Opinião | 07-01-2021 16:09

Vale a pena ter um vizinho como a CIMPOR?

Alhandra perdeu e continua a perder o nível de atratividade para viver, investir e até para visitar. Por isso a pergunta que se põe permanentemente: vale a pena ter um vizinho como a CIMPOR apesar da importância que tem para o emprego e a economia do concelho ?

A história conta que Alhandra foi um importante entreposto de circulação de pessoas, quer pelo rio Tejo, quer pelo caminho de ferro, quer ainda pela estrada nacional (EN10). Depois foi a Alhandra dos telhais; da fiação de lãs, da CIMPOR e da Cimianto. A Alhandra que ao longo tempo alterou a sua paisagem, relegada para um buraco, mais acentuado desde 1961, com a construção da autoestrada (A1). A Alhandra que viu encerrar a maior parte dessas fábricas, vê hoje a fábrica da Cimpor e a autoestrada (A1), onde circulam automóveis de todo o tipo que ali não se destinam nem podem parar para apreciar a vida em Alhandra.

Fixando-nos na CIMPOR e nos seus impactos na população de Alhandra, a pergunta que se faz há mais de 30 anos e que prevalece até aos dias de hoje é: vale a pena ter um vizinho como a CIMPOR?

Por um lado, ‘pesa’ o número de postos de trabalho direto e indireto e o valor gerado pela exportação; por outro lado, ‘pesa’ a poluição que deixa o ar irrespirável, provocado pelas poeiras e maus cheiros que a CIMPOR liberta sem cuidados. Certo que, de vez em quando, a entidade reguladora APA (Agência Portuguesa do Ambiente) ‘aparece’ e deixa ‘recomendações’. Mas não passa disso mesmo: recomendações. A própria Secretaria de Estado do Ambiente, conforme tivemos oportunidade de ler no jornal O MIRANTE do passado dia 30 de dezembro, considera “normal que uma unidade industrial pesada seja vista como a única fonte de toda a poluição da zona”.

Olhando para todas as pessoas que vivem em Alhandra e nas freguesias vizinhas, com o propósito de melhorar a sua qualidade de vida e bem-estar, só vejo duas possibilidades: ou a CIMPOR muda para um local mais apropriado, ou a CIMPOR cumpre, com rigor, todas as recomendações da APA.

Retenho na memória, pelo menos desde 2007, um conjunto de manifestações, umas vezes por iniciativa espontânea da população, outras por iniciativa das autarquias, outras ainda por associações ambientais. Mas, até agora, tudo se mantém igual.

O facto é que Alhandra perdeu e continua a perder o nível de atratividade para viver, investir e até para visitar. Apesar das obras de requalificação lhe terem dado uma nova vida, onde sobressai o passeio ribeirinho; apesar de manter um conjunto de atividades ligadas ao Rio Tejo que fazem jus ao histórico Cais 14; as pessoas continuam a pagar, com custos bem elevados, a displicência empresarial da CIMPOR. Assim, renovo a pergunta: vale a pena ter um vizinho como a CIMPOR?

José Fidalgo

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