Opinião | 10-09-2021 11:13

Vale mais um herói morto…

A máxima dos vermes e dos canalhas “mais vale um cobarde vivo do que um herói morto” encontrou no solo português as condições ideais para se reproduzir e frutificar. Por alguma razão, Portugal chegou ao nível de indigência a que chegou, onde a maioria das pessoas, em todas as vertentes da vida, apenas se preocupa em salvar a sua pele.

Não vai há muito anos, encontrava-me num bar repleto de gente, quando comecei a ouvir clientes a pedir, ansiosamente e em voz alta, para o dono do bar fechar a porta. E qual era o motivo? À porta do bar, um grupo de jovens de vinte anos, conhecido no meio por estes comportamentos, agredia dois emigrantes brasileiros com mais de cinquenta anos cada um. O bar, como disse, estava cheio, sobretudo de dezenas de homens novos. No entanto, só eu saí do bar em socorro das duas vítimas, enquanto o dono do bar me pedia, por amor de Deus, para não sair, enquanto fechava a porta nas minhas costas. Felizmente, quando me viram, os jovens reconheceram-me e suspenderam a agressão.

Como dizia Aristóteles, «a coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.» Mas, neste caso, não era preciso sequer ser muito corajoso, porque bastava terem saído comigo dez ou vinte dos homens que se encontravam no bar para que os jovens batessem em retirada, sem necessidade de qualquer um de nós correr qualquer risco.

Acontece que a máxima dos vermes e dos canalhas “mais vale um cobarde vivo do que um herói morto” encontrou no solo português as condições ideais para se reproduzir e frutificar. Por alguma razão, Portugal chegou ao nível de indigência a que chegou, onde a maioria das pessoas, em todas as vertentes da vida, apenas se preocupa em salvar a sua pele e os outros que se lixem.

Como todos sabemos, um crime tanto pode ser cometido por acção como por omissão. E quando dezenas de homens na flor da idade assistem passivamente à bárbara agressão de dois homens de 50 anos por um grupo de jovens delinquentes, sem fazerem rigorosamente nada, são também, forçosamente, agressores. Com uma agravante: para além de serem cúmplices na agressão, também acabam, com o seu comportamento, por pôr em risco a integridade física da sua família, dos seus amigos e deles próprios. Com efeito, quem assiste tranquilamente a uma tão violenta e desproporcionada agressão não espera certamente que, amanhã, alguém o defenda, a si ou aos seus, quando estiver em idêntica situação.

No fundo, isto apenas vem confirmar aquilo que disse há muitos anos Edmund Bürke: «o mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que o vêem fazer e deixam acontecer.»

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