O Estado de onde nunca saímos
Portugal não é um Estado de Direito. Portugal é um Estado de Direito Livre onde quem detém o poder tem à sua disposição uma panóplia de instrumentos legislativos extremamente violentos e repressivos destinados a perseguir e reprimir todos aqueles que não se conformam com a rede de corrupção que controla e gere o nosso país.
Segundo consta, Salgueiro Maia terá justificado desta forma extremamente simples a sua decisão de participar no 25 de Abril: “há três tipos de Estado: o Estado comunista, o Estado fascista e o Estado a que isto chegou.” Se hoje fosse vivo, Salgueiro Maia não poderia ter deixado de constatar que “o Estado a que isto chegou” e que justificou o seu envolvimento no 25 de Abril, afinal, não é mais nem menos do que “o Estado de onde nunca conseguimos sair”. Ou seja, o Estado corrupto-socialista que, no fundo, é uma forma híbrida, mole e viscosa nascida do cruzamento religioso entre o nacional-socialismo e o socialismo nacional.
Como não me canso de repetir, Portugal não é um Estado de Direito. Portugal é um Estado de Direito Livre onde quem detém o poder tem à sua disposição uma panóplia de instrumentos legislativos extremamente violentos e repressivos destinados a perseguir e reprimir todos aqueles que não se conformam com a rede de corrupção que controla e gere o nosso país. Quem tiver a ousadia de enfrentar esta gente em campo aberto e de rosto descoberto tem a vida desgraçada. Basta tão-só a quem detém o poder aplicar a lei de forma selectiva e implacável.
Quando fui vereador, como já escrevi várias vezes, tendo tido conhecimento de que os concursos de pessoal da câmara estavam viciados (os candidatos a quem se destinavam os lugares ou tinham acesso às provas antes de se realizarem, ou eram os autores da própria prova, ou podiam corrigi-la depois da mesma se ter realizado), apresentei queixa no Ministério Público, tendo apresentado documentos comprovativos e testemunhas. Passado pouco tempo, fui chamado, pensava eu, para prestar declarações. Enganei-me. Fui chamado para me comunicarem que, relativamente aos concursos de pessoal, o processo ia ser arquivado, porque todas as câmaras faziam o mesmo.
Podia contar aqui outros casos ainda mais escabrosos… Mas, como todos fazem o mesmo, também não quero terminar os meus dias sofrendo mais do que já sofri precisamente por não me conformar em viver num país onde a corrupção funciona em rede e é aceite por todos.
Em Portugal, em boa verdade, não há pessoas corruptas: há um sistema corrupto que obriga as pessoas a corromperem-se para sobreviverem. Como diz um amigo meu, "numa sociedade onde as elites se apropriam do grosso dos recursos, não ensinar aos filhos a legitimidade da vigarice seria privar os mesmos de meios de subsistência."
Há gente honesta em Portugal? Ainda é capaz de haver… mas não generalizemos.