Opinião | 13-10-2021 10:00

A caça aos gambozinos e os tempos de pão e circo

A caça aos gambozinos e os tempos de pão e circo

Mordaz Manuel Serra d’Aire

O povo da Golegã demonstrou toda a sua sensibilidade e bondade ao dispensar o seu presidente de câmara de ter de cumprir mais quatro anos na cadeira do poder. Agora que a Covid parece estar a abrandar, o povo, que é quem mais ordena, decidiu que já não precisava do médico e xerife José Veiga Maltez para o proteger do vírus com medidas singulares mas extremamente eficazes, como a de proibição de entrada de forasteiros no território goleganense.

Secretamente, o autarca já devia estar farto daquela vida, ele que além de ser médico é também um entusiasta dos cavalos e das coisas boas da vida. Foi por isso que reagiu à derrota dizendo que sentia uma imensa tranquilidade. Pudera! Agora, em vez de se ter de preocupar com os buracos nas estradas, com as fugas de água ou com as contas do município pode fazer o que lhe der na real gana sem ter que prestar contas ao eleitorado. Deve ter sentido um alívio tão grande ao desobrigar-se das funções autárquicas como o que eu senti quando me tiraram as pedras dos rins.

O Chega chegou, viu e não venceu, mas ainda conseguiu uns lugares de vereação que vão com certeza dar que falar ao longo dos próximos quatro anos. Os candidatos no Entroncamento e em Santarém demonstraram na campanha ao que vêm e agora que têm assento na vereação a animação parece garantida. Eu aconselhava as autarquias a obrigarem à reserva prévia de lugares para o público nas reuniões de câmara, para evitar ajuntamentos de povo nas salas de sessões para assistir ao espectáculo.

Estou a escrever isto porque bem sei o que aconteceu em Santarém quando o escritor e comentador e ex-polícia Moita Flores ganhou as eleições para a câmara há uns bons anos. Toda a gente queria ver o homem de perto e só faltou pedirem-lhe autógrafos e arrancarem-lhe pêlos da barba para guardarem como relíquia. Além disso, havia sempre café e um lanchinho para a plebe aconchegar o estômago e muita gente não falhava ao encontro com os biscoitos e sandes mistas. Pão e circo, como no tempo dos romanos!

Infelizmente, para os mais comilões, a romaria político-gastronómica acabou-se depressa e hoje Moita Flores já é só uma memória difusa na cidade onde reinou. Memória que de vez em quando é refrescada pelas aparições televisivas na pele de comentador ou pelas notícias de processos judiciais em que o ex-autarca é visado. Tal como muitos imperadores que tiveram o mundo nas mãos também Moita caiu do pedestal...

Este ano os eleitores até tiveram mais uma hora para votar mas ficou claro que nem com essas manigâncias os apanham. A maioria dos eleitores portugueses é um bicho mais esquivo que os famosos gambozinos. Bem podem chamar por eles, gastarem dinheiro em campanhas de sensibilização, marcar as eleições para o Outono ou Inverno para não sentirem o apelo da praia, que eles ‘tá quieto ó mau’! Só há duas soluções para cativar essa turba abstinente: fazer eleições em dia de semana com falta justificada ao trabalho e/ou pagar-lhes uma senha de presença pelo voto. E mesmo assim não sei...

Saudações eleitorais do Serafim das Neves

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