Opinião | 24-09-2021 09:58

Contra Lisboa marchar, marchar

Portugal não é Lisboa. A concentração e centralização de serviços deveria ser acompanhada da deslocalização para o Algarve, o Alentejo, as Beiras e Trás-os-Montes, designadamente, de ministérios, secretarias de Estado, direcções-gerais, universidades públicas, quartéis, hospitais, tribunais superiores, a Presidência da República, etc. SOMOS TODOS PORTUGAL, ao contrário do que defende a Corte de Lisboa.

A argumentação dos juízes do Tribunal Constitucional para se oporem à deslocalização do Tribunal Constitucional para Coimbra tem, pelo menos, o mérito de não ser hipócrita. Portugal é Lisboa. Ponto final. Pelo que a transferência do Tribunal Constitucional para um terreno baldio onde apenas vive gente de terceira categoria e desqualificada, caso contrário residia e trabalhava em Lisboa, é obviamente desprestigiante.

Benfica e Sporting (os clubes de Portugal, como se auto-denominam) pensam e agem da mesma forma e são, de resto, os principais responsáveis pelo culto de vassalagem a Lisboa que existe na sociedade portuguesa. Infelizmente a vassalagem dos alentejanos, beirões, transmontanos e algarvios a Lisboa é aviltante. E, neste aspecto, partilho a opinião de Sartre: “Detesto as vítimas quando respeitam os seus carrascos.

Nos últimos vinte anos, assistimos, no interior do país, ao encerramento de tribunais, escolas, hospitais, centros de saúde, serviços públicos, etc., sem que os lisboetas vertessem uma lágrima pelos trabalhadores desses serviços e pelas empresas e populações dessas vilas e cidades que se foram esvaziando, pelo efeito de bola de neve que provocou nas frágeis economias locais.

No entanto, o argumento para justificar a concentração dos serviços está absolutamente correcto, quer do ponto de vista da racionalidade económica, quer do ponto de vista da racionalidade política, uma vez que somos um pequeno país de dez milhões de habitantes, com uma excelente rede de auto-estradas, internet, zoom, e-mails, faxes, smartphones, etc. pelo que, em 2021, a descentralização e o municipalismo deixaram de fazer sentido. Aliás, defender a regionalização e a descentralização num país com esta configuração é contribuir para acelerar ainda mais o processo de desertificação do território que, em breve, por este andar, estará reduzido apenas à região metropolitana de Lisboa.

Com efeito, o que o Algarve, o Alentejo, as Beiras e Trás-os-Montes precisam não é de multiplicar e aumentar o poder e as mordomias dos tiranetes locais, subservientes e lambe-botas do poder de Lisboa, como tão bem ressalta da campanha autárquica, mas de pessoas e de massa cinzenta. Ou seja, ninguém põe em questão nem a necessidade de reduzir custos, nem a impossibilidade de toda a gente ter um hospital, um tribunal ou uma escola à porta da sua casa. Agora não pode é ficar tudo à porta dos mesmos, ou seja, em Lisboa. E, se Portugal não é Lisboa, a concentração e centralização de serviços deveria ser acompanhada da deslocalização para o Algarve, o Alentejo, as Beiras e Trás-os-Montes, designadamente, de ministérios, secretarias de Estado, direcções-gerais, universidades públicas, quartéis, hospitais, tribunais superiores, a Presidência da República, etc. SOMOS TODOS PORTUGAL, ao contrário do que defende a Corte de Lisboa.

Além disso, Lisboa ficava mais descongestionada e a qualidade de vida dos funcionários públicos aumentava substancialmente, na medida em que ficavam criadas as condições para poderem ter, criar e educar tranquilamente os seus filhos. As cidades de província oferecem aos jovens pais tempo e condições para criarem os seus filhos que Lisboa não tem capacidade de oferecer.

Por outro lado, um simples ministério que, em Lisboa, só serve para atrapalhar o trânsito e aumentar a poluição, em qualquer cidade de província provocava um autêntico boom económico. Se o Governo quer, efectivamente, criar condições para haver um saudável crescimento económico, tem de esticar a Região de Lisboa a todo o território nacional e não continuar a reduzir Portugal à Região de Lisboa.

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