Opinião | 16-05-2021 17:11

Não Odmira!

Não foi a saúde pública o verdadeiro motivo da extrema indignação da maioria dos portugueses com a Festa do Avante e o 1.º de Maio, mas o anti-comunismo. Não é a parceria com Ricardo Salgado ( : ) que mobiliza os críticos de Filipe Vieira, mas o anti-benfiquismo. Não foi a pandemia que escandalizou a maioria dos portugueses contra os excessos dos festejos do Sporting, mas o facto de o Sporting ter sido campeão. Não é o trabalho escravo ( : ) que preocupa os portugueses relativamente aos produtos asiáticos, mas o racismo.

Sabem o que é que a festa do Sporting, a audição parlamentar de Luís Filipe Vieira e o trabalho semi-escravo dos imigrantes de Odemira têm em comum? A infinita e sempre renovada hipocrisia lusitana.

Os mesmos que, nas redes sociais, rasgaram as vestes com a Festa do Avante e as celebrações do 1.º de Maio são precisamente os mesmos que desvalorizam e desculpam os excessos dos festejos do título do seu clube do coração. Os que, nas redes sociais, se indignam com o rendimento mínimo pago a quem não quer trabalhar, são extremamente compreensivos com o rendimento máximo do dono de um palheiro, que se tornou num dos maiores devedores do Novo Banco, graças ao seu papel de peão de brega do Dono Disto Tudo. Os que, nas redes sociais, tanto apelam ao boicote aos produtos asiáticos em nome dos direitos sociais dos trabalhadores, convivem bem com o trabalho escravo de trabalhadores asiáticos em Portugal, essencial para o crescimento das nossas exportações. Ou seja, as boas razões com que a maioria dos portugueses fundamenta a sua extrema indignação e revolta, no fundo, servem apenas para esconder a única e inconfessável razão: a inveja.

Com efeito, não foi a saúde pública o verdadeiro motivo da extrema indignação da maioria dos portugueses com a Festa do Avante e o 1.º de Maio, mas o anti-comunismo. Não é a parceria com Ricardo Salgado, no saque e na pilhagem do BES, que mobiliza os críticos de Filipe Vieira, mas o anti-benfiquismo. Não foi a pandemia que escandalizou a maioria dos portugueses contra os excessos dos festejos do Sporting, mas o facto de o Sporting ter sido campeão. Não é o trabalho escravo dos trabalhadores da Ásia que preocupa os portugueses relativamente aos produtos asiáticos, mas o racismo.

Infelizmente somos um país onde a hipocrisia e a inveja são as duas principais instituições, o que impede que o mérito, a honestidade e a verticalidade se desenvolvam e floresçam em solo português. Terras de inveja e hipocrisia só produzem gente pequenina e mesquinha.

Não vale a pena, por isso, andar sempre a encher a boca com mais legislação para reformar o país, porque um país assente nestas duas instituições é, por natureza, irreformável. E é preciso um cidadão ser muito estúpido para exigir mais leis e penas mais pesadas, num país onde as leis e as penas são aplicadas de forma tão selectiva.

Se um cidadão está dentro do carro, num parque de estacionamento vazio, a comer uma sandes ou se um comerciante serve meia-dúzia de cervejas no sótão a um grupo de amigos… “Dura lex, sed lex”. Se milhares de pessoas festejam o título de campeão numa festa de bar aberto, em público e em directo na televisão, sem cumprir qualquer das regras de segurança, as autoridades têm de condescender e ainda levam na tromba.

Para já não falar na legislação contra a corrupção que toda a minha gente reclama e que PS e PSD negoceiam (o termo vem mesmo a calhar, porque se trata mesmo de um negócio). Se eu sou a favor? Não gozem comigo! Seria mais fácil, como é óbvio, a Máfia Napolitana e a Máfia Siciliana aprovarem um pacote legislativo de combate ao tráfico de droga do que PS e PSD aprovarem um pacote legislativo de combate EFECTIVO contra a corrupção.

Leis de faz-de-conta já temos mais do que a conta. Se a corrupção é a sua única forma de vida conhecida e a que os mantém agarrados ao poder como uma lapa, alguém acredita que sejam capazes de legislar contra si próprios? Uma coisa é ser hipócrita, outra coisa é ser estúpido. E estúpidos eles não são. Fazem é de nós estúpidos. Que também não somos, apesar de muito gente fingir que é. E há muitos que fingem tão bem que até me chegam a convencer que são.

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