Opinião | 08-02-2021 14:04

Os ciganos e a corte de Lisboa

Em muitas terras do Alentejo, as comunidades ciganas são já dominantes. E os lisboetas de bem, porque compram tudo feito, não ganham o que ganham os reformados no Alentejo e não sabem sequer o que é viver junto de comunidades ciganas dominantes ( : ) Para estes alentejanos, André Ventura representa o que representou o Partido Comunista, antes e depois do 25 de Abril, quando os defendeu perante aqueles que, na altura, também os subjugavam.

Antes do 25 de Abril, os ciganos eram populações nómadas, que viviam do contrabando de tabaco, do que lhe davam e do que iam encontrando por aí. Culturalmente, não divergiam muito das populações residentes, quer relativamente aos direitos das mulheres, quer ao casamento e ao adultério, quer quanto à vida escolar.

50 anos após o 25 de Abril, os ciganos deixaram de ser uma população nómada, mas estão mais marginalizados e estigmatizados que nunca. Trocaram o contrabando de tabaco pelo tráfico de droga, continuam a viver do que o Estado lhe dá (o RSI) e do que vão encontrando por aí. E culturalmente, continuam com os mesmos valores e tradições de há 50 anos. A Corte de Lisboa abandonou-os completamente à sua sorte, tratando-os como se não fossem portugueses, dando-lhes o RSI como esmola e permitindo a sua guetização. E não me venham com os exemplos de Quaresma, da juiz ou de muitos portugueses que tiveram a mesma proveniência, mas que hoje são portugueses de corpo inteiro.

É claro que o peso dos ciganos no RSI é absolutamente insignificante e, para a Corte de Lisboa, as comunidades ciganas são irrelevantes, quer em termos de número, quer em termos de criminalidade.

Acontece que, com a apropriação por parte da Corte de Lisboa do grosso dos fundos de coesão destinados às regiões mais pobres, as assimetrias regionais acentuaram-se de forma brutal, provocando a desertificação e o esvaziamento do Alentejo e do interior do país, onde só ficaram os velhos e os colunatos de Lisboa que constituem as autarquias locais e que têm por único objectivo garantir o controlo do território pelos partidos da Corte de Lisboa. Basta, aliás, olhar para os círculos eleitorais, para constatar que os alentejanos, beirões e transmontanos estão obrigados a votar nos partidos da Corte de Lisboa, sob pena de o seu voto ser absolutamente inútil.

Ora, em muitas terras do Alentejo, as comunidades ciganas são já dominantes. E os lisboetas de bem, porque compram tudo feito, não ganham o que ganham os reformados no Alentejo e não sabem sequer o que é viver junto de comunidades ciganas dominantes, não têm a mínima noção do sofrimento e da angústia que isso significa. Para estes alentejanos, André Ventura representa o que representou o Partido Comunista, antes e depois do 25 de Abril, quando os defendeu perante aqueles que, na altura, também os subjugavam.

É óbvio que os culpados não são nem os ciganos, nem os alentejanos que são tratados abaixo de cão pela Corte de Lisboa e que votaram em André Ventura. O único culpado é a Corte de Lisboa que, mais uma vez, açambarcou os fundos de coesão em benefício próprio, tal como já tinha feito com as especiarias e o ouro do Brasil, tendo usado o municipalismo para controlar o voto, ao mesmo tempo que mantém as tensões e rivalidades paroquiais entre autarquias vizinhas, o que lhe permite colocar-se num patamar supranacional e engordar à conta dos recursos que deviam ser de todos.

Santana-Maia Leonardo

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