para implementar nos próximos anos, mesmo sabendo que a União Europeia apoia políticas de habitação contra o problema da interioridade. Não vou falar dos concelhos que conheço bem, onde as populações perdem qualidade de vida e vêem o seu património desvalorizado. Mas deixo aqui, mais uma vez, um aviso àqueles que gostam da sua terra e não exercem a crítica necessária para que os políticos de proximidade sejam obrigados a vestirem as luvas de boxe para lutarem pela sua gente e pelo futuro das suas cidades, vilas e aldeias. JAE

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