O Vieira deu à (o) Costa…
Ao contrário do que para aí se ouve, o Chega é o sintoma de uma doença muito mais grave e contagiosa do que a COVID-19, mas não é a doença. A doença é a corrupção que se apoderou de todo o tecido social e de todas as instituições portuguesas, sendo as variantes PS e PSD as mais contagiosas
Devo começar por chamar a atenção de André Ventura que se quiser instaurar em Portugal uma ditadura das pessoas de bem vai ter de recorrer à imigração em massa, porque, em Portugal, não existe, neste momento, gente suficiente para garantir sequer o funcionamento do governo...
Há por aí muita gente que acha que o problema português é do sistema e que facilmente se resolvia com a importação dos modelos estrangeiros dos sistemas de saúde, de justiça, eleitoral, etc. etc. Acontece que, tal como no futebol, mais importante do que os sistemas é a qualidade e a seriedade dos intervenientes. Ou seja, não adianta mudar de tractor se o problema é do tractorista.
Todos conhecemos a letra da canção popular açoriana: "O Vieira deu ao Costa! Ai deu ao Costa e ao Medina também deu!"
Quando o primeiro-ministro e o presidente da câmara de Lisboa estiveram, recentemente, na comissão de HONRA de Luís Filipe Vieira, depois de terem pertencido à entourage de José Sócrates, das duas uma: ou são dotados de uma estupidez tal que os impede de ver o que estava à vista de toda a gente (o que nem um estúpido acredita), ou querem fazer de nós estúpidos, convencendo-nos de que não sabiam aquilo que todos não podiam deixar de saber. Ou seja, que dois mais dois são quatro.
Mas os culpados não são Sócrates, nem Vieira, mas quem os elegeu bem sabendo o que eles eram. Até porque Sócrates e Filipe Vieira, honra lhes seja feita, nunca fizeram sequer questão de esconder o que eram e ao que vinham.
Portugal (é bom não esquecer) já viveu a experiência de copiar uma lei alemã que se revelou um verdadeiro desastre quando foi aplicada no nosso país: o adiamento de audiências de julgamento com base no atestado médico. Na Alemanha, o número de audiências de julgamento com atestado médico era praticamente inexistente, enquanto em Portugal, os juízes lembravam-se sempre de marcar os julgamentos para o dia em que os arguidos estavam doentes. Que grande pontaria!
Como é bom de ver, isto só sucedia, porque toda a gente (juízes, advogados, procuradores, médicos, testemunhas e arguidos) se conformavam com um caso manifesto de corrupção. Mas esta é a verdade nua e crua: quem quiser trabalhar em Portugal não consegue sobreviver sem pactuar com alguns níveis de corrupção que estão tão generalizados que já fazem parte do dia a dia das putativas pessoas de bem. O português comum, quando se fala nos pequenos ilícitos, desvaloriza-os sempre, contrapondo-os com a grande criminalidade, que essa é que devia ser combatida e não os pequenos ilícitos.
Recordo que, em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social que veio a ser conhecida pela Teoria das Janelas Partidas e que tanto sucesso teve no combate à criminalidade em Nova Iorque. Da experiência levada a cabo pelo Prof. Zimbardo resultou a seguinte conclusão: uma comunidade condescendente com os pequenos ilícitos é o ecossistema perfeito para o desenvolvimento e a propagação da criminalidade, designadamente, da grande criminalidade. E Portugal é, precisamente, a comprovação prática da Teoria das Janelas Partidas.
Ao contrário do que para aí se ouve, o Chega é o sintoma de uma doença muito mais grave e contagiosa do que a COVID-19, mas não é a doença. A doença é a corrupção que se apoderou de todo o tecido social e de todas as instituições portuguesas, sendo as variantes PS e PSD as mais contagiosas e os principais veículos de transmissão do vírus.