Opinião | 17-06-2021 07:00

Caminhar

Os passadiços são as rotundas dos novos tempos. Quem não tem qualquer ideia recorre à construção de mais uns passadiços. Por metade do preço, delineavam, limpavam, sinalizavam e mantinham “camminus” pelo campo, pelos montes e pelas ruas das suas povoações.

Desde há uns anos a esta parte que a actividade física entrou definitivamente – e bem – nas nossas preocupações quotidianas. O surgimento da pandemia por SARS-CoV-2 e os subsequentes confinamentos estimularam o desejo pelo ar livre. Justamente, a prática de exercício físico era uma das poucas justificações legais existentes que consentia a saída de casa e, concomitantemente, o alívio do regime de prisão domiciliária que todos vivemos.

Se antes da pandemia já se via muito povo a correr e, sobretudo, a caminhar na rua, hoje em dia esse número aumentou exponencialmente. Pode mesmo afirmar-se que caminhar está na moda. Dizem os entendidos que andar é o movimento mais natural da espécie humana, muito mais do que correr.

Seria, pois, lógico que as autarquias iniciassem processos de estruturação de percursos pedonais, tal como já acontece em muitos países europeus, dos quais a Suíça é o exemplo mais paradigmático. Esses percursos, sejam urbanos, sejam rurais, além de estruturas naturais potenciadoras da qualidade de vida das populações, constituem, quando bem organizados, poderosos activos de sedução turística.

Na verdade, existem países onde as caminhadas são um genuíno património nacional, onde não existem ruelas, trilhos ou veredas sem a devida sinalética pedonal, indicando distâncias, tempos e graus de dificuldade, para além de um rigoroso mapeamento que ilustra bem a qualidade de planeamento de quem sabe - e quer - ser desenvolvido.

Não, não estou a falar de passadiços, que se tornaram um enjoo. Os passadiços são as rotundas dos novos tempos. Quem não tem qualquer ideia recorre à construção de mais uns passadiços. Ora, por metade do preço, delineavam, limpavam, sinalizavam e mantinham “camminus” pelo campo, pelos montes e pelas ruas das suas povoações.

Vem a talho de foice a divulgação na região da sinalização dos Caminhos de Santiago – muito pobrezinha, diga-se -, instrumento que comprova à saciedade a popularidade crescente do andar a pé – ou de bicicleta -, independentemente dos motivos que cada um tem para se por a caminho – sejam peregrinação, passeio, instrospecção, mística histórica ou simples desafio físico.

Acontece que na região – e no País - temos um fenómeno que se chama Fátima. Fenómeno esse que para mim é substância de Fé, mas que para muitos outros será apenas de análise sociológica ou cultural. Não obstante tais considerações analíticas, há muito que os autarcas da região já se deveriam ter entendido para planificarem e estruturarem sólidos trilhos e caminhos pedonais para Fátima, que eliminassem as estradas de alcatrão e obrigassem os peregrinos a caminhar pelo campo. Caminhos bem assinalados, limpos e mapeados.

Um dia, quando tal acontecer, começarão a juntar-se aos peregrinos muitos outros que, atraídos pela beleza do contexto bucólico ou patrimonial, pretenderão também experimentar caminhar até ao Santuário de Fátima. Tal como acontece com Santiago de Compostela.

Mas para isso é necessário, em primeiro lugar, que quem decida queira perceber o óbvio, ou seja, perceber a poderosa imagem de Fátima no mundo; e, em segundo lugar, queira então trabalhar esse gigantesco activo numa lógica, uma vez mais, inter-concelhia.

É tão simples que não dá para perceber tanta ingenuidade.

P.N.Pimenta Braz

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