A vergonha de ser investigado; em Ourém e na Chamusca
A PJ esteve na Câmara de Ourém e da Chamusca. Foram muitas as vozes que se levantaram contra as notícias de O MIRANTE que terão contribuído para a visita dos inspectores quando todas as nossas notícias se devem ao trabalho, às vezes fastidioso, de ouvir, entender, perscrutar e escrutinar o que se diz e ouve nas reuniões públicas das autarquias.
Em Ourém, como na Chamusca, há muita conversa de café e de rua que vai do insulto às mais fantasiosas cenas dos filmes de Tarantino ou de Hitchcock. A visita da PJ às autarquias gera uma desconfiança nos políticos de proximidade que é um caso sério na nossa democracia. Estas alturas são sempre boas para a luta política mais fraticida que é a de lidar com o boato. O caso de Fátima (Ourém) parece estar relacionado com as pedreiras que são empresas que facturam milhões.
Os autarcas estão sob fogo da investigação, aparentemente assustados com o que se está a passar, mas brincando com o assunto ao culparem a comunicação social atribuindo às notícias as razões dos seus problemas com as autoridades. Não lhes passa pela cabeça que a função da comunicação social é escrever e noticiar; que a PJ não trabalha em cima da agenda das redacções dos jornais e, muito menos, de jornais que se limitam a investigar a informação, que é pública, e que se conquista nas barbas dos autarcas em reuniões de câmara ou em actos públicos das autarquias. O que é triste nesta gente é esconderem-se como se fossem culpados ou já se sentissem condenados. Em vez de darem o corpo às balas e aproveitarem a comunicação social para fazerem o contraditório, mostrando que estão a fazer o seu trabalho e que as investigações não passam de fumo sem fogo, acobardam-se, escondem-se e ainda atribuem culpas aos jornalistas. Só gente impreparada e ignorante pode acusar um jornal de ser culpado de uma investigação da PJ sobre notícias que saíram de reuniões de câmara. Como é evidente estas acusações não são só estúpidas e maldosas; têm também como objectivo esconder o desconforto pelo escrutínio a que estão sujeitos sempre que têm na sala um jornalista que não dorme em serviço.
O caso de Ourém é aparentemente muito mais grave que o da Chamusca. As pedreiras são negócios de muitos milhões, que geram muita desconfiança na população, muitas acusações nos bastidores, muita conversa fiada que certamente também serve para criar atrito e lançar farpas sobre alguma classe política que se sente acima da lei. Em Ourém as pedreiras são grandes negócios, que geram grandes riquezas, que causam grandes invejas mas também grandes proveitos. O caso da Chamusca, onde aparentemente há apenas incompetência e ignorância na forma de gerir a autarquia, a história é bem diferente, até pelos valores envolvidos. Mas não deixa de ser um caso sério, que tira o sono aos autarcas, tão habituados a viverem no melhor dos mundos, sem terem que prestar contas que não seja aos seus camaradas e opositores políticos mal informados e também mal preparados. Desgraçadamente, todos eles também mal assessorados pelos dirigentes dos partidos que representam. Na grande maioria dos casos há vereadores da oposição a discutirem assuntos relacionados com a vida da autarquia com o mesmo espanto que um burro olha para um palácio.
Todos sabemos que o Estado português tem falhado sistematicamente no combate à corrupção. Somos levados a crer que as investigações da PJ nas autarquias são, na grande maioria dos casos, acções de fiscalização que visam detectar, prevenir e combater o crime. Vamos acreditar que há um país antes e depois de Sócrates e do caso BES. E que ser investigado não é vergonha se cada um tiver respostas para dar sobre a sua honorabilidade sem medo da sua própria sombra quando sai à rua. JAE.